Saúde e bem-estar

Saiba como desreguladores endócrinos impactam nosso bem-estar

Redação Pinó
29/12/2023 12:56
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Os desreguladores endócrinos estão presentes em muitos produtos de higiene, cuidados pessoais e embalagens. | Bigstock

No dia a dia nos deparamos com diversas substâncias químicas que passam, por vezes, despercebidas. Estas substâncias, denominadas desreguladores endócrinos, possuem o potencial de desencadear sérias implicações para nossa saúde, perturbando o equilíbrio do nosso sistema endócrino. Conforme definido pela Endocrine Society, os desreguladores endócrinos (DEs) são substâncias químicas exógenas, ou misturas delas, que interferem em qualquer aspecto da função hormonal das glândulas.
O sistema endócrino desempenha um papel crucial na regulação dos hormônios, que por sua vez controlam uma ampla gama de funções em nosso corpo, incluindo o crescimento, o metabolismo, a reprodução e até a nossa resposta ao estresse. Quando substâncias externas perturbam esse sistema, podem surgir sérios problemas de saúde.
Segundo a Dra. Maria Augusta Karas Zella, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Seção Paraná, essas substâncias podem ser encontrados em muitos produtos da vida cotidiana, como nos alimentos, água, garrafas plásticas, latas de alimentos de metal, detergentes, brinquedos, cosméticos, produtos de limpeza corporal, pesticidas, no material eletrônico e de construção e em vários produtos manufaturados, além da poluição.

Impacto na saúde

Entre as centenas de milhares de substâncias químicas sintetizadas, estudos indicam que aproximadamente mil delas possuem a capacidade de interferir nas funções do sistema endócrino, manifestando propriedades de ação endócrina. Esse número significativo ressalta a extensão da presença de potenciais desreguladores endócrinos em nosso ambiente e destaca a importância de compreender e gerenciar sua influência na saúde humana.
“Nossos hormônios coordenam nosso organismo e o sistema endócrino é uma das principais interfaces do corpo com o meio ambiente, permitindo o desenvolvimento, adaptação e manutenção da saúde. Desempenhando várias funções biológicas e fisiológicas. Deficiências em qualquer parte do sistema endócrino podem levar a doenças ou até à morte. Os DEs perturbam o sistema endócrino, imitando ou bloqueando um hormônio natural. Ao interferir com o sistema endócrino, a exposição aos DEs pode perturbar muitas dessas funções e ser prejudicial a nossa saúde”, explica Maria Augusta.
O contato com desreguladores endócrinos têm sido associado a diversos problemas de saúde, incluindo infertilidade em homens e mulheres, devido a distúrbios nos sistemas reprodutivos. Essas substâncias químicas também podem interferir na regulação hormonal, levando a distúrbios hormonais como hipotireoidismo, síndrome dos ovários policísticos e desequilíbrios nos hormônios sexuais. Além disso, alguns desreguladores endócrinos foram relacionados ao aumento do risco de câncer, incluindo o de mama, de próstata e outros tipos.
A exposição a essas substâncias durante a gravidez pode impactar o desenvolvimento do feto, resultando em problemas de saúde ao longo da vida. Estudos também indicam que os desreguladores endócrinos podem contribuir para o ganho de peso e a obesidade, influenciando a regulação do apetite e do metabolismo.
“Estima-se que, globalmente, mais de 24% das doenças e distúrbios humanos são atribuíveis a fatores ambientais e que o meio ambiente desempenha um papel em 80% das doenças mais mortais, como câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares. A incidência de distúrbios pediátricos endócrinos, incluindo os problemas reprodutivos masculinos (como criptorquidia, hipospadia e o câncer testicular), puberdade feminina precoce, leucemia, câncer cerebral e distúrbios neurocomportamentais, aumentou rapidamente nos últimos anos. Associa-se a lista de evidências à exposição, doenças da tireoide, obesidade, diabete tipo 2”, explica a endocrinologista.

