Acostumados ao clima tropical e às praias paradisíacas, muitos brasileiros têm procurado um cenário totalmente oposto durante as férias de julho. No lugar da areia fofa e das dunas, surgem as montanhas cobertas de neve. Ao invés do sol escaldante, temperaturas abaixo de zero. O destino: estações de esqui, conhecidas por abrigar tanto esportistas quanto turistas que nunca antes botaram o pé na neve.
Um dos resorts mais procurados no Chile, Valle Nevado completou 25 anos em 2013. O fácil acesso – a apenas 60 km da capital, Santiago – e o público heterogêneo são alguns dos atrativos. Ano passado, a estação recebeu 60 mil brasileiros entre julho e agosto. São casais acompanhados dos filhos, grupos de amigos e, claro, esquiadores em busca das 45 pistas incrustadas na Cordilheira dos Andes a 3,2 mil metros de altitude.
A presença dos brasileiros é tamanha que o português pode ser ouvido em qualquer parte da estação e não só entre os hóspedes. É comum encontrar funcionários dos hotéis e dos restaurantes com domínio do idioma.
Hospedagem
O complexo tem diferentes categorias de hospedagem. Tres Puntas é um hotel três estrelas, mais voltado para grupos de jovens. Tem quartos com até quatro camas para que amigos e casais possam compartilhar o mesmo ambiente — quase como um albergue. Nesse hotel também há um pub que costuma receber baladas com DJs à noite. Já Puerta del Sol tem quatro estrelas e apartamentos com quarto de casal e mais outro quarto com camas de solteiro, ideal para famílias com filhos. O Hotel Valle Nevado é o cinco estrelas do trio, com quartos com amplo espaço e dignos de levar o nome da estação.
Independentemente do hotel em que o turista estiver hospedado, vários espaços, como os restaurantes e bares, são compartilhados pelos visitantes. No Hotel Valle Nevado, por exemplo, há uma academia com vista para a Cordilheira dos Andes que pode ser frequentada por qualquer hóspede do complexo. No local também funciona um mini spa, com manicures, massagistas e tratamento com cromoterapia — opções pagas à parte.
Mesmo as opções gastronômicas são heterogêneas. Entre os seis restaurantes, há um francês, o La Fourchette; uma tratoria italiana, Don Giovani; e o Sur, que resgata a cozinha tradicional do sul do Chile.
Todos os níveis
O resort tem uma escola de esqui e snowboarding, que abre diariamente das 8h45 às 17h45, e atende crianças a partir dos 4 anos. As aulas podem ser feitas em grupo ou individualmente, com instrutores da própria estação.
Em meio às pistas, uma das novas atrações, inaugurada este ano, é o teleférico de cabine fechada, apelidado de gôndola. Tem capacidade para seis pessoas e pode ser usada também como uma opção de passeio mais segura para quem não vai esquiar. As cadeiras abertas, chamadas pelos chilenos de telesillas, assustam fácil quem tem medo de altura.
Escola Aprendendo a cair
Antes de chegar até Valle Nevado, nunca havia nem sequer subido em um skate ou carrinho de rolimã, quem diria um esqui ou prancha de snowboarding. Na hora de enfim chegar até as pistas, a sensação da neve fofa e profunda sobre os pés não ajudou a deixar de lado o medo incômodo dos tombos. O objetivo não era permanecer em pé, mas sim voltar para o hotel sem muitos roxos pelo corpo.
A preocupação, na prática, se mostrou infundada. Quem quer aprender, tem que estar disposto a cair. E, no momento inevitável do tombo, relaxar o corpo, justamente para evitar uma tensão mais grave. Tentar se apoiar com as mãos mais atrapalha do que ajuda.
Primeiro, no entanto, é preciso se acostumar com a indumentária pesada e os equipamentos. As luvas, capacetes, calças e jaquetas podem ser alugadas na própria estação. Protegem do frio, mas o desconforto é inevitável. As botas especiais, para serem acopladas nos esquis ou na prancha, dificultam ainda mais o passeio pela neve. Por isso, para os iniciantes – ou os com pouco fôlego – é mais do que recomendado recorrer às pistas que possuem os chamados carrosséis ou o magic carpet, equipamentos que ajudam na subida morro acima após as primeiras descidas.
Tive aulas apenas de snowboarding. Os instrutores são atenciosos, mas o tão necessário equilíbrio é mesmo por conta de cada um. Mesmo assim, me surpreendi. Em menos de vinte minutos, deslizei morro abaixo por um trecho de mais de 30 metros. Ao fim, até parece fácil. O problema mesmo é parar.
Sobre os inevitáveis tombos do começo, nada que deixe marcas pelo corpo. O jeito é não desanimar. Depois que se pega a manha, a brincadeira fica divertida. A paisagem ao fundo da Cordilheira dos Andes, o sol forte, as crianças que mostram desenvoltura de sobra, tudo é um incentivo a mais. Pra garantir a experiência na memória e convencer os amigos mais céticos, não deixe de tirar fotos da empreitada – de pé ou deitado na neve, tanto faz.
Para começar com o esqui direito Os cuidados começam antes mesmo de chegar à estação e se lançar nas pistas
Caminho: A estrada que liga Santiago a Valle Nevado possui 60 curvas, várias delas bem fechadas. Por isso, o percurso pode deixar alguns passageiros enjoados, tanto pelos trechos sinuosos quanto pela altitude, que passa dos 500 metros acima do mar em Santiago e chega a 3 mil na estação. A dica é não comer demais antes da viagem e levar algumas pastilhas de menta ou chiclete.
Quem leva: Para chegar até a estação, há transfers ou vans de empresas de turismo. A viagem pode ser perigosa para quem não conhece o percurso, principalmente no inverno, quando a neve afeta a visibilidade dos motoristas e faz com que muitos carros atolem no meio do caminho. O uso de correntes para pneus nos veículos é obrigatório e, nos fins de semana e feriados, há restrição de horários para a subida e descida.
Vestuário: No inverno, as temperaturas na estação podem chegar fácil aos -10ºC durante a noite, sendo um pouco mais amenas de dia. A saída é vestir-se em camadas, para facilitar a ambientação e a passagem entre a área externa e os hotéis, onde há calefação. Luvas, cachecol, proteção de orelhas e roupa térmica são essenciais.
Proteção: Protetor solar (com fator de proteção 30 no mínimo) e protetor labial também são itens obrigatórios, justamente porque a localização e as condições climáticas na estação favorecem uma maior irradiação solar e um ambiente seco. Outra dica é caprichar na hidratação e evitar alimentos com muita gordura e sal. Nos quartos dos hotéis, são colocados vaporizadores à noite.
Nível certo: As pistas devem ser condizentes com o nível de aprendizado – há várias voltadas aos iniciantes. É melhor praticar acompanhado e recorrer a um instrutor da estação para aprender as noções básicas, como saber parar ou desviar de pessoas ou objetos.
Preferência: Há regras de boa convivência entre esquiadores: pessoas à frente têm preferência e quem vem atrás precisa desviar. Também não se deve parar no meio do caminho, ainda mais em locais de pouca visibilidade.
Equipamentos: Em alguns trechos no interior dos hotéis, não é permitido andar com as botas utilizadas nos esquis e no snowboarding, para evitar acidentes. É bom cuidar do equipamento, já que muitas das pranchas e esquis alugados são parecidos e alguns esportistas costumam deixar as peças ao relento.
* O repórter viajou a convite de B4T Assessoria, LATAM e Turistik.