Entre janeiro e Papai Noel

Versátil, Marco da Bandeira ostenta símbolo curitibano e engrandece circuito natalino local

Yuri Casari, especial para Pinó
30/11/2022 18:33
Thumbnail

A partir de um modelo matemático, Marco da Bandeira foi idealizado para ter formas diferentes de acordo com o ponto de vista do observador. | Leo Flores/ Gazeta do Povo

As ruas de Curitiba são representadas pelas incontáveis obras artísticas a céu aberto. Indissociáveis de nossa identidade cultural, estes símbolos também se tornam importantes pontos de referência, ajudando a nos localizar geograficamente pela capital paranaense. Dos tradicionais monumentos aos mais novos itens do patrimônio curitibano, como o “Largo da saúde” (capa da Pinó de agosto), no Centro, vamos redefinindo em nosso imaginário os logradouros a partir das artes neles expostas. Em Curitiba, também há lugares que desde sua concepção trazem esse propósito de serem referenciais. É o caso do Marco da Bandeira.
O belo símbolo tricolor e oitavado de Curitiba tremula em um mastro a quase 20 metros de altura, circundado por uma árvore estilizada que, ao final do ano, pode ser transformada em uma tradicional árvore natalina. Localizada no jardinete Heitor Gurgel do Amaral Valente Netto, na Rua General Mário Tourinho, no bairro Seminário, a peça foi criação da equipe do arquiteto Luiz Volpato, com a premissa de ser uma referência de identidade, de localização e de demonstração da potencialidade de uma parceria entre o público e o privado.
O início da transformação do jardinete no Marco da Bandeira teve início dois anos antes de sua inauguração oficial, com a inclusão do espaço no circuito natalino da cidade. No Natal de 2019, em parceria com uma empresa gestora de diversas concessionárias localizadas no entorno do local, a Prefeitura de Curitiba lançou a Bola de Natal dos Sonhos, de 15 metros de altura por 15 metros de diâmetro. O projeto do enfeite natalino, também feito pelo escritório de arquitetura de Volpato, foi concluído em 45 dias.
De acordo com o arquiteto, a ideia inicial para enfeitar o local, sugerida pelo prefeito Rafael Greca, era criar uma árvore de Natal. “Curitiba já tem tantas árvores natalinas, vamos fazer algo diferente”, sugeriu o arquiteto. “E aí surgiu o projeto da Bola de Natal, que foi um sucesso”, relembra. Passado o período festivo, a peça foi desmontada, mas houve uma nova sugestão vinda do chefe do Executivo municipal. “O prefeito havia comentado que gostaria muito de ter um pórtico de uma bandeira de Curitiba ali. Então, surgiu a ideia de fazer um elemento que fosse um mastro durante o ano e que pudesse ser iluminado e tomado por características natalinas no final de ano”, detalha.
A escultura foi pensada para evidenciar a bandeira de Curitiba e permitir uma integração com o Natal da cidade.
A escultura foi pensada para evidenciar a bandeira de Curitiba e permitir uma integração com o Natal da cidade.

A criação

A partir disso, Volpato e sua equipe começaram a pensar o futuro monumento, que também seria realizado em parceria com a mesma rede de concessionárias e o poder público. “Propomos uma solução que nós pudéssemos usar nossos recursos da melhor forma possível e que ele se transformasse em algo emblemático e, por que não, artístico”, conta. Durante as fases de criação, o projeto tinha como diretrizes buscar estratégias criativas para ostentar a bandeira curitibana, ter características que pudessem ser utilizadas no período de Natal e, ainda, ter baixo custo de produção e manutenção. O profissional explica que a concepção da obra foi coletiva. “Nosso escritório conta com 35 colaboradores, uma equipe multidisciplinar, e todos os projetos que saem daqui são muito trabalhados entre todos”, afirma.
A grande singularidade do Marco da Bandeira é o fato de que ela nunca é vista da mesma maneira. Isso acontece em razão de um modelo matemático chamado de parabolóide hiperbólico, usado no projeto da árvore estilizada. “São retas que dispostas em ângulos determinados acabam gerando várias formas. Ela vai mudando a forma a partir do ponto de observação”, explica Volpato.
O haste perpendicular ao chão mantém a bandeira hasteada e, logo abaixo dele, há um anel central, rodeado por uma rosa dos ventos em petit-pavé. No anel metálico estão registradas além das informações de praxe, como ano de criação e o nome das partes envolvidas na peça, a seguinte frase: “A orientação visual, cardeal ou intelectual é um instrumento relevante”. Segundo Volpato, além da questão de identidade remetida à bandeira e de posicionamento geográfico, o Marco da Bandeira é também um símbolo de sucesso. “Todo o pensamento está conectado à orientação. Um monumento por si só sempre se transforma em um ponto de orientação física. Um mastro com sua bandeira orienta posição geográfica e noções de identidade. A partir disso agregamos a rosa dos ventos para a orientação cardeal. A parceria público privada orienta o desenvolvimento de uma sociedade equilibrada”, detalha. “Tem várias coisas nessa obra sempre amparadas nessa participação de unir esforços em prol de um bem maior, que é o que a gente faz muito no escritório. Nós unimos forças e potenciais, sempre”, conclui.
Em 2021, o Marco da Bandeira recebeu um minicircuito natalino, com iluminação decorativa e pequenos espaços instagramáveis e, novamente, deve voltar a ser uma das atrações natalinas de Curitiba.