“Por que eu?” Conheça o escalador curitibano que está na série ‘The Climb’, da HBO Max
Patrícia Sankari, da Equipe Pinó
19/01/2023 19:31
No dia 12 de janeiro, a HBO Max estreou a série ‘The Climb’ - 'A Escalada', em português - reality que desafia dez escaladores amadores em uma série rigorosa de façanhas físicas e mentais nos lugares mais impressionantes do mundo. Cada episódio coloca os competidores diante de uma nova modalidade de escalada, desde Deep Water Solo sobre os penhascos de Maiorca, na Espanha, até escalada tradicional no arenito instável de Wadi Rum, na Jordânia. Com US$ 100 mil e o patrocínio da parceira de vestuário prAna em jogo, The Climb exibe algumas das encostas mais assustadoras da natureza, onde somente o melhor escalador amador chegará ao topo. Entre os 10 participantes, está o curitibano André Braga, mais conhecido como Deco, de 30 anos.
Nascido e criado na capital paranaense, o atleta, que ainda mora na cidade, começou a praticar escalada com 14 anos. “Um amigo me convidou para conhecer o Ginásio Campo Base, que, na época, era referência de escalada indoor no Brasil e se localizava no centro de Curitiba. Logo que comecei a escalar, me apaixonei”, explica. Sua evolução no esporte foi rápida, o que o levou às competições; Deco foi vice-campeão paranaense de escalada na categoria profissional logo nos primeiros anos de prática.
Por se deparar com um contexto pouco viável para continuar numa carreira profissional no esporte, Deco acabou se afastando das competições e buscou um trabalho mais associado à divulgação do esporte para audiências mais amplas do que para competição de alta performance. Em 2019, junto com dois sócios, abriu a Fábrica de Formas Design Ltda, a primeira empresa brasileira especializada em design de paredes de escalada, que tem o propósito de viabilizar projetos de escalada por todo o país.
Diante desse amor pelo esporte, no ano passado, ele se viu diante de uma oportunidade incrível: participar de um reality sobre escalada. Conversamos com exclusividade com Deco, que nos contou tudo sobre como foi parar nessa produção internacional e mais algumas curiosidades!
'The Climb', produção Max Original, foi criada pelo ator Jason Momoa, por meio de sua produtora On the Roam, por Chris Sharma, uma lenda do esporte, e a The Intelectual Property Corporation (IPC), parte da Sony Pictures Television.
Como foi o processo para entrar no reality?
A primeira vez que vi algo sobre o Reality TV foi num artigo do Blog de Escalada, que fazia a chamada para o processo de casting do programa, e que dizia que o processo era aberto a qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo. Normalmente, quando uma pessoa lê isso, nunca se imagina sendo escolhida, o que faz a maioria das pessoas nem tentar a inscrição. Eu, por estar desde 2009 tentando incessantemente a vida como atleta profissional de escalada, e por já ter me envolvido em outros processos de casting de outros programas de Reality TV, acabei pensando “o que eu tenho a perder?”. Assim, inseri meu nome e e-mail em um formulário online simples, que acabou desencadeando uma série de mensagens, ligações, entrevistas, testes e mais testes por cerca de 3 meses. Até que recebi a confirmação que passei na seleção que iria para a Espanha gravar o programa.
Chegando na Espanha, tudo parecia um sonho. Do Personal Assistent (Hernesto) me esperando no aeroporto com uma placa com meu nome, até aos hotéis 5 estrelas em que éramos acomodados ao chegar e partir de viagens internacionais. Realmente me pegou desprevenido tanta infraestrutura e tanta gente trabalhando na produção. Na Espanha, eram cerca de 300 profissionais na equipe, além dos 10 escaladores e dos apresentadores do programa. As gravações se estenderam de novembro de 2021 até fevereiro de 2022, com uma pausa de natal e ano novo para recarregar as energias, que pude voltar ao Brasil e reconectar com a família.
Qual foi o maior desafio para você?
