Turismo

Vancouver é o lado mais cool do Canadá

Estadão Conteúdo
26/09/2015 15:00
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O Stanley Park oferece uma visão privilegiada da cidade canadense. Fotos: Estadão Conteúdo

O Stanley Park oferece uma visão privilegiada da cidade canadense. Fotos: Estadão Conteúdo
Habitantes de Vancouver acham que a vida é curta. Pelo menos é isso que o comércio local dá a entender. Na entrada do café descoladinho, na loja de calçados diferentões, placas afirmam que “life is too short to…” (”a vida é muito curta para…”). E completam: beber café ruim, usar sapatos entediantes. Para não ter graça nem sabor, concluo, por minha conta em risco.
Vancouver, cidade de 600 mil habitantes na costa oeste do Canadá (2,5 milhões na região metropolitana), é um dos principais expoentes turísticos do país da América do Norte. Em agosto, época que foi produzida esta reportagem, vive o auge do verão e das férias escolares, até a primeira semana de setembro. A partir de agora, com o início do outono no Hemisfério Norte, a cidade na costa do Pacífico começa a mudar de ares e os programas indoor ganham força. Em dezembro, começa a temporada de esqui.
Com calor e tempo seco, as atrações estão ao ar livre. Vizinhança renovada em nome do esporte, mercadão, arte na rua, bairro boêmio com mesas nas calçadas e, especialmente, ocupação de qualquer gramado, píer e deque. Seja para cochilar, ler ou fazer piquenique.
A juventude que chega a Vancouver para fazer intercâmbio, como muitos brasileiros, é a mesma que garante atendimento multilíngue em lojas e restaurantes e movimenta eventos como o Anime Revolution, convenção de fãs das animações em estilo japonês que coloriu as ruas com fantasias de super-heróis, perucas e vestidos de boneca enquanto eu estava lá.
Chinatown
É expressiva a presença de pessoas de origem asiática, especialmente chinesa, vivendo em Vancouver: somam 43% da população da região metropolitana, segundo a Statistics Canada, empresa que produz estudos estatísticos para o governo do país. Com reflexos na cultura e no modo de vida local. A cidade abriga a terceira maior Chinatown do mundo, atrás de São Francisco e Nova York, e recebe, todo mês de junho, um dos maiores festivais de barcos-dragões fora da Ásia.
De bicicleta ou táxi aquático, moradores e turistas zanzam em busca de um lugar ao sol enquanto ele está lá – porque de outubro em diante chove bastante. E faz frio, não as duras temperaturas negativas do resto do Canadá, mas o suficiente para mandar todo mundo de volta para dentro, algo entre 0 e 5 graus. Para só esquentar de novo lá para junho do ano seguinte.
Bairro histórico e parques são programas obrigatórios na cidade
O parque urbano mais querido de Vancouver é uma península verde, recoberta de floresta e ligada à área de Downtown por um rabicho estreito de terra, o que faz do Stanley Park quase uma ilha. Tal situação geográfica garante vistas incríveis de praticamente qualquer ponto. Ao sul, admira-se a linha de prédios do centro; rumo ao norte partem hidroaviões que fazem passeios por ilhas do entorno. A oeste vê-se a Baía Inglesa, onde há uma praia urbana.
Outro ângulo do Stanley Park, que tem 4 quilômetros quadrados de área total. No local, ciclovias e pistas de corrida
Outro ângulo do Stanley Park, que tem 4 quilômetros quadrados de área total. No local, ciclovias e pistas de corrida
O Stanley Park  tem 4 quilômetros quadrados de área total e uma ciclovia que acompanha a estrada e dá a volta completa ao seu perímetro, com quase 9 quilômetros de extensão.
Patinadores, skatistas e pedestres são igualmente bem recebidos. Quadras de tênis, playgrounds, trilhas, praça de totens dos indígenas (First Nations, como dizem lá), mais parque aquático infantil e piscina pública (abertos de junho a setembro) e o Aquário de Vancouver fazem do Stanley um lugar para ficar muito tempo.
Melhor vista
A vista do alto mais bonita está no florido Queen Elizabeth Park, a 15 minutos de carro distante do centro. No mirante, a escultura Photo Session, do artista Seward Johnson, mostra três figuras humanas de costas para a paisagem e uma quarta, máquina fotográfica em punho, pedindo uma licencinha com a mão. Exatamente o que os turistas não cansam de fazer ali.
Gastown
Outro programa obrigatório para quem visita a cidade é visitar o bairro histórico onde nasceu Vancouver, Gastown. A área tem sabor misto de história e modernidade. Conserva sua rua principal, a Water Street, de paralelepípedos, e nela, na esquina com a Cambie Street, um relógio a vapor que, apesar da aparência antiga, tem apenas 38 anos – ele apita e solta fumaça a cada quarto de hora. Há uma estátua que representa Gassy Jack, o barman que fundou o bairro.
Relógio a vapor no bairro histórico de Gastown
Relógio a vapor no bairro histórico de Gastown
Mas os bem conservados predinhos vitorianos hoje abrigam restaurantes, cafés, galerias de arte, lojas que apostam suas fichas em design exclusivo. A Kit&Ace vende lindos cashmeres artesanais – o modelo Blanket Wrap, aberto na frente e com comprimento abaixo dos joelhos.
John Fluevog é o designer de calçados canadense que acha que ninguém deveria usar sapatos entediantes. Diz e prova: na loja que leva seu nome, no número 65, botas masculinas ganham costuras que lembram chifres de carneiro, e sapatos femininos do tipo boneca têm saltos em forma de pedestal de taça. Espere gastar desde 250 dólares por par. Veja o catálogo (e resista, se puder).