Os vilões

Os desreguladores endócrinos estão em toda parte. Eles entram em nossas vidas de várias maneiras, tornando quase impossível evitá-los completamente. O principais desreguladores endócrinos conhecidos são:
  • Bisfenol A (BPA):Encontrado em produtos de plástico, revestimentos de latas e recibos térmicos, tem sido associado a distúrbios hormonais, como a interferência no sistema reprodutivo e o aumento do risco de câncer de mama.
  • Ftalatos: Encontrados em produtos de cuidados pessoais, como perfumes e esmaltes, e em alguns plásticos, os ftalatos são conhecidos por afetar o sistema endócrino, prejudicando a fertilidade e causando distúrbios hormonais.
  • Parabenos: Amplamente utilizados em produtos de beleza e cuidados com a pele, podem mimetizar o estrogênio no corpo, contribuindo para desequilíbrios hormonais e aumentando o risco de câncer de mama.
  • Pesticidas: DDT (Diclorodifeniltricloroetano), clorpirifós, atrazina, 2,4-D (2,4-Ácido diclorofenoxiacético ) e glifosato. Podem se acumular em nossa dieta e causar uma série de problemas de saúde, incluindo disfunções hormonais, distúrbios reprodutivos e câncer.
  • Benzeno: Presente em gasolina, removedor e thinners, pode afetar o sistema endócrino, contribuindo para distúrbios hormonais e aumentando o risco de câncer.
  • Chumbo: Encontrado em baterias, tintas e pigmentos, causa problemas hormonais, danos ao sistema nervoso e outros problemas de saúde.
  • Cádmio: Presente em estabilizantes de plásticos, baterias e pigmentos, causa distúrbios hormonais e aumenta o risco de câncer, bem como problemas renais e pulmonares.
  • Mercúrio: Encontrado em rios contaminados por garimpo, tintas, agrotóxicos e outros produtos, pode causar problemas neurológicos e danos ao sistema cardiovascular.
  • Estireno: Presente em copos de plástico descartáveis, é ligado a risco de câncer.

Reduzir a exposição é o caminho

Optar por alimentos orgânicos e reduzir o consumo de produtos de origem animal reduz a exposição aos DEs.
Optar por alimentos orgânicos e reduzir o consumo de produtos de origem animal reduz a exposição aos DEs.
Embora seja quase impossível evitar completamente os desreguladores endócrinos, existem medidas que podem ser tomadas para reduzir a exposição e adotar um estilo de vida mais saudável por meio do consumo, sempre que possível, de produtos livres de desreguladores.
“Os consumidores têm pouca ou nenhuma alternativa sobre se expor ou não a alguns produtos de uso comum, doméstico ou pessoal, porque no geral não há informação suficiente sobre os componentes químicos nesses produtos. Para reduzir a exposição aos agrotóxicos, além de higienizar corretamente os alimentos, também é importante aumentar a ingestão de orgânicos, os alimentos cultivados de forma livre de agrotóxicos, e reduzir os produtos de origem animal, pois estes se acumulam na carne”, complementa a médica.
No Brasil, a regulamentação dos desreguladores endócrinos ainda é um campo em desenvolvimento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde estão envolvidos na avaliação e monitoramento dessas substâncias em produtos de consumo, como alimentos e produtos de cuidados pessoais. No entanto, a legislação e regulamentação específica para desreguladores endócrinos no país está evoluindo gradualmente à medida que novas pesquisas e preocupações surgem. A conscientização sobre a importância de controlar essas substâncias está crescendo, e é provável haver esforços contínuos para fortalecer as regulamentações relacionadas a desreguladores endócrinos para proteger a saúde da população.
“Os desafios e oportunidades relacionados à regulamentação governamental visando reduzir a presença de desreguladores endócrinos no ambiente são complexos e envolvem uma série de considerações ambientais, de saúde pública, econômicas e políticas. A regulamentação envolve várias áreas de atuação, conflitos de interesse do mercado e garantir o cumprimento da fiscalização e das leis ao nível local e mundial. Mas sem dúvida é uma oportunidade para estabelecer regras, reduzir a exposição, favorecer a busca por alternativas mais seguras, incentivar mudanças de comportamento e consumo mais seguro”, afirma Maria Augusta.

Dicas

Eliminar o contato é praticamente impossível, mas diminuir é um bom começo. Saiba como:
Evite o plástico: Reduza o uso, especialmente em recipientes de alimentos e bebidas, optando por alternativas de vidro, aço inoxidável ou cerâmica.
Nutrição consciente: Prefira alimentos orgânicos, com menos probabilidade de conter resíduos de pesticidas e outras substâncias químicas. Lave bem os alimentos antes de consumi-los.
Fique ativo: A prática regular de atividades físicas pode ajudar a eliminar toxinas do corpo e equilibrar o sistema endócrino.
Hábitos alimentares saudáveis: Mantenha uma dieta equilibrada e rica em alimentos naturais, como frutas, vegetais e grãos integrais. Evite alimentos processados e com aditivos químicos.
Evite o tabagismo: O tabagismo e a exposição à fumaça de cigarro podem introduzir desreguladores endócrinos no corpo.
Descarte correto: Evite o uso de tintas à base de chumbo e certifique-se de descartar adequadamente produtos que contenham essa substância.

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