A tevê aberta tem um novo queridinho. Com recordes de audiência, vídeos viralizando no Facebook semanalmente e polêmicas envolvendo novos e antigos humoristas, Tá no Ar: a TV na TV alavancou Marcelo Adnet ao posto de marco inovador da comédia televisiva brasileira. Na terceira temporada, que chegou ao quinto episódio no último dia 16, às 23h15, na RPC, o programa tenta elevar o tom e mudar a maneira com que o brasileiro ri. O humorístico fica no ar até 5 de abril, sempre às terças.
Em um dos mais recentes episódios, um Marcelo Adnet transfigurado na cantora Lorde interpretava uma música repleta de spoilers de séries e novelas famosas, ao ritmo de Royals, sucesso na voz da neozelandesa. O esquete, um dos que causaram maior repercussão entre os episódios recentes (veja mais ao lado), não dura mais do que três minutos, fala de um assunto atual e tenta conversar com o público mais jovem. A descrição se encaixaria em poucos programas de humor na TV.
“Sempre pensamos em um programa que pudesse viralizar e dialogar com o universo das redes sociais, onde achávamos que seria um terreno fértil, tanto para as pessoas assistirem inteiro ou compartimentado, já que as cenas têm 30 segundos, um ou dois minutos. O programa ficaria menos perecível se conseguisse um formato que pudesse “passear” por aí ao longo da semana”, resume Marcius Melhem, um dos criadores, roteiristas e protagonistas, ao lado de Adnet.
A estratégia faz parte de uma mudança de rumo da Globo, em prática desde 2014, quando o programa estreou. “A emissora queria se abrir para esse caminho da conexão do humor com a sociedade”, diz Melhem. É por isso, por exemplo, que Tá no Ar: a TV na TV raramente traz piadas que atinjam homossexuais, mulheres e estereótipos como “o português” ou “a loira”, algo quase histórico no humor nacional.
Outro fator que chama atenção nas piadas do programa é a graça em cima de atrações do canal. Ao falar da própria Globo, o programa acaba renovando o estilo tradicional da emissora. Para Ary Toledo, um dos piadistas mais conhecidos do país, o movimento é benéfico para todos que vivem de fazer os outros rirem. Ao “gozar da chefia”, diz, o humor alcança um de seus papéis mais importantes.
Política
No entanto, críticas ao programa levam em conta o seu pouco envolvimento político. O psicanalista Abrão Slavutzky, autor do livro Humor É Coisa Séria (editora Arquipélago), aponta o que ele chama de “falha grave” no humorístico – que ele, a propósito, considera “o mais inovador desde Casseta & Planeta”: “estamos precisando de humor político, e quase não se faz. É grave. A linguagem do programa é espetacular, e o sucesso é lógico, mas o acho superficial. É um humor inofensivo e cuidadoso, trata de forma sagrada o que não se pode falar. São piadas muito comportadas”.
Além de Marcelo Adnet, o programa traz no elenco Marcius Melhem, Dalton Mello, Renata Gaspar, Luana Martau e Welder Rodrigues. Quadros conhecidos do público como “Jardim Urgente”, “Balada Vip”, “Militante” e “Galinha Preta Pintadinha” seguem existindo.