Turismo

A magia baiana de Arraial d’Ajuda

Fernanda Trisotto
21/11/2013 02:04
Quando Dorival Caymmi gravou Você já foi à Bahia?, na década de 1940, tratou de responder nos primeiros versos àqueles que diziam não à questão. “Então vá!”, lembrando que a Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem. Como bom pedaço baiano, Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, no sul do estado, cumpre o riscado. E a energia de estar ali pode sentida ainda no caminho, na balsa que transpõe o Rio Buranhém, a partir de Porto Seguro.
Essa região da Costa do Descobrimento foi nomeada como “muito formosa” na carta de Pero Vaz de Caminha, quando do descobrimento do Brasil. A área também é considerada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
Também, pudera: são quilômetros de belas praias, Mata Atlântica preservada e história do país, misturada com a hospitalidade baiana e de todos os forasteiros que adotaram a vila. Entre as ruas de paralelepípedo de Arraial, estão pousadas simpáticas e resorts de luxo, além de restaurantes e barraquinhas de comida típica que garantem bons momentos para todo tipo de viajante.
Para conhecer o centro da vila, uma caminhada partindo da Praça São Braz é o ideal. O agito mais antigo da cidade, a Rua Brodway, é um vai-e-vem de gente, de dia ou noite. Passando ali, é fácil chegar à Igreja Nossa Senhora d’Ajuda, construção antiga e imponente, que dá as costas para o mar e onde foi rezada a primeira Missa do Galo no país, em 1549. Nos fundos da igreja, na Rua Bela Vista, está um bom ponto de observação da beleza da vila, além de ser um um espaço de fé. Milhares de fitas do Senhor do Bonfim estão presas nas grades e na cruz que ficam no local, deixando a vista do mar ainda mais colorida.
Ainda no centro, a Rua do Mucugê é passagem – e parada – obrigatória. O burburinho de Arraial acontece ali: são restaurantes, bares, baladas, pousadas e lojas, que abrem só no final da tarde e funcionam até quase madrugada. E são para todos os gostos: poucos metros separam bares mexicanos dos restaurantes japoneses com sushi. Também se engana que só de axé se faz a Bahia: muito samba, MPB, rock e jazz tocam naquelas ruas, em bares e hotéis, que sempre oferecem alguma apresentação ao vivo.
Quem quer mais sossego – e um pouquinho de luxo – pode apostar nos hotéis com maior infraestrutura, principalmente os que ficam na Estrada da Balsa. Um deles é o Arraial d’Ajuda Eco Resort, onde o hóspede tem à disposição piscinas, banhos de rio e mar, além de uma agência própria, que oferece aventuras radicais e passeios pelos outros distritos da região.
O hotel mantém espaços abertos ao público em geral. No Restaurante Ponta do Apaga Fogo, com vista para a cidade de Porto Seguro, vale procurar pelo jantar baiano, servido às sextas-feiras: um buffet com comidas típicas. A refeição ganha ares místicos com o jogo de búzios de uma baiana com fama de previsões certeiras. Indispensável consultar o hotel sobre disponibilidade e reservas antecipadas.
Variedade de sabores em barracas e restaurantes
Em Arraial d’Ajuda, a diversidade de sabores está nas cocadas das baianas, nas barracas de praia e nos bistrôs. E é fácil encontrar boa comida. Na Praia da Pitinga, um exemplo são as cocadas da simpática dona Felicidade, que prepara as guloseimas e as vende na areia por R$ 4 a unidade, nos sabores natural, abacaxi, maracujá, limão e cacau. A senhorinha ainda aceita encomendas e leva as cocadas embaladas no hotel em que a pessoa estiver hospedada.
Ainda na Pitinga, duas barracas merecem visitas especiais. Na Barraca Maré, vale experimentar o coquetel de frutas sem álcool, de manga e graviola. Para abrir o apetite, a dica é uma porção de pasteizinhos de aratu, um caranguejo vermelho de mangue, muito saboroso. A porção com seis unidades sai por R$ 24.
Mais adiante, a Barraca do Faria traz os bons temperos da dona Coração Faria, matriarca da família que dá nome ao local. Mineira, dona Cora adotou a Bahia e garante um quê brejeiro às receitas locais. Uma de suas especialidades é o pastel crocante de camarão, feito com massa de trigo e leite. A unidade sai por R$ 5,90. Para uma refeição caprichada, vale provar o Ybá-Piti, com creme de abóbora, camarões grelhados, molho de abacaxi e arroz de coco. O prato é individual e custa R$ 45.
Na cidade, comer bem também é fácil. Na Rua do Mucugê, o Aipim, comandado há 13 anos por José Roberto Bittar, tem cardápio local com toque gourmet. O drink da casa é uma combinação de vodka, gengibre e pimenta rosa. Como aperitivo, pastéis com massa de aipim ou no terrine – o de queijo com pasta de azeitonas pretas e geleia de melancia é excelente. As entradas custam a partir de R$ 24. O local tem opções com peixes, como o prato Yes Brasil, com filé de badejo e camarões, que custa R$ 58, e sugestões mais baratas, como Hippie Chic, por R$ 34.
Mais afastado da muvuca do Mu­cugê está o Bistro D’Oliveira, do chef Salmo Oliveira. O restaurante tem ampla variedade de pratos com frutos do mar, todos produzidos na região, e até carré de carneiro. Destaque para as lambretas gratinadas, um tipo de marisco, servido como entrada, por R$ 18. Para a refeição principal, uma lagosta grelhada na manteiga com risoto, por R$ 58.
A jornalista viajou a convite do Arraial d’Ajuda Eco Resort.