Saúde e Bem-Estar

Envelhecimento da população destaca prevenção do Alzheimer

Mariana Pivatto, especial para a Pinó
17/07/2023 22:14
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Envelhecer é inevitável, mas é possível passar por esse processo de maneira saudável, mantendo a independência e preservando a capacidade mental. E isso, conforme amplo respaldo da ciência, está intrinsecamente ligado ao estilo de vida adotado ao longo dos anos.
No entanto, conversar sobre a doença Alzheimer ainda é tabu, mas não deveria ser. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que atualmente existam cerca de 50 milhões de pessoas tenham alguma forma de demência no mundo, e o Alzheimer representa aproximadamente entre 60 e 70% dos casos totais. Isso se deve principalmente ao aumento do envelhecimento da população.
O neurologista e doutor em Medicina Interna Carlos Henrique Ferreira Camargo explica que o Alzheimer causa alterações cognitivas e comportamentais que afetam as atividades de vida diária dos pacientes e acomete principalmente idosos. A perda de memória é o sintoma mais conhecido, mas a doença também afeta a linguagem, a percepção visual-espacial e a função executora, além de causar alterações comportamentais.
“A doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa complexa, que evolui lentamente por um período assintomático. Por isso, raramente a doença inicia-se antes dos 60 anos.”
Dr. Carlos Henrique Ferreira Camargo, neurologista.
“Suas causas são multifatoriais, envolvendo fatores genéticos e ambientais. O acúmulo de placas amiloides e emaranhados neurofibrilares no cérebro é um dos principais mecanismos da doença, mas outras hipóteses, como a neuroinflamação, também são consideradas”, explica o membro da Academia Brasileira de Neurologia e da American Academy of Neurology (FAAN).
O médico esclarece ainda que o Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa complexa, que evolui lentamente por um período assintomático, depois por perdas leves de memória, até chegar nos quadros iniciais com alterações de memória, de linguagem e motoras associadas às alterações de comportamento que levam a prejuízo das atividades diárias. Por isso, raramente a doença inicia-se antes dos 60 anos.

O diagnóstico precoce 

Atualmente, o diagnóstico da doença de Alzheimer é clínico, mas há pesquisas em andamento para o desenvolvimento de biomarcadores que podem antecipar o conhecimento da patologia. Segundo o Dr. Carlos, os exames detectam no sangue ou no líquido cefalorraquidiano indícios do início da doença, permitindo que o tratamento seja feito nos primeiros sinais, ou até mesmo antes deles.
“Exames de neuroimagem funcional, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET), também podem ser úteis no diagnóstico, embora atualmente estejam disponíveis apenas para avaliar o acúmulo de placas amiloides. Em um futuro próximo, espera-se que esses exames estejam mais acessíveis e aprimorados”, conta o neurologista.
Sobre esse assunto, a geriatra cooperada da Unimed Curitiba e diretora de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia secional Paraná, Débora Lopes, explica que tais análises podem identificar o Alzheimer até 10 anos antes dos sintomas aparecerem. No entanto, além desses exames não estarem amplamente disponíveis, existem controvérsias sobre sua utilização.
Ela conta que, atualmente, não há um tratamento específico para deter a progressão do Alzheimer. Por esse motivo, o diagnóstico tão precoce pode causar ansiedade no paciente, uma vez que não há medidas concretas a serem tomadas.
“Felizmente, estão sendo realizadas várias pesquisas com diferentes medicamentos que possuem efeitos sintomáticos e melhoram a cognição, o comportamento e a qualidade de vida”, destaca a chefe do serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da UFPR.

Prevenção é sempre melhor

Adotar um modo de vida saudável e estar atento aos elementos de risco pode postergar ou até mesmo evitar o surgimento da enfermidade.
Adotar um modo de vida saudável e estar atento aos elementos de risco pode postergar ou até mesmo evitar o surgimento da enfermidade.
A prevenção desempenha um papel crucial no combate ao Alzheimer, uma vez que adotar um modo de vida saudável e estar atento aos elementos de risco pode postergar ou até mesmo evitar o surgimento dessa enfermidade. Abster-se do tabagismo, do consumo excessivo de álcool, do desenvolvimento da obesidade e da hipertensão está diretamente relacionado à diminuição das chances de desenvolver o Alzheimer.
A Dra. Débora conta que outro fator relevante que vem aparecendo nos estudos mais recentes é a associação do Alzheimer com a perda auditiva. “Percebe-se que a dificuldade de audição pode afetar negativamente o cérebro, uma vez que a falta de estímulos sonoros adequados aumenta as chances de deterioração das vias neurais. Portanto, é de muita importância garantir o cuidado adequado da audição em idosos, a fim de evitar esse impacto negativo e preservar a saúde cognitiva”,
“Estimular o cérebro por meio de leitura, aprendizado de idiomas, prática musical e exercícios mentais desenvolve vias neuronais adicionais, compensando áreas afetadas pela doença. A neuroplasticidade do cérebro minimiza o impacto do Alzheimer na saúde e na qualidade de vida dos idosos”.
Dra. Débora Lopes, geriatra
Já a escolaridade e o engajamento em atividades intelectuais são comprovadamente formas de prevenção. “Estimular o cérebro por meio de leitura, aprendizado de idiomas, prática musical e exercícios mentais desenvolve vias neuronais adicionais, compensando áreas afetadas pela doença. A neuroplasticidade do cérebro permite minimizar o impacto do Alzheimer na saúde e na qualidade de vida dos idosos”, garante a geriatra.
A médica destaca a importância de entender que o esquecimento não é parte normal do envelhecimento. Embora alterações de memória relacionadas à idade possam ocorrer, elas não devem interferir nas atividades diárias. “Por conta disso, é importante buscar atendimento médico assim que perceber problemas de memória, pois quanto mais cedo procurar ajuda, maior a chance de manter uma boa qualidade de vida e controlar os sintomas”.

