Prevenção de quedas: especialista orienta como cuidar e evitar acidentes
Bruno Raphael Müller
24/06/2025 12:26
Nesta terça (24), é o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, um momento para ligar o sinal de alerta a um problema bem sério entre as pessoas de mais idade. De acordo com o DATASUS, aproximadamente 30% dos idosos sofrem ao menos uma queda por ano, índice que atinge 50% entre aqueles com mais de 80 anos. As consequências vão além de um simples escorregão, impactando fisicamente, com fraturas em fêmur, quadril e punho, além de traumatismos cranianos.
A fisioterapeuta Fernanda Cury Martins Teigão, especialista em Gerontologia pela SBGG e ABRAFIGE, e mestre em Tecnologia da Saúde pela PUCPR, destaca a relevância desta data para a conscientização. "O dia é uma forma de conscientizar a população sobre as causas das quedas e, mais importante, sobre as medidas preventivas que podem ser adotadas", afirma. Ela ressalta, entretanto, que muitas quedas são evitáveis com ajustes simples no ambiente e no estilo de vida.
Prevenção pode evitar cirurgias e internações
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atua para tornar a prevenção de quedas uma prioridade de saúde pública, oferecendo diretrizes, campanhas e incentivando políticas específicas. A organização busca orientar profissionais e comunidades, como detalhado no relatório "WHO Global report on falls Prevention in older Age", para identificar riscos e adaptar ambientes, visando maior segurança e independência para os idosos.
As consequências físicas das quedas podem exigir cirurgias, longos períodos de internação e recuperação, levando à imobilização prolongada, o que compromete a força muscular e o equilíbrio, criando um ciclo de fragilidade e maior vulnerabilidade a novas quedas. Psicologicamente, a síndrome pós-queda, um medo intenso de cair novamente, é uma sequela comum. "Esse medo leva o idoso a restringir suas atividades, resultando em isolamento social", explica Fernanda. Esse isolamento, somado à inatividade, pode precipitar quadros de depressão e ansiedade, impactando a qualidade de vida e o bem-estar emocional e social.
Paraná teve mais de 30 mil atendimentos por queda em um ano
O aumento das internações hospitalares por quedas entre pessoas com mais de 60 anos no Paraná, conforme dados do DATASUS, representa um desafio para a saúde pública local. Em 2023, foram registrados cerca de 30 mil atendimentos por quedas no estado, e só nos primeiros seis meses de 2024 mais de 12 mil casos foram atendidos pelo SAMU, SIATE e atenção primária.
"Esse cenário gera uma grave sobrecarga para o sistema público de saúde", pontua a fisioterapeuta. O custo das internações por quedas no Brasil ultrapassou R$ 2,3 bilhões entre 2000 e 2020. A situação é agravada pela progressão demográfica, com cerca de 1,9 milhão de idosos no Paraná, muitos com comorbidades, osteoporose, déficit visual e fraqueza muscular, que os tornam vulneráveis.
Calçados adequados, andadores e bengalas para prevenir acidentes
Fernanda é fisioterapeuta do Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, em Curitiba. Crédito: acervo pessoal.
Como fisioterapeuta do Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, em Curitiba, que acolhe 120 residentes, Fernanda detalha as ações implementadas. "Nossa prioridade é garantir a segurança e a acessibilidade de todos", afirma. A equipe multidisciplinar realiza avaliações físicas regulares por meio de testes padronizados, que quantificam o nível de força muscular e do equilíbrio do idoso e, consequentemente, seu risco de quedas. Com base nos resultados, são conduzidas sessões de fisioterapia com programas individualizados. Orientações sobre o uso de calçados adequados e dispositivos de auxílio à marcha, como bengalas e andadores, também são fornecidas.
No ambiente físico, a instituição tem buscado melhorias como pisos antiderrapantes, barras de apoio nos banheiros e corrimãos em todas as áreas necessárias. Tapetes escorregadios são removidos para eliminar obstáculos. A educação continuada dos colaboradores, com palestras e vivências práticas, capacita a equipe a identificar proativamente os riscos e prestar um cuidado humanizado.
A prevenção de quedas é crucial para a autonomia e independência na velhice. Teigão diferencia os termos: "Autonomia é a capacidade da pessoa de tomar decisões e ter controle sobre a própria vida e suas escolhas, mesmo quando precisa de auxílio para realizá-las". Já a independência "refere-se à capacidade de uma pessoa realizar atividades diárias por conta própria, sem a ajuda de outras pessoas". Pequenas mudanças no ambiente e maior atenção no dia a dia são decisivas. "Muitas vezes, mudanças simples no ambiente e maior atenção às atividades do dia a dia fazem toda a diferença para reduzir esse risco", destaca a especialista.
Família tem papel de cuidar do idoso para evitar situações de risco
Proteger a terceira idade é uma responsabilidade coletiva que envolve familiares, cuidadores e a sociedade. Familiares e cuidadores são centrais na garantia de um ambiente doméstico seguro, verificando a ausência de objetos que possam causar tropeços, evitando tapetes soltos e garantindo iluminação adequada. A escolha de revestimentos antiderrapantes e o incentivo à prática de atividades físicas supervisionadas são importantes. A sociedade deve proporcionar espaços públicos acessíveis, com calçadas regulares, rampas e iluminação adequada. Instituições e serviços de saúde, por sua vez, devem assegurar atendimento especializado e promover ações de conscientização.
Para a população em geral, especialmente familiares de idosos em Curitiba e no Paraná, algumas orientações práticas podem criar ambientes mais seguros. O clima úmido e chuvoso da região aumenta o risco de superfícies escorregadias, exigindo verificação periódica de calçadas, rampas e degraus.
5 principais cuidados para prevenir quedas:
Remover tapetes soltos e fios elétricos expostos.
Garantir iluminação adequada, especialmente em áreas de passagem noturna.
Instalar barras de apoio em banheiros e corrimãos em escadas.
Incentivar a prática regular de atividades físicas para melhorar equilíbrio e força.
Utilizar calçados fechados e antiderrapantes, evitando andar descalço.