Sair de casa para conhecer lugares sombrios ou palcos de desastres é tão comum que já se tornou um segmento: o black tourism (turismo negro ou macabro). Sozinhos, ou com auxílio de guias, turistas percorrem roteiros nada convencionais em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil.
Em São Paulo, a Graffit, agência especializada em passeios temáticos, oferece circuitos para lá de assustadores. Em um deles, batizado de “Outro Mundo: SP Além dos Túmulos”, o turista já experimenta o macabro quando entra no ônibus, decorado com tules negros e brancos, caveiras, a figura da morte, morcegos, teias de aranhas e cruzes. A trilha sonora especial aumenta a sensação de medo e flores de velório exalam fragrâncias fúnebres. Os guias fantasiados interagem com o público.
O passeio percorre o Edifício Joelma, o Cemitério da Consolação, o mais antigo da cidade (cheio de celebridades), e o Castelinho da Rua Apa, construção de 1912, onde aconteceu um triplo homicídio em 1937. Desde então, ninguém conseguiu passar uma noite lá e até moradores de rua evitam o local.
De acordo com o turismólogo Carlos Silvério, diretor da Grafitt, a proposta do roteiro é apresentar uma São Paulo diferente, de mitos, lendas e histórias de fantasmas, passadas de pai para filho. “Uma viagem ao mundo do sobrenatural, que provoca reflexões nos participantes do programa”, conta.
Para Silvério, quando se trata de sobrenatural, mundos desconhecidos, as pessoas ficam curiosas e demonstram grande interesse. “Buscamos descontrair as pessoas e não assustá-las, levando informações claras e objetivas, mas instigando a mergulhar em uma aventura diferente, eletrizante. Há pessoas que demonstram medo, mas gostam da proposta, outras que desdenham, desafiam, outras se divertem, acham engraçado”, conta.
Quando o roteiro foi lançado, em 2000, o público era formado por góticos e alternativos. “Hoje temos participantes de faixa etária entre 12 a 30 anos, casais, famílias da cidade, do interior do estado, de outros estados”, explica. O roteiro foi baseado em circuitos semelhantes da Inglaterra e Escócia. Além dos lugares mal assombrados, a Grafitt tem um roteiro que percorre as prisões paulistanas. Um circuito ainda não lançado vai passar pelos locais dos crimes que chocaram o país, como a antiga mansão de Suzane Von Richthofen.
Nada de anormal
Com tantas tragédias cobertas incansavelmente pela imprensa, e com os muitos livros, filmes e séries de televisão sobre o assunto, flertar com o desconhecido e visitar lugares tétricos não nada têm de errado. Não é uma aberração. Faz parte da natureza humana. De acordo com o psicólogo Tonio Luna, especialista em relações humanas, dois motivos levam as pessoas a saírem de casa para visitar um campo de concentração ou o castelo do Drácula: a curiosidade e o alívio.
O ser humano quer saber o que se passou, o que aconteceu, o que existiu. “É um ser curioso por natureza, e conhecer algo ou alguma coisa é completamente natural”, diz. Outro motivo que explica o fascínio do homem pelo macabro é a sensação de alívio. “Alívio de ter a oportunidade de analisar aquela situação em uma zona de conforto, de não ter participado daquilo”, revela.
Serviço
Agencia Grafitt
Informacoes no site www.graffit.com.br ou no telefone (11) 5549-9569
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Memória viva nos campos de extermínio
O Holocausto é um dos capítulos mais negros da história da humanidade. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), 6 milhões de judeus, ciganos, homossexuais e comunistas foram perseguidos e exterminados na Alemanha, Polônia, Itália, França, Holanda e República Tcheca. Os campos de concentração, os guetos, engrenagens da engenharia do regime Nazista, disseminaram a morte por todo continente europeu.
Para não apagar o Holocausto da memória, 67 anos após o fim do conflito, cidades que antes abrigavam fábricas de cadáveres, agora mantêm museus. Diversos guetos e campos de concentração, em diferentes países, estão abertos para visitação de turistas interessados nesse período histórico. Só o campo de Auschwitz, na Polônia, recebeu 1,7 milhões de turistas no ano passado.
Na Europa, a maioria dos campos tem entrada gratuita. As visitas, guiadas, passam por diferentes seções, como as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, os dormitórios e os quartos, onde as joias, sapatos e malas dos judeus eram confiscados pelos alemães. Além de Auschwitz, na Polônia (país com o maior número de mortos), existem os campos Birkenau, Majdanek, Stutthof e Treblinka. O Gueto de Varsóvia também pode ser visitado, embora tenha sido revitalizado. Na Alemanha também são três campos: Neuengamme, Sachsenhausen e Dachau.
Na capital holandesa, Amsterdã, a casa de Anne Frank – garota alemã que morou escondida por dois anos com sua família, até ser descoberta e mandada para um campo de concentração – pode ser visitada. No museu, é possível conhecer o sótão onde a família se escondia e visualizar algumas passagens do diário da menina, que ficou famoso em todo mundo.
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Jack, o Estripador – Londres
Na capital inglesa, empresas oferecem tours por Whitechapel, bairro onde o serial killer Jack, o Estripador, matou suas vítimas, em 1888. Guiado por historiadores, os turistas percorrem os cenários nos quais o criminoso mutilou cinco prostitutas. O passeio, de duas horas, começa na Tower Hill e passa por Durward Street, Hanbury Street, Henriques Street, Mitre Square, Dorset Street, ruas em que foram cometidos os crimes. Os tours acabam no pub Ten Bells, supostamente frequentado pelas vítimas e pelo próprio criminoso. Embora haja suspeitas, a identidade do assassino nunca foi descoberta.
Serviço
Site www.jack-the-ripper-walk.co.uk
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Edifício Joelma – São Paulo
No dia 1º de fevereiro de 1974, o Brasil parou para acompanhar o drama no edifício Joelma, de 25 andares. O prédio pegou fogo, depois de um curto-circuito no sistema de ar-condicionado: 188 pessoas morreram e 345 ficaram feridas. Foi uma das maiores catástrofes da história de São Paulo. Uma lenda diz que o prédio era mal assombrado. Em 1947, um professor de química matou a mãe e duas irmãs, jogando-as em um poço no terreno. Ao ser descoberto, ele se matou. Atualmente denominado edifício Praça da Bandeira, existem operadores que oferecem um tour no prédio. O roteiro é inclusive mencionado pelo site do Ministério do Turismo.
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Alcatraz – São Francisco
Localizada na baía de São Francisco, a dois quilômetros da costa, Alcatraz é uma ilha em águas muito frias e fortes correntes marítimas, que abrigou, entre 1934 e 1963, uma penitenciária de segurança máxima com os bandidos mais violentos dos Estados Unidos. O mafioso Al Capone esteve lá. Desativado, o presídio pode ser visitado. Na ala das solitárias, com celas frias e sem entrada de sol, o turista pode experimentar a sensação de ficar preso por alguns minutos. Basta pedir aos guias, que guardam as chaves.
Serviço
Site www.alcatrazcruises.com
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Castelo do Drácula – Romênia
Para criar o personagem Drácula, o escritor Bram Stocker se inspirou no príncipe romeno Vlad III, que adotou o sobrenome “Draculea” (diabo, em romeno). Cruel, durante o século 13, o príncipe da Valáquia mandou empalar 20 mil soldados otomanos. A residência dele, o Castelo de Bran, que fica na Transilvânia, Romênia, virou um museu e pode ser visitado. Existem inclusive lojas com centenas de suvenires do vampiro.
Serviço
Site www.bran-castle.com/en/
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