Mosaico “Olhares curitibanos” exalta pontos turísticos de Curitiba
Yuri Casari, especial para a Pinó
05/10/2023 19:09
Em um quadro de seis metros quadrados, um mosaico feito a dezenas de mãos nos apresenta um resumo dos símbolos curitibanos. | Leo Flores
Muitos adjetivos podem ser mencionados ao pensarmos sobre qual palavra representaria Curitiba. Por um lado, podem surgir palavras negativas, afinal, como toda metrópole, a capital das araucárias também tem seus ‘problemas de cidade grande’. Por outro lado, porém, podemos notar uma identidade curitibana que nos orgulha e se reflete em hábitos, iguarias e símbolos, emanando para si mais de uma centena de elogiosos verbetes.
Ao andar pelas ruas revestidas de mosaicos portugueses e olhar entre os prédios, edificações e parques, sem dúvidas, não é difícil pensarmos na palavra ”monumental”. Passear por Curitiba é ter a certeza de se deparar com marcos artísticos e arquitetônicos, onde quer que você vá. Mas é preciso gastar muita sola de sapato para conhecê-los. Mas se a preguiça o pegar, a arte também é capaz de nos levar a muitos dos locais mais icônicos.
Uma obra com essa característica é o mosaico “Olhares curitibanos”, executado por alunos do Centro de Criatividade de Curitiba e coordenado pela mosaicista Patrícia Ono. Em um quadro de seis metros quadrados, os fragmentos de cerâmica guiam o espectador a um passeio por pontos da cidade que nos representam e deixam lembranças a qualquer visitante.
No canto superior esquerdo do quadro, com uma araucária ao fundo, aparece o imponente Teatro Guaíra. Caminhando pela mesma linha rumo à direita, a obra destaca a Torre Panorâmica das Mercês, as esculturas da Praça 19 de Dezembro, o próprio Centro de Criatividade, o Jardim Botânico, o Parque Tingui, o Teatro Paiol e a Catedral de Curitiba. Bem ao centro da peça, está o portal do Bosque Alemão. Na faixa inferior, são lembrados o Passeio Público e o magistral “olho” do Museu Oscar Niemeyer.
Um trabalho a muitas mãos
Na época da produção do mosaico, em meados de 2009, Patricia dava aulas da técnica mosaicista no Centro de Criatividade, localizado no Parque São Lourenço, no espaço onde hoje se encontra o Memorial Paranista. Em certo momento, surgiu a proposta de produzir um mosaico com dimensões maiores, como um presente para a capital. Desde o início, a ideia era que o trabalho contasse com a participação de todos os alunos.
O desenho ficou a cargo, então, de um dos alunos do grupo, o chargista Ademir Paixão, ilustrador de renome no cenário brasileiro. “Ele era meu aluno na época e até hoje faz mosaicos também. Nós conversamos, decidimos quais seriam os pontos turísticos representados, e definimos que não devia ser tão colorido, devia ser meio puxado para o sépia”, conta Patrícia.
Depois do desenho concluído por Ademir Paixão, Patrícia ficou responsável por coordenar como seria feita a execução do mosaico. “A partir do desenho, fizemos a plotagem, que é uma ampliação do desenho. Depois tem o andamento, que são os cortes que fazemos. Eu criei o andamento, para então passar para o pessoal. Fomos direcionando e cada um fez um pedaço”, detalha. Foram aproximadamente seis meses do início até a finalização da obra. A execução acontecia durante as aulas. “Cada vez que eles iam para a aula, faziam um pedaço. Esse foi o processo, como se fosse uma aula comum, mas ao invés de fazerem um mosaico individual, iam fazendo esse maior”.
Para a montagem do mosaico, foi optado pelo uso exclusivo de cerâmica. “Geralmente usamos mais de um tipo de material, como vidro, pedra, cerâmicas, azulejos. Dá para trabalhar com diversos tipos de materiais. Porém, pelo desenho ter sido feito com minúcia, muito cheio de detalhes, escolhemos apenas a cerâmica para não misturar muito os materiais. Quisemos deixar algo mais limpo, uma técnica mais limpa, para que o desenho se sobressaísse”, detalha a artista.
Além de Patrícia e Ademir, participaram da execução do mosaico outros doze alunos: Acir Prosdócimo, Adriana Smythe, André Reis (filho de Patrícia), Carmem Leal, Eliana Born Tenius, Fernanda Czelujinski, Fernando Varella, Jady Lorena Oliveira Kroska, Ivanete dos Santos, Marisa Marini Giacomini, Nezilda Vieira Holtman e Ruth Maciel Domingues.
A relevância da obra, de acordo com a mosaicista, ainda causa impactos. Para ela, o painel “Olhares curitibanos” criou uma importante janela de oportunidade na área. A partir dessa obra, muitas pessoas buscaram aprender a técnica ou encomendaram novas peças. “Foi uma abertura muito interessante, principalmente porque até hoje, como esse painel tem uma visibilidade boa, as pessoas têm uma referência de como é feito o mosaico”, destaca. Depois de quase dez anos exposto no Centro de Criatividade, a peça foi retirada para a construção do Memorial Paranista. Em 2021, o mosaico foi reinaugurado, dessa vez em uma das paredes do Memorial de Curitiba.
A artista
Patricia Ono é mosaicista há mais de vinte anos e, desde então, se dedica também à arte de ensinar as técnicas de mosaico para a Fundação Cultural de Curitiba e em seu ateliê particular, localizado no bairro Mercês. O início de sua trajetória com mosaicos se deu após uma experiência com outra prática artística. “Eu sempre tive essa veia artística e criativa, mas eu trabalhava com a fotografia. Eu precisei dar um tempo e acabei fazendo um curso de mosaico. Fui aluna e me apaixonei tanto que não voltei mais para a fotografia”, relembra. “Logo conheci o dono de uma loja de revestimentos, que na época focava mais em material para mosaicos. E logo que aprendi a fazer os mosaicos já comecei a trabalhar profissionalmente. Depois, pela experiência, comecei a ensinar pessoas”, relata.
A artista também é fundadora e coordenadora do Grupo Mosaico Curitibano e diretora do Núcleo de Mosaico da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Paraná. Além disso, foi responsável por criar o Encontro Nacional de Mosaicistas, um evento para artistas do segmento. Patrícia também realiza restaurações e tem trabalhado atualmente no projeto de um novo mosaico que deverá ser instalado na região do bairro São Francisco.