Os desafios foram tantos que eu já nem sei por onde começar! Para o público leigo do esporte, pode-se pensar que o maior desafio eram, em si, as linhas de escalada escolhidas para a competição. Mas, pro nosso grupo de escaladores que tinha pouca experiência com exposição e competição, o maior desafio de todos foi o mental. Afinal, toda vez que íamos escalar, existiam cerca de 10 câmeras apontadas pra gente a todo momento, de todos os lados, e ainda tínhamos que lidar com os comentários dos apresentadores, que eram feitos durante a nossa escalada (para garantir a autenticidade dos comentários), mas que atrapalhavam bastante a nossa concentração. Imagine você competindo, escalando sabendo que milhões de pessoas iriam ver aquilo, enquanto o seu ídolo fala “ele parece um pouco nervoso nessa seção”. Bom, eu estava nervoso. Todos estávamos. E foi só com o apoio dos demais escaladores que realmente conseguimos focar e performar durante as provas e desafios.
Então, o maior desafio foi mental. É difícil fugir da síndrome do impostor quando se é selecionado para participar de algo histórico. Mesmo conhecendo minha história na escalada, minhas contribuições para o esporte e para a minha comunidade, seja como pessoa pública ou agora com a minha empresa Fábrica de Formas, e mesmo sabendo que eu tenho um nível de performance que me permitia estar ali e competir com aqueles escaladores, ainda é muito difícil contornar a pergunta: “Por que eu?”.
A sorte que eu tive foi dos 10 escaladores do programa terem virado uma família já logo de cara no primeiro episódio, e que a maioria das pessoas ali também passavam pelo mesmo questionamento mental. O suporte que tive desse grupo foi tanto que hoje é impossível pensar em ter lidado com todo o stress do programa sem essa base de apoio. E o engraçado é que ela representa muito bem a comunidade desse esporte lindo que é a escalada, e todo o suporte que estamos acostumados a dar uns aos outros no nosso dia a dia. Ver que a comunidade se comporta da mesma forma, mesmo diante de todo o stress que estávamos passando ali, foi sensacional, e imprescindível para que o grupo pudesse, de fato, dar o seu melhor.
Teve algum momento que foi mais marcante para você?
Tiveram vários! Mas, dos episódios que já estão no ar, eu diria que a atitude da April, a única competidora do grupo com mais de 40 anos - ela tinha 53 anos - diante da escalada de Deep Water Solo (em cima do mar) foi uma das cenas mais inspiradoras e sensacionais que já vi em toda a minha vida. Para dar um pouco de contexto, a April era atleta de competição nos anos 90, parou de escalar por 15 anos, e voltou pouco antes de ser convidada a participar do 'The Climb'. Mesmo confessando que não sabia porque tinha sido selecionada, ela proporcionou a cena mais inspiradora de todo o primeiro episódio, e fez isso gritando, sorrindo, feliz, e se divertindo, mesmo diante de algo que, pra ela, era superamedrontador. Foi algo muito lindo de ver, e tenho certeza que ela vai inspirar milhares de pessoas no mundo todo a conhecerem ou retornarem para esse esporte maravilhoso.
Os apresentadores são Jason Momoa, conhecido por fazer o Aquaman, e Chris Sharma, escalador norte-americano considerado um dos maiores e mais influentes da história do esporte. Como foi seu contato com eles?
Bom, pode parecer uma bela surpresa pra todos, mas eu não conheci o Jason Momoa! Ele, como ator superfamoso, tem uma agenda muito corrida, e não conseguiu conciliar as filmagens do programa com o seu cronograma, e acabou gravando separado dos escaladores. Me parece ser uma pessoa bem legal, mas realmente não tive a oportunidade de conhecê-lo. Já o Chris Sharma estava com a gente desde o primeiro dia, e víamos ele praticamente todos os dias, com conversas na frente das câmeras, conversas a sós, conselhos e tudo mais. Desde 2007 eu escalo, e desde 2009 eu tenho um pôster do Chris no meu quarto. Então, pode-se dizer que essa interação toda foi um milhão de vezes melhor pra mim do que qualquer possível encontro com o Jason Momoa. Até hoje eu não consigo me acostumar com o Chris curtindo meus posts, compartilhando meus stories e interagindo comigo nas redes sociais. Toda vez parece um sonho, e toda vez eu faço um print da interação. Posso dizer que realizei o sonho do Deco que se apaixonou pela escalada depois de assistir King Lines, provavelmente o filme mais icônico de escalada da carreira do Sharma.