No primeiro semestre de 2003, alguns milhares de felizardos brasileiros tiveram a oportunidade de ver, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, a maior mostra sobre a cultura da China até então realizada em nosso país. Nela, dois destaques: Tesouros da Cidade Proibida e Guerreiros de Xi’an. Conjunto impressionante, impactante e fantástico, os poucos soldados de terracota em visita ao Brasil foram como um cartão de apresentação aos que desejam um dia conhecer a China.
A descoberta, casual, aconteceu em 29 de março de 1974, quando camponeses do povoado de Xiyang, que escavavam um poço a quatro metros de profundidade, encontraram porções de terra queimada; abaixo dela, fragmentos de estátuas, pontas de flexa e alguns mecanismos de armas em bronze. Surpresos, os descobridores questionaram o que seria aquilo: restos de um forno, um antigo altar, um templo budista? Era muito mais do que isso. O local da escavação fica no distrito de Lintong, província de Shaanxi, ponto de partida da Rota da Seda, que promoveu intercâmbio cultural e comercial entre a Ásia e a Europa – lembra-se de Marco Polo?
Com o passar dos anos, continuaram (e ainda continuam) as escavações que trouxeram à tona o exército de mais de 7 mil guerreiros, surpreendentemente nenhum deles igual ao outro. Todos com a cabeça (geralmente ostentando um sorriso) separada do corpo. O achado foi levado ao conhecimento da Comuna Popular, mas apenas 3 meses e meio depois o local recebeu a visita de arqueólogos de Pequim.
Criação de Qin Shihuang, também chamado Ying Sheng, o primeiro e mais celebrado imperador da China (*), os querreiros puderam ser contemplados durante anos praticamente apenas pelos chineses. A visitação foi aberta em 1.º de outubro de 1979, quando a República Popular da China festejou 30 anos. A jornalista esteve na China em 1980 e não ouviu uma só palavra sobre os guerreiros.
Considerada a 8.ª maravilha do mundo e recebendo da Unesco (em 1987) o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1994 as obras já haviam recebido mais de 40 milhões de visitantes. Trata-se do maior museu in situ do país (provavelmente do mundo). O conjunto consta de enormes e bem cuidados jardins como cenário para as três imponentes salas-pavilhão: elas têm 1.694, 16 mil e 17.934 metros quadrados. A maior, com 230 metros de comprimento por 62 de largura. A 35 quilômetros da cidade de Xi’an, e a apenas 1.500 metros do exército de terracota, a construção do mausoléu só terminou após a morte de Qin.
(*) Nascido em 259 a.C., com apenas 13 anos foi o fundador da dinastia Qin. No ano 221 a.C. unificou o imenso país, acabando com os feudos. Alterou o padrão de medidas, incentivou inventores (como os que bolaram os eixos das rodas), simplificou a escrita, abriu estradas por todo o território chinês e iniciou a construção da Grande Mura-lha. Começou também a construção de seu mausoléu, que durou 38 anos e ocupou mais de 720 mil operários, culminando por ter 2 milhões de pessoas (numa população total de 20 milhões) obrigadas a trabalhar. Detalhe: aos que construíam o mausoléu era estritamente proibido – e, pior condenado à morte – dizer a palavra morte.
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