Saúde

A incontinência urinária não precisa ser tabu

Por Daliane Nogueira, Content Store
29/03/2023 17:00
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Mulheres que buscam qualidade de vida e longevidade precisam prestar atenção nessa dica: mantenha a saúde do seu períneo. Essa área, que fica entre a vulva e o ânus, contém uma rede complexa de músculos, tecidos e nervos cruciais para o suporte e a função dos órgãos pélvicos, como a bexiga, o útero e o reto.
É essa região fortalecida que garante a prevenção da incontinência urinária, a perda involuntária de urina, que pode acometer uma a cada três mulheres em algum momento da vida adulta, de acordo com Urology Care Foundation.
A incontinência urinária é entendida quando a mulher não está com urgência miccional (vontade de ir ao banheiro), mas tem episódios de perda urinária. “Essa perda involuntária pode acontecer com esforços pequenos, médios ou grandes. Para dar exemplos de cada caso, podemos pensar em perda urinária com uma tosse (esforço pequeno), ao pegar uma criança do chão (esforço médio) ou ao pular em uma cama elástica (esforço grande)”, explica Antonio Paulo Mallmann, médico ginecologista e obstetra e professor no curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
O médico reforça que qualquer perda involuntária deve ser investigada, para antecipar o tratamento e evitar a progressão. Entre os principais fatores que levam ao aparecimento da condição estão a menopausa; a gravidez e parto normal sem assistência correta; o sobrepeso ou obesidade e até mesmo o tabagismo, pois fumar pode enfraquecer a musculatura do assoalho pélvico.
“A faixa de idade em que há mais queixas de perdas involuntárias de urina é entre os 45 e 60 anos, o que coincide com a entrada na menopausa e a diminuição da produção de estrogênio, hormônio que faz o enrijecimento da musculatura do períneo, responsável por sustentar a bexiga. Ao não produzir mais esse hormônio, essa musculatura relaxa, afrouxa e a bexiga caí, levando a perda de urina”, pontua Mallmann.
Não é incomum ler informações afirmando que o parto normal contribui para a incontinência. No entanto, o obstetra alerta que não se trata de uma relação direta. “Pode acontecer um acometimento maior do períneo em partos em que haja mais força e especialmente quando a assistência para a parturiente é inadequada.” Mas controlar o peso durante a gravidez e fazer exercícios para o assoalho pélvico, auxiliarão bastante a recuperação da musculatura pós-parto.

Prevenção é melhor tratamento

Voltando à dica do começo desse texto, a saúde e fortalecimento do períneo são a chave para evitar a incontinência urinária. Sendo assim, é importante criar como um 'banco de musculatura' no assoalho pélvico. “O padrão ouro para tratamento e prevenção da incontinência urinária é a fisioterapia pélvica. Em alguns casos é preciso fortalecer, em outros é necessário relaxar, quando o músculo da região é muito fechado", explica Maria Augusta Nascimento Heim, fisioterapeuta especialista em saúde da mulher e doutoranda em Tocoginecologia pela Unicamp.
Além disso, é recomendável controlar o peso, evitando que o acúmulo da gordura abdominal sobreponha a bexiga; hidratar-se bem para manter o trato urinário saudável; e melhorar a postura. Todos esses fatores que vão ajudar a manter a angulação da bexiga.
Os profissionais ressaltam, ainda, que um períneo saudável auxilia em uma vida sexualmente ativa e de qualidade na maturidade.  “É um assunto íntimo e quase sempre cercado de tabus. Muitas pacientes preferem não falar. Mas é preciso ter um médico de sua confiança para buscar ajuda e não deixar que isso progrida e lá na velhice comprometa a qualidade de vida. E a incontinência urinária acaba por favorecer as infecções de repetição, que podem render quadros mais graves para a saúde”,  aconselha Mallmann.
Importante ressaltar que em casos mais graves, quando a bexiga desangulou em mais de 30 graus, existe a recomendação cirúrgica. “É um procedimento pouco invasivo, no qual se coloca a bexiga novamente no ângulo e incluí-se uma ‘redinha’ de contenção, uma fita sintética que vai evitar um novo movimento”, detalha o médico. Há ainda a possibilidade de prescrição de medicamentos que ajudam a controlar a perda de urina.
A incontinência urinária, nos casos mais avançados, acarreta isolamento social, perda de autoestima e pode até levar à depressão. Muitos idosos evitam o convívio familiar pelo inconveniente dos escapes de urina e mesmo mulheres mais jovens deixam de sair de casa por conta da urgência para urinar.

Dicas de exercícios para o assoalho pélvico

Pilates é uma das alternativas para prevenção e tratamento da incontinência urinária. A postura da ponte promove fortalecimento do períneo e do abdômen.
Pilates é uma das alternativas para prevenção e tratamento da incontinência urinária. A postura da ponte promove fortalecimento do períneo e do abdômen.
Pinó selecionou com o ginecologista Antonio Paulo Mallmann, com a fisioterapeuta Maria Augusta Heim e nos estudos do Urology Care Foundation dicas valorosas e tipos de exercícios (alguns que podem ser feitos em casa) para fortalecer o assoalho pélvico e prevenir a incontinência urinária.
  • Antes de mais nada, Maria Augusta recomenda que a mulher conheça seu corpo. O simples movimento de contrair e soltar o músculo pélvico é importante nesse processo. "Recomendo que se pegue um espelho para olhar esse movimento, sem julgamentos, mas para conhecer o funcionamento do corpo."
  • Exercícios de Kegel: são exercícios que envolvem a contração dos músculos do assoalho pélvico. Eles ajudam a fortalecer os músculos que controlam a micção e a aumentar o controle da bexiga. Para fazer o exercício, contraia os músculos do assoalho pélvico por 10 segundos e, em seguida, relaxe por 10 segundos. Repita por 10 vezes.
  • Exercícios de fortalecimento abdominal: ajudam a fortalecer os músculos abdominais e do assoalho pélvico. Esses exercícios podem ser úteis para pacientes com incontinência urinária de esforço, que ocorre quando a pressão abdominal aumenta repentinamente, como ao tossir ou espirrar. Exemplos de exercícios incluem prancha e abdominais.
  • Yoga: várias posturas da prática milenar promovem o trabalho da região pélvica e abdominal. Aprende-se a controlar a respiração durante os exercícios, auxiliando na manutenção da contração dos músculos do assoalho pélvico. Além disso, com a recorrência na atividade, ganha-se consciência corporal, e uma postura melhor.
  • Pilates: um instrutor familiarizado com a condição vai incluir exercícios específicos, pensando nos benefícios e no baixo impacto sobre os músculos já fadigados. Alguns movimentos são bastante importantes como a ponte (elevação do quadril mantendo as costas apoiadas no chão; pode ser feita com a bola) e o pássaro cão (um joelho e uma mão apoiados no chão e o outro joelho e mãos esticados).
  • Treinamento da bexiga: envolve o estabelecimento de um cronograma para ir ao banheiro. O objetivo é treinar a bexiga para armazenar urina por períodos mais longos e para diminuir a frequência de micções.
  • Exercícios de alongamento: envolvem o alongamento dos músculos do assoalho pélvico e podem ajudar a aliviar a pressão sobre a bexiga.
  • É sempre recomendado consultar o médico e um fisioterapeuta para receber um diagnóstico preciso e um tratamento adequado. O fisioterapeuta pode avaliar a paciente e criar um programa de exercícios personalizado para atender necessidades específicas.