Na vertical

Torre da biodiversidade: arte, arquitetura e natureza se entrelaçam em monumento de Curitiba

Yuri Casari, especial para Pinó
18/10/2022 10:30
Uma das características mais marcantes de Curitiba é a interação com o meio ambiente. Referência nacional, a capital paranaense conta com mais de 40 espaços públicos entre parques e bosques, diversas ruas e avenidas amplamente arborizadas e até mesmo monumentos que aliam a estética da selva de pedra com a biodiversidade.
Nesta última classe, destaca-se o jardim vertical localizado no Largo Antônio Bordin, no cruzamento entre o trecho final da Avenida Padre Agostinho com a Rua General Mário Tourinho, próximo ao Parque Barigui. Ao passar pela via, também de grande relevância sob o aspecto viário, é difícil ficar indiferente ao totem de 12 metros de altura, repleto de plantas e uma silhueta rústica, com uma cor que inclusive remete à madeira.
Na parte interna da torre, que fica de frente para o intenso fluxo de automóveis da Padre Agostinho, foram plantadas mais de uma dezena de espécies. Elas estão fixadas em floreiras - uma a cada um metro aproximadamente, quase imperceptíveis em razão das folhas que as cercam. Circulando a torre, um espelho d’água completa a decoração e também serve como um tipo de proteção à obra, que já virou um referencial na região.

Concepção da torre

As luzes cênicas abrilhantam a torre durante o inconfundível<br>fim de tarde curitibano.
As luzes cênicas abrilhantam a torre durante o inconfundível
fim de tarde curitibano.
O jardim vertical foi inaugurado em 2008, quatro anos após a abertura do espaço público que homenageia Antônio Bordin, empresário gaúcho radicado no Paraná. Anos antes, o arquiteto Fernando Canalli foi o responsável por uma peça instalada na Avenida das Torres, no caminho para o Aeroporto Internacional. Pela experiência prévia bem sucedida, Canalli foi novamente convidado para criar algo à altura da região do largo. “Eu já estava pensando em desenvolver o que eu chamei de ‘torre da biodiversidade’, que seria uma vegetação associada a um monumento, e que pudesse ser uma espécie de refúgio para pássaros, insetos e pequenos animais”, detalha Canalli, que idealizou o conceito pensando em cidades que não possuíssem grandes áreas verdes.
Logo nos desenhos preliminares, o jardim se materializou exatamente como viria a ser constituído na prática, e então surgiu uma nova proposta da mente de Canalli. “Aquela peça da Av. das Torres é toda de concreto. Ficou com um manuseio muito pesado e deu um trabalho razoável para colocá-la de pé. Eu não queria mais passar por aquela experiência de dificuldade e propus para a engenharia que fizéssemos um misto de aço e concreto, como se fosse uma bolacha recheada”, explica.
A torre é composta por duas placas de aço corten e pelo miolo de concreto. A ideia de usar esses materiais dessa forma teve como objetivo solucionar desafios que o arquiteto havia enfrentado na ocasião anterior. Dessa forma, esperava-se reduzir o peso da peça e a necessidade de manutenção, melhorar o acabamento, além de aumentar a rapidez na execução e na montagem. “Montamos em uma madrugada, sem precisar interromper o trânsito na região”, relembra.
Para que o jardim vertical alcançasse seu objetivo de manter o espaço com vida, o posicionamento e mesmo o desenho da torre foram pensados para favorecer o bom desenvolvimento das plantas. “As duas placas estão voltadas com as costas para o Barigui, porque os ventos dominantes vem daquele lado, e também de costas para o norte, pois é onde há uma incidência de sol muito forte. Foi uma escolha que protegesse o máximo possível. E os vazados [foram feitos] para que a vegetação possa sair por eles, e também para ter mais ventilação”, encerra Canalli.

Sobre o autor

Arquiteto, urbanista e artista plástico, Fernando Canalli possui larga experiência em projetos urbanísticos e arquitetônicos em Curitiba, em outras cidades do Paraná e também em países como o México, Panamá, Holanda e Angola. Uma das características da carreira de Canalli é uma busca por integrar a estética e funcionalidade de uma obra com a biodiversidade local, como é o caso da “Torre da biodiversidade”. Recentemente foi um dos responsáveis pelo projeto do Memorial Paranista, que também foi capa de Pinó nesta temporada.

O olhar do fotógrafo 

Os cortes na peça de aço e concreto permitem que a natureza tome seu próprio rumo.
Os cortes na peça de aço e concreto permitem que a natureza tome seu próprio rumo.
Na capa da décima edição de Pinó em 2022, novamente temos uma peça icônica da capital sob a perspectiva das lentes do fotógrafo Leo Flores. Para capturar a “Torre da biodiversidade”, o profissional objetivou destacar, em especial, o contraste do verde das folhagens e do marrom quase avermelhado das chapas que cobrem a torre. “A junção desses materiais apresenta uma estética bem bonita. A ideia foi aproximar o olhar para mostrar esse contraste mais de perto”, explica.
Leo executou as fotografias em dois momentos distintos. Em um primeiro momento, no meio da tarde, pegando os detalhes e também fazendo uso de uma lente grande angular para fotografar o contexto, com parte dos prédios que o circundam ao fundo. Depois, já no fim de tarde, finalizou o ensaio com um pôr do sol que apenas Curitiba tem a oferecer.