Turismo

Made in China

José Rocher
02/08/2012 03:02
Tigres de metro e meio de altura feitos de jade – pedra esverdeada retiradas de escavações em montanhas – custam até R$ 200 mil. Um vaso de três metros de altura fabricado com porcelana e metal, pintado e levado ao forno sete vezes, é oferecido por R$ 800 mil.
Segundo os vendedores chineses, essas peças trazem prosperidade. No caso do tigre, é riqueza na certa. A peça é feita para ficar na frente de edifícios que abrigam grandes companhias que possam pagar seu preço.
Os fabricantes divulgam que a pedra jade já foi mais valorizada que ouro na China. Ela ganha formato também de dragões, budas, tartarugas, navios veleiros, e outras peças repletas de significado.
As lojas ocupam áreas que equivalem a um quarteirão inteiro. Na entrada, o visitante observa, em vitrines, como os artesãos se dedicam pacientemente a cada artigo. O trabalho é realmente minucioso e demorado. Quando o turista se depara com os produtos prontos – milhares deles, impecáveis, coloridos, reluzentes –, olha a etiqueta e acha até barato.
O que é realmente Made in China não tem nada a ver com marcas famosas nem as séries de cópias idênticas. Carrega traços da cultura milenar, e custa caro
O país dos investimentos estrangeiros acabou conhecido mundo afora pelas etiquetas das mercadorias “made in China”, baratas e muitas vezes apenas cópias de marcas famosas. Mas é cada vez maior o interesse por aquilo que os chineses têm de original, com sua cultura, instalações e práticas milenares.
Os turistas querem ver de perto a China que faz o que sempre fez. E são tantos que também ajudam a dar um empurrãozinho na segunda maior economia do mundo, que fica atrás apenas dos Estados Unidos.
Roteiros turísticos lotados, parques repletos de gente passeando, restaurantes cheios não são novidade no país de 1,35 bilhão de habitantes. Mas, fisionomias latinas e europeias se misturam com frequência às asiáticas, principalmente nos jardins dos palácios imperiais e nas escadarias da Grande Muralha.
Embora seja mais difícil viajar à China do que aos Estados Unidos – o visto chinês de turismo é de três meses com direito a uma entrada e o norte-americano vale para dez anos –, muita gente releva essa questão. Faz toda a diferença percorrer um país cujos povos primitivos fazem história há 7 mil anos.
E o governo chinês tenta dar corda a essa curiosidade global. A China vem discutindo liberar a entrada de turistas sem visto por uma janela de três dias. Bastará comprar passagem e, na entrada, mostrar comprovantes de reserva de hospedagem.
É verdade que três dias são pouco para um brasileiro atravessar o Atlântico e o continente africano com tempo suficiente apenas para ver uma ou duas cidades. Mas, com certeza, quem estiver de passagem pela Europa irá considerar essa possibilidade.
Conhecer a China definitivamente não é o mesmo que seguir para um país escancaradamente aberto ao turismo. As restrições de visto desaparecem diante, por exemplo, da oportunidade de se conferir como vive a megalópole que foi, durante séculos, a mais populosa do mundo.
Beijing tem, no centro antigo, a Cidade Imperial. E dentro da Cidade Imperial, a Cidade Proibida, construída na dinastia Ming, entre os séculos 14 e 17. Quando se está cercado por essas construções, fica fácil embarcar na História da China e entender melhor o que há de original no país.
Essa viagem pode ser feita também no roteiro da Grande Muralha. Entre Beijing e o muro que levou 400 anos para ser construído, envolvendo mais de 1 milhão de pessoas, há pontos de parada que permitem ao turista inclusive levar um pouco dessa essência para casa, na compra de peças de artesanato e joias.
Porém, o que é originalmente chinês não custa tão barato quanto as mercadorias Made in China. Enquanto a indústria chinesa de suvenires replica objetos idênticos em diferentes países do mundo, um porta-treco leva, muitas vezes, uma semana para ficar pronto. Uma escultura chega a ser lapidada durante anos.
Assim, bibelôs podem sair por preços de R$ 40 a R$ 100. Em cinco ou seis presentinhos, morrem R$ 500. Achou caro? Que tal um tablete de 200 gramas de chá calmante por R$ 150?
O jornalista viajou pela Expedição Safra Gazeta do Povo

Originalidade chinesa