Mural “Rio Iguaçu”, de Rogério Dias, é um tributo ao maior rio do Paraná
Yuri Casari, especial para Pinó
19/06/2023 14:06
Da direita para a esquerda, a obra de Rogério Dias percorre o caminho do Rio Iguaçu, da nascente em Curitiba às Cataratas do Iguaçu. | Leo Flores/ Gazeta do Povo
Não é apenas a araucária, o pinhão e a gralha azul que simbolizam o Paraná. Existe um outro elemento comum entre boa parte dos paranaenses e que corta o território do estado quase de uma ponta à outra: o rio Iguaçu. Com sua nascente localizada em Curitiba, ao receber as águas dos rios Iraí e Atuba, o Iguaçu inicia sua jornada pelo mapa paranaense. Suas águas contornam a capital por São José dos Pinhais, passam por Araucária e se encaminham ao sul da região. Em suas margens, vão ficando para trás as cidades de Porto Amazonas, Cantagalo e São Mateus do Sul.
A partir deste trecho, recebe as águas do Rio Negro, e vai serpenteando por um pedaço do estado de Santa Catarina até se reencontrar com o Paraná em União da Vitória. Dali, o Iguaçu parte em direção ao extremo oeste, enfrentando novos terrenos, cheio de vales e quedas d’água, passando por usinas hidrelétricas até alcançar Foz do Iguaçu, em um dos mais belos espetáculos paranaenses, as Cataratas do Iguaçu. Por fim, deságua no rio Paraná.
A grandiosidade do Iguaçu, que segundo estudos mais recentes ultrapassa os 1300 km de extensão e chega a alcançar mais de um quilômetro de largura entre uma margem e outra, merecia uma homenagem igualmente monumental. Esse é o papel do mural “Rio Iguaçu”, criação de Rogério José de Moura e Dias, e que fica na praça de mesmo nome, em frente ao palácio do governo estadual. O painel, de quase 50 metros de extensão e mais de 4 metros de altura, com a pintura sendo reproduzida em azulejos, conta em cores e traços inconfundíveis um pouco da história do rio Iguaçu.
Em sua obra, Rogério Dias reproduz a diversidade da fauna e flora que acompanha o caudaloso movimento das águas do Iguaçu, do primeiro ao terceiro planalto paranaense. Também representa os indígenas que viviam ali e a expedição do espanhol Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, que em 1542 foi o primeiro conquistador europeu a alcançar as Cataratas. O mural, inaugurado em 1996, também traz uma inscrição com um breve trecho do relato de viagem da expedição dos europeus. O registro destaca a enormidade dos penhascos encontrados e o barulho intenso gerado pelas quedas e saltos que estão no caminho do Iguaçu.
A produção
Em meio a papéis, telas e tintas, Dias recebeu a reportagem da Pinó em seu ateliê na região central de Curitiba, ao lado da ex-esposa e companheira de carreira, Selma Albano. Mostrando os primeiros esboços, Dias conta que sua proposta inicial era que o painel fosse dividido de acordo com o número de cidades que o rio Iguaçu percorre. Cada pedaço do mural seria, então, produzido por um artista local. A ideia acabou não sendo aprovada.
A partir de então, Dias iniciou os esboços e fez estudos sobre a fauna e flora da região. Segundo Selma, houve na mesma época uma outra iniciativa independente do painel, uma exposição com informações sobre tudo o que cercava a história do Iguaçu. “Uma coisa não tinha nada a ver com a outra, mas de repente aquilo se encaixou. Todo o estudo que precisava ser feito para o painel estava ali”, conta.
Depois do desenho concluído, Dias aplicou as cores ao projeto junto de um amigo chamado Said. “A gente coloriu em uma madrugada. Chegou uma altura em que eu dormi e ele continuou”, relembra o artista. A execução do painel ficou a cargo do também artista plástico Lycio Esmanhoto. “Eu não acompanhei nada disso. A pessoa que ficou encarregada dos azulejos ficou de me avisar onde estava e quando seria, mas nunca me avisou. De repente estava pronto o painel. Mas foi feita com muita categoria, exatamente como estava no papel”, elogia, destacando que Esmanhoto reproduziu fielmente as cores do projeto original.
Sobre o artista
Rogério Dias é considerado um dos mais influentes artistas paranaenses da segunda metade do século XX. Nascido em Jacarezinho, no Norte Pioneiro, no ano de 1945, o artista tomou gosto pelo desenho e pela pintura ainda criança. Quando desembarcou em Curitiba, já nos anos 60, a carreira artística ganhou corpo. Além da pintura, Dias explorou a escultura, a colagem, o design gráfico, as artes cênicas, entre outras manifestações artísticas.
Uma característica central de sua obra é o protagonismo dos pássaros. Ainda jovem, o artista começou a esculpir pássaros em madeira. Mas houve uma criação que transformou de vez sua identidade artística. “Teve uma hora que eu comecei a lidar com tecido. A uma certa altura eu queria fazer padronagem. Eu pegava um padrão de tecido e repintava, o que eu chamei de repadronagem”, diz. Certa vez, Dias pintou passarinhos sobre o padrão anterior, algo que o agradou de imediato. “Aí eu fui aplicando no quadro, deu certo e o pessoal gostou”, resume. Atualmente, aos 78 anos, completados neste mês de junho, Dias segue produzindo, principalmente, quadros em tela. “A gente não para”, frisa o artista.