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‘Tem gente que se acomoda no casamento’, diz Alexandre Borges

conteúdo Agência Estado
15/06/2016 15:39
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Alexandre Borges vive Aparício Varela em Haja Coração. Foto: Divulgação Globo | Ramon Vasconcelos/Rede Globo

Aparício Varela, interpretado por Alexandre Borges, em Haja Coração, sempre sofreu com a dominação da esposa Teodora (Grace Gianoukas) sobre ele. Porém, por mais que os tons exagerados marquem as cenas do casal na novela exibida as 19 horas na RPC o ator não acha que essa seja uma situação meramente ficcional. Para ele, há muitos casais como Aparício e Teodora espalhados por aí. E com motivações diferentes para não dar um basta no matrimônio.
Na entrevista Alexandre fala sobre essa relação, como se sente ao interpretar um papel que já foi de Paulo Autran e também do envolvimento de Aparício com três mulheres – Rebeca, Penélope e Leonora, vividas pelas atrizes Malu Mader, Carolina Ferraz e Ellen Rocche.
Haja Coração é uma novela de humor, mas Aparício tem um lado romântico e dramático também. Isso ajuda você?
ALEXANDRE BORGES – Acho que a novela tem um humor do cotidiano, de algumas situações. E vejo um lado realista, sabe? De uma coisa meio “a vida como ela é”, com pegada um pouco mais contida É uma comédia, mas da vida, de costumes. O que é bem bacana.
Era um desejo seu fazer um papel mais realista, mesmo se mantendo na faixa das 19h?
ALEXANDRE – Não! Veio pelo destino. Foi um convite que apareceu em uma excelente hora e eu aceitei imediatamente.
Você tem uma relação de sucesso com o humor. É um gênero que gosta mais de fazer?
ALEXANDRE – Não tenho essas coisas. Faço o que vem na minha mão, o que o destino me traz. Mas tive trabalhos em outras linhas, como em Caminho das Índias, que acabou de reprisar. Era um personagem bem dramático, sofrido e ferrado. Fiquei bem instigado por aquela história.
Você também está no ar na reprise de Laços de Família (no Viva). Gosta de rever seus trabalhos antigos?
ALEXANDRE – Vejo, mas não assiduamente. Já acompanhei na primeira vez, então aproveito para rever cenas que sei que gostei de fazer. Em Caminho das Índias, por exemplo, essa segunda fase do papel, depois que a Ivone (Letícia Sabatella) deu o golpe do baú e fugiu, fazendo-o se tornar até catador de lixo, me deu muita vontade de assistir de novo.
E de Sassaricando? Você quis ver algo para entender melhor o Aparício?
ALEXANDRE – Não, ficou mais o que eu me lembro. A novela passou no momento em que eu começava minha carreira como ator, em São Paulo. Sempre fui muito noveleiro. Eu ia estudar, voltava da escola, almoçava, fazia o dever de casa e ia ver TV. Lembro-me bastante de Sassaricando. Do próprio Paulo Autran, da Claudia Raia, do Marcos Frota, enfim, era uma turma grande. Essa novela marcou muito aquela época.
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Aparício vai se envolver com três mulheres na trama. Alguma semelhança com o Cadinho de Avenida Brasil?
ALEXANDRE – São três mulheres na novela toda, não é tipo o Cadinho, que eram três ao mesmo tempo. Não tem nada a ver um com o outro. Mas o grande amor da vida dele, aquele que ele luta para conquistar mesmo, é a Rebeca (Malu Mader).
O cabelo grisalho é caracterização do personagem ou é seu?
ALEXANDRE – São luzes (risos)! Brincadeira, é meu mesmo!
Você interpreta, mais uma vez, o pai da personagem da Tatá Werneck. Essa relação preocupou você inicialmente?
ALEXANDRE – Naturalmente, é outro tipo de conflito. Aparício é muito mais disciplinador. Ele pega muito mais no pé da Fedora (Tatá Werneck) do que o Jurandir fazia com a Danda em I Love Paraisópolis. O próprio trabalho já coloca você em outra sintonia, outra situação, outro tom.
Aparício é sujeito a várias humilhações no casamento. Acha que isso é pura ficção ou existem casais assim na vida real?
ALEXANDRE – Às vezes, alguns casais se aturam e não se separam, continuam juntos. Tem bastante gente que se acomoda no casamento, mesmo brigando o dia inteiro. Alguns por conta dos filhos, outros por hábito mesmo. O bom é que essa situação é temperada com muito humor na novela, para não ficar pesado.
Interpretar um personagem que já existiu soa como uma responsabilidade maior que partir do zero em um papel?
ALEXANDRE – Acho que é uma relação de atenção e cobrança. Rola uma curiosidade das pessoas que viram o Paulo Autran fazendo. Mas a grande maioria é de um público que não viu a novela, mais jovem. Considero o Paulo Autran um dos melhores atores do século 20, ele é insuperável. Então, encaro como uma alegria grande fazer um personagem que ele fez. Fico feliz por ser um veículo de homenagem a ele a partir desse trabalho.
Você se acostumou a interpretar galãs. Mas o Jurandir, seu último personagem, era bem largado e sem esse traço. Acha que saiu de uma zona de conforto ali?
ALEXANDRE – Nunca me sinto na zona de conforto. Sinceramente, todo personagem que eu faço sempre traz inseguranças, incertezas, dúvidas… Busco meu crescimento profissional, da carreira que eu escolhi, das coisas que eu quero. E sempre tento quebrar alguns rótulos. O que importa, na verdade, é fazer um bom trabalho. Nunca me acomodei com isso, em todos esses anos de carreira.
Você lida bem com a passagem do tempo?
ALEXANDRE – A gente precisa ser amigo do tempo e realmente aproveitar o que ele oferece. Meu filho já está com 16 anos, quase maior do que eu. Se a gente não se olha no espelho, parece que continua com 30 anos. Mas não, o tempo passa e rápido. Tem de aprender a lidar com isso porque não tem jeito.