Saúde e Bem-Estar

A técnica de Mindful Eating transforma a relação com a comida

Mariana Pivatto, especial para a Pinó
21/07/2023 16:27
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Na era da correria e das distrações constantes, encontrar tempo para apreciar as refeições verdadeiramente pode parecer um desafio. No entanto, um conceito está ganhando cada vez mais atenção e mudando a forma como nos conectamos com a comida: o Mindful Eating ou alimentação consciente. Essa prática, baseada na atenção plena, tem o potencial de transformar nossa relação com a comida, promovendo uma alimentação mais saudável e equilibrada.
Segundo a nutricionista e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente Carolina Belomo de Souza, Mindful Eating é muito mais do que uma dieta ou uma restrição alimentar. Trata-se de outra visão sobre a comida, uma abordagem que permite aumentarmos nossa consciência em relação aos nossos pensamentos, sentimentos, emoções e sensações que estão relacionados com a alimentação e com o corpo.
“O Mindful Eating é muito mais do que uma dieta ou uma restrição alimentar. Trata-se de outra visão sobre a comida, que amplia nossa consciência em relação aos nossos pensamentos, sentimentos, emoções e sensações relacionados à alimentação e ao corpo.”
Carolina Belomo de Souza, nutricionista e autora do livro “O Básico que Funciona: adquira consciência alimentar e um estilo de vida saudável com base no Mindful Eating.”
“É ser e estar consciente de como e por que comemos. Desde como o alimento é colocado à nossa frente, bem como cada comportamento que emitimos enquanto comemos, o que pensamos e o que sentimos durante esse processo”, explica a autora do livro “O Básico que Funciona: adquira consciência alimentar e um estilo de vida saudável com base no Mindful Eating”, da Editora Dialética.

Consciência na alimentação

Adriana Cancelier, psicóloga clínica e especialista em transtornos alimentares e emagrecimento, explica que a prática ajuda a evitar comer por impulso emocional ou por hábito e aumenta a consciência em relação à alimentação e emoções, levando a identificação de gatilhos que levam a comer em excesso.
“É importante lembrar que se você estiver utilizando a comida para preencher lacunas, para lidar com situações ou para anestesiar suas emoções, a prática do Mindful Eating pode exigir um pouco mais de paciência. Talvez comer seja a única forma que você encontrou para lidar com tudo isso”, explica a psicóloga.
De acordo com Adriana, a terapia aliada ao atendimento de nutricionista pode auxiliar muito nesse processo. “Se seus sentimentos não fossem complexos, dolorosos ou até mesmo assustadores, você não teria buscado comida como forma de alívio. Pode ser que você sinta que está perdendo sua capa protetora em relação às suas emoções quando você tentar desacelerar. Seja gentil com você mesma e tenha autocompaixão”, acrescenta a especialista.

Como inserir no dia a dia? 

Comer apenas quando sente fome e parar de comer quando está saciado é uma das mais importantes estratégias para quem deseja manter o peso saudável, de acordo com a nutricionista e especialista em Mindful Eating pelo The Center of Mindful Eating Amanda Moro.
“Esteja presente nas suas emoções e investigue se você realmente está com fome ou é alguma outra emoção, sentimento ou algo que seu corpo precise de fora. Ao invés de comer rápido, pare, respire fundo e se pergunte: vale a pena? É o que realmente quero? Você pode perceber que talvez esteja com sede, com vontade de se alongar ou descansar”, diz Amanda.
“A prática ajuda a evitar comer por impulso emocional ou por hábito, levando à identificação de gatilhos que levam a comer em excesso.”
Adriana Cancelier, psicóloga clínica e especialista em transtornos alimentares e emagrecimento.

Na prática

Confira dicas para inserir o Mindful Eating na sua rotina e cultivar uma relação mais consciente, prazerosa e saudável com a comida.
  •  Esteja presente: desfrute da refeição sem distrações, concentrando-se totalmente na comida.
  • Coma devagar: mastigue cada mordida com atenção, apreciando os sabores e texturas dos alimentos.
  • Ouça seu corpo: esteja atento aos sinais de fome e saciedade que seu corpo envia.
  • Conecte-se com sua comida: aprecie os ingredientes e aromas, identifique os sabores individuais dos alimentos durante as refeições.
  • Esteja consciente de suas emoções: observe se está comendo por fome física ou por emoções negativas, buscando alternativas saudáveis para lidar com essas emoções.
  • Elimine a culpa: abandone o julgamento dos alimentos e pratique a aceitação e o equilíbrio.
  • Comece com pequenos passos: incorpore momentos de atenção plena nas refeições gradualmente.

Você tem fome de quê?

Para abordar de maneira mais consciente a nossa fome, podemos nos basear na classificação sobre os tipos de fome proposta pela Dra. Jan Chozen Bays, uma pediatra e monja que possui décadas de experiência em Mindful Eating.
  • Fome visual: é despertada ao ver algo atraente para comer ou uma apresentação bonita do alimento. É comumente estimulada em programas de culinária, na mídia e na publicidade.
  • Fome olfativa: sentir o aroma dos alimentos é essencial para estimular o apetite e a vontade de comer. Acontece quando você, mesmo tendo acabado de almoçar, come um bolo por sentir o cheiro dele assando.
  • Fome da boca: é determinada pelo sabor dos alimentos, sendo influenciada por fatores genéticos, ambientais, culturais e familiares. O que é agradável para uma pessoa pode não ser para outra.
  • Fome do tato: sentimos os alimentos também pela textura, peso e temperatura. Comer uma coxa de frango com as mãos é diferente do que com talheres, não é?
  • Fome do ouvido: pode ocorrer com alimentos crocantes, como pipoca, amendoins, salgadinhos, pepinos, cenouras cruas. Quando consumidos no “piloto automático”, dificultam a percepção de saciedade.
  • Fome do estômago: é a sensação de desconforto na região abdominal, como vazio, dor, sensação de buraco ou gosto ruim na boca.
  • Fome celular: é a nossa capacidade de responder aos sinais internos de fome, saciedade e às necessidades específicas de nutrientes. Influências externas, como dietas restritivas com horários e cardápios fixos, podem afetar negativamente a percepção dessa fome.
  • Fome da mente: está ligada às nossas crenças, mentalidade de dieta, regras e padrões estabelecidos em relação à comida e nutrição. Nossos pensamentos sobre afetam a maneira como comemos, e muitas vezes ignoramos, criticamos e não atendemos às nossas sensações internas de fome sem sentir culpa.
  • Fome emocional: ocorre quando comemos em resposta ao nosso estado emocional, como cansaço, falta de sono, ansiedade, depressão, angústia ou alegria intensa. É uma forma de compensar sentimentos e aliviar a tensão.