Quando a arte imita a vida

O médico e professor Dr. Carlos Henrique Ferreira Camargo, juntamente com uma equipe de colaboradores composta por professores, médicos e acadêmicos de Neurologia, escreveu o livro “Neurologia e Cinema” pela Editora UEPG.
Especialmente para a Revista Pinó, o neurologista fez uma seleção de filmes para os leitores poderem entender melhor a vida de uma pessoa com doença de Alzheimer, seus familiares e seus cuidadores. Confira:
  • Meu Pai (The Father, Reino Unido/França, 2020)
Contexto: a difícil evolução da doença de Alzheimer: para quem a tem e para quem convive com o doente.
Sinopse: Antony Hopkins interpreta um homem de 80 anos que vive sozinho com doença de Alzheimer e não aceita os cuidadores que sua filha (Olívia Colman), preocupada, lhe apresenta. Ela tem seus afazeres e não consegue visitá-lo diariamente, tendo que levá-lo para morar na sua casa.
  • Longe dela (Away from her, Canadá, 2006)
Contexto: a dificuldade do cuidado ao paciente a decisão da institucionalização.
Sinopse: Grant e Fiona são um casal feliz há 44 anos. Fiona com doença de Alzheimer, preocupada com Grant, pede para viver em uma casa
de repouso.
  • A Dama de Ferro (The Iron Lady, Reino Unido/ França, 2011)
Contexto: seria mesmo doença de Alzheimer?
Sinopse: Merryl Streep venceu o Oscar ao interpretar a ex-primeira ministra do Reino Unido Margareth Thatcher nos últimos anos de sua vida, em um quadro demencial, voltando aos seus fatos passados. Entretanto, em uma das primeiras cenas lá está ela delirando, dialogando com seu esposo falecido em um quadro de alucinação complexa, incomum em pacientes com doença de Alzheimer naquela fase da doença.
  • Para Sempre Alice (Still Alice, EUA, 2014)
Contexto: doença hereditária de início precoce.
Sinopse: Julianne Moore venceu o Oscar interpretando uma professora de linguística que é diagnosticada com doença de Alzheimer aos 50 anos.

Mente e corpo sadio para prevenir a doença de Alzheimer

A dieta mediterrânea, rica em peixes, azeite de oliva, frutas e vegetais, pode trazer benefícios para<br>a saúde cerebral.
A dieta mediterrânea, rica em peixes, azeite de oliva, frutas e vegetais, pode trazer benefícios para
a saúde cerebral.
Embora não haja uma maneira garantida de prevenir completamente o Alzheimer, há várias estratégias que ajudam a reduzir o risco e promover uma boa saúde cerebral. Aqui estão algumas medida:
  • Mantenha uma vida ativa: exercite-se regularmente, pois isso melhora a circulação sanguínea para o cérebro e reduz o risco de doenças cardiovasculares. Opte por atividades físicas que também estimulem o cérebro, como dança, natação, caminhada ou jogos mentais.
  • Tenha uma dieta saudável: adote uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais, peixes gordurosos (como salmão), nozes e sementes. Evite o consumo excessivo de gorduras saturadas e trans, alimentos processados e açúcar. Alguns estudos sugerem que a dieta mediterrânea, rica em peixes, azeite de oliva, frutas e vegetais, pode trazer benefícios para a saúde cerebral.
  • Mantenha um peso saudável: conservar um peso adequado ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e outras condições associadas ao desenvolvimento da doença de Alzheimer.
  • Exercite o cérebro: mantenha seu cérebro ativo ao longo da vida. Leia regularmente, faça palavras-cruzadas, jogos de memória, aprenda algo novo, envolva-se em passatempos que estimulem o pensamento crítico e a criatividade. Desafiar constantemente o cérebro pode ajudar a construir e manter conexões neurais saudáveis.
  • Mantenha uma vida social ativa: interaja regularmente com outras pessoas. Manter relacionamentos sociais saudáveis e se envolver em atividades sociais pode estimular o cérebro e promover o bem-estar emocional.
  • Durma bem: tenha uma rotina de sono adequada. Dormir mal pode afetar negativamente a saúde cerebral. Tente estabelecer um horário de sono regular, crie um ambiente propício para o descanso e evite o consumo de cafeína e dispositivos eletrônicos antes de dormir.
  • Controle outras condições de saúde: mantenha doenças crônicas sob controle, como pressão alta, diabetes, colesterol alto e obesidade. Essas condições aumentam o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas.
  • Evite o tabagismo e limite o consumo de álcool: fumar e consumir álcool em excesso aumenta o risco de doenças cardiovasculares, que estão associadas ao aumento do risco de demência.
  • Mantenha-se mentalmente saudável: gerencie o estresse, busque apoio emocional quando necessário e cuide da sua saúde mental. O estresse crônico e a depressão podem afetar negativamente a saúde cerebral.

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