Na vertical
Uma das características mais marcantes de Curitiba é a interação com o meio ambiente. Referência nacional, a capital paranaense conta com mais de 40 espaços públicos entre parques e bosques, diversas ruas e avenidas amplamente arborizadas e até mesmo monumentos que aliam a estética da selva de pedra com a biodiversidade.
Nesta última classe, destaca-se o jardim vertical localizado no Largo Antônio Bordin, no cruzamento entre o trecho final da Avenida Padre Agostinho com a Rua General Mário Tourinho, próximo ao Parque Barigui. Ao passar pela via, também de grande relevância sob o aspecto viário, é difícil ficar indiferente ao totem de 12 metros de altura, repleto de plantas e uma silhueta rústica, com uma cor que inclusive remete à madeira.
Na parte interna da torre, que fica de frente para o intenso fluxo de automóveis da Padre Agostinho, foram plantadas mais de uma dezena de espécies. Elas estão fixadas em floreiras - uma a cada um metro aproximadamente, quase imperceptíveis em razão das folhas que as cercam. Circulando a torre, um espelho d’água completa a decoração e também serve como um tipo de proteção à obra, que já virou um referencial na região.
O jardim vertical foi inaugurado em 2008, quatro anos após a abertura do espaço público que homenageia Antônio Bordin, empresário gaúcho radicado no Paraná. Anos antes, o arquiteto Fernando Canalli foi o responsável por uma peça instalada na Avenida das Torres, no caminho para o Aeroporto Internacional. Pela experiência prévia bem sucedida, Canalli foi novamente convidado para criar algo à altura da região do largo. “Eu já estava pensando em desenvolver o que eu chamei de ‘torre da biodiversidade’, que seria uma vegetação associada a um monumento, e que pudesse ser uma espécie de refúgio para pássaros, insetos e pequenos animais”, detalha Canalli, que idealizou o conceito pensando em cidades que não possuíssem grandes áreas verdes.
Logo nos desenhos preliminares, o jardim se materializou exatamente como viria a ser constituído na prática, e então surgiu uma nova proposta da mente de Canalli. “Aquela peça da Av. das Torres é toda de concreto. Ficou com um manuseio muito pesado e deu um trabalho razoável para colocá-la de pé. Eu não queria mais passar por aquela experiência de dificuldade e propus para a engenharia que fizéssemos um misto de aço e concreto, como se fosse uma bolacha recheada”, explica.
A torre é composta por duas placas de aço corten e pelo miolo de concreto. A ideia de usar esses materiais dessa forma teve como objetivo solucionar desafios que o arquiteto havia enfrentado na ocasião anterior. Dessa forma, esperava-se reduzir o peso da peça e a necessidade de manutenção, melhorar o acabamento, além de aumentar a rapidez na execução e na montagem. “Montamos em uma madrugada, sem precisar interromper o trânsito na região”, relembra.
Para que o jardim vertical alcançasse seu objetivo de manter o espaço com vida, o posicionamento e mesmo o desenho da torre foram pensados para favorecer o bom desenvolvimento das plantas. “As duas placas estão voltadas com as costas para o Barigui, porque os ventos dominantes vem daquele lado, e também de costas para o norte, pois é onde há uma incidência de sol muito forte. Foi uma escolha que protegesse o máximo possível. E os vazados [foram feitos] para que a vegetação possa sair por eles, e também para ter mais ventilação”, encerra Canalli.
Arquiteto, urbanista e artista plástico, Fernando Canalli possui larga experiência em projetos urbanísticos e arquitetônicos em Curitiba, em outras cidades do Paraná e também em países como o México, Panamá, Holanda e Angola. Uma das características da carreira de Canalli é uma busca por integrar a estética e funcionalidade de uma obra com a biodiversidade local, como é o caso da “Torre da biodiversidade”. Recentemente foi um dos responsáveis pelo projeto do Memorial Paranista, que também foi capa de Pinó nesta temporada.
Na capa da décima edição de Pinó em 2022, novamente temos uma peça icônica da capital sob a perspectiva das lentes do fotógrafo Leo Flores. Para capturar a “Torre da biodiversidade”, o profissional objetivou destacar, em especial, o contraste do verde das folhagens e do marrom quase avermelhado das chapas que cobrem a torre. “A junção desses materiais apresenta uma estética bem bonita. A ideia foi aproximar o olhar para mostrar esse contraste mais de perto”, explica.
Leo executou as fotografias em dois momentos distintos. Em um primeiro momento, no meio da tarde, pegando os detalhes e também fazendo uso de uma lente grande angular para fotografar o contexto, com parte dos prédios que o circundam ao fundo. Depois, já no fim de tarde, finalizou o ensaio com um pôr do sol que apenas Curitiba tem a oferecer.
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