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Nas trilhas do rei Arthur

Fernando Martins
08/10/2009 03:04
Uma antiga lenda dessa época conta que o chefe dos bretões, o rei Vortigern, procurou uma montanha ao norte do atual País de Gales para construir sua fortaleza contra os invasores. Mas ele não conseguia erguer o seu castelo. Sempre que as pedras começavam a ser empilhadas, um tremor de terra as colocava abaixo.
Foi quando o mago Merlin – aquele mesmo das fábulas do rei Arthur – descobriu qual era o problema. Merlin teve uma visão: sob a fortificação havia um lago subterrâneo habitado por dois dragões rivais – um vermelho e outro branco. Sempre que eles se digladiavam, o chão tremia, destruindo as paredes.
Merlin também profetizou que o dragão vermelho, quando liberto, venceria o branco. Aquilo era um bom presságio: os bretões eram representados pela fera vermelha e os saxões, pe­­la branca.Após ou­­vir Merlin, Vortigern não teve dú­­vidas. Esca­­vou a mon­­tanha e li­­bertou os animais, que continuaram a lutar até a vitória do vermelho. O tempo mos­­traria que o mago estava certo. Os bretões con­­seguiram barrar os saxões anos mais tarde, sob a liderança de um homem chamado Arthur. É aqui que história e lenda se misturam de novo. O rei Arhur teria de fato existido; seria um militar romano desgarrado ou um líder bretão que, empunhando o estandarte do dragão das legiões de Roma, encorajou os nativos e comandou a resistência. Já Mer­­lin teria sido um druida com influência mística sobre os bretões.
A despeito do mito, o fato histórico é que os saxões conseguiram conquistar a atual Inglaterra, mas foram barrados pelos bretões em Gales. As terras do povo celta só começaram a ser tomadas seis séculos depois, quando os normandos, vindos da França, conquistaram não somente o que era dos saxões, mas também o que pertencia aos bretões.
Os normandos e os saxões acabaram se misturando e, juntamente com os anglos, deram origem aos ingleses. Já os bretões originais deixaram como herdeiros os galeses – que, embora sejam súditos da coroa inglesa desde o século 16, nutrem uma rivalidade histórica com os ingleses e um forte sentimento nacionalista. Tanto que adotaram exatamente o dragão vermelho como símbolo, estampado em sua bandeira.
Tal história de ocupação, resistência e mitos deixou marcas profundas nesta que é uma das quatro nações que compõem o Reino Unido. O país é repleto de ruínas de fortificações romanas e, principalmente, de castelos – a maioria deles da época medieval e muitos dos quais associados à lenda de Arthur. São nada menos que 641. Com uma área de apenas 20,7 mil km2, Gales tem a maior média de castelos por pedaço de chão do planeta. Um orgulho para os galeses, que en­­chem o peito para dizer qual é a alcunha da nação – a Terra dos Castelos.
O jornalista viajou a Gales a convite do VisitBritain e da British Airways
Saiba mais: a Wikipédia (www.pt.wikipedia.org) e o site www.legendofkingarthur.co.uk têm informações sobre a origem histórica do mito de Arthur. O filme Rei Arthur, de 2004, é outra dica. Estrelado por Clive Owen, a fita está disponível nas locadoras.
O resgate de uma tradição
Existem três modos de se fazer uísque: o irlandês, que destila a bebida por três vezes; o escocês (duas destilações); e o galês (uma). Apesar de ser o berço de uma das formas tradicionais de produção do legítimo malte, o País de Gales ficou sem uma destilaria por mais de 100 anos. No século 19, todas as fábricas fecharam devido à forte concorrência com o uísque escocês e à queda no consumo da bebida por motivos religiosos.
Mas, em 1998, a destilaria Penderyn (www.penderyn-distillery.co.uk) abriu as portas para resgatar a tradição do uísque galês. Localizada em meio ao verde do Parque Nacional de Brecon Beacons, a indústria utiliza a água pura dessa reserva ambiental para produzir uma bebida de excelente qualidade, que é exportada para vários países. A destilaria abre suas portas para visitantes.