O pub Lamplighter (no número 92) é especialista em eventos diferentes. Abriga o encontro semanal da Sociedade da Cerveja de Gastown (quartas-feiras, às 18 horas) e acaba de hospedar um campeonato de pinball.
>>Boa gastronomia e lojas descoladas em Downtown
Sempre tem fila na porta do Café Medina. O motivo é um waffle do diâmetro de um punho fechado, que pode ser acompanhado de calda de chocolate, geleias de frutas, compotas alcoólicas ou um inesquecível doce de leite com toque de sal. Daria para comer meia dúzia – mas as outras tentações do cardápio não deixarão você fazer isso.
Em Downtown, o Cactus Club Café com seu clima de balada.
Em Downtown, o Cactus Club Café com seu clima de balada.
Antes de conhecê-las, um rápido perfil. O Café Medina é um lugar moderninho, de luminárias industriais, piso de cimento queimado e jovens intercambistas compondo o staff. Serve exclusivamente brunch – daí seu horário de funcionamento, só até as 15 horas. Contra a fila, chegue antes de a fome ficar insuportável, coloque nome na lista, receba a previsão de atendimento e saia para dar uma volta em Downtown.
Logo na esquina está a Robson Street, via de grifes medianas e lojas de departamento de sempre: Armani Exchange, Guess, Tommy Hilfiger, Zara; veja a lista. Para se surpreender, entre pelas portas giratórias do supermercado coreano H-Mart (no número 590). Desista de procurar uma lógica conhecida de organização: sacos de papel com batata doce quentinha, assada agora mesmo, estão ao lado de meias coloridas, maquiagens e máscaras nutritivas para a pele, para passar desenhando um panda no rosto.
Cruzeiros
Ao norte está o píer de cruzeiros e o Harbour Green Park, ambos diante da Baía de Vancouver. Fica por ali o Cactus Club Café, com boa comida e clima de balada. É ótimo para o pôr do sol, especialmente se você reservar uma mesa com vista para a baía.
Quando chegar o horário, retorne ao Café Medina. Comece com uma das cinco variedades de cerveja artesanal. Escolher um prato só vai ser difícil: o salmão defumado desfiado com abacate sobre torrada (14 dólares) é delicioso.
Muita neve a partir de dezembro
No inverno, que começa em dezembro no Canadá, pistas cobertas de neve permitem esquiar bem perto do centro de Vancouver (passes válidos para a próxima temporada inteira estão à venda por 499 dólares canadenses. Mas em agosto, o tempo quente enche a Grouse Mountain, autodenominada “o pico de Vancouver”, de passeios para curtir a natureza verdejante.
A Grouse Mountain (ao fundo), autodenominada “o pico de Vancouver”, se destaca na bela paisagem da cidade na costa do Pacífico.
A Grouse Mountain (ao fundo), autodenominada “o pico de Vancouver”, se destaca na bela paisagem da cidade na costa do Pacífico.
Tem trilhas variadas, tirolesa, observação de pássaros, tours de helicóptero. Chegar lá já é um passeio panorâmico: a subida é feita na gôndola Skyride (43,95 dólares, ida e volta).
Uma experiência interessante é o “café da manhã com os ursos” (64,95 dólares, R$ 187), que inclui acompanhar o desjejum dos animais e uma caprichada refeição nas alturas.
Pista de esqui de Grouse Mountain: próximo ao centro da cidade. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo.
Pista de esqui de Grouse Mountain: próximo ao centro da cidade. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo.
Vila olímpica
O False Creek, outra atração da cidade, é um pequeníssimo braço de mar ao sul do centro de Vancouver com intensa movimentação turística. É por ele que circulam os táxis aquáticos, ou Aquabus, com oito paradas e tarifas entre 3,50 e 5,50 dólares canadenses. Na porção mais a leste do False Creek está a Vila Olímpica de Vancouver. O complexo residencial e comercial, com vários deques de frente para a água, foi construído para abrigar os atletas dos Jogos Olímpicos de Inverno, em 2010.
>>Na península de Granville, muita arte criativa
Granville é uma península no False Creek que fica literalmente debaixo da ponte, uma imponente ponte metálica construída em 1951 com 27 metros de altura. Nos últimos anos, a área ganhou fôlego como empreendimento de lazer e passou a receber investimentos de toda sorte de gente criativa, como artistas, cozinheiros, designers. Turistas, claro, chegaram junto.
Domingo é um dia festivo, com muitos forasteiros e moradores interessados na variada oferta gastronômica, nos estúdios, em moda, galerias de arte e oficinas de bicicleta. Há até estacionamento para as magrelas. E parada do Aquabus, para chegar nos barcos-táxis.
Mercados
O Mercado Marítimo é o lugar para apaixonados por barcos. Além da marina, há lojas especializadas e outras que vendem souvenirs, artesanato, joias.
A trinca de mercados de Granville Island fica completa com o Kids Market, instalado em um prédio industrial construído quase um século atrás, em 1917. Quem está com crianças só deve entrar ali com fôlego para gastar: são 25 lojas e a oferta é variada. Roupas e fantasias, brinquedos modernos e vintage, livros e kits de mágica fazem até adultos caírem em tentação.
A fábrica de cervejas Granville Island Brewing também faz cair em tentação. São cinco tours diários, por 9,75 dólares canadenses, com degustação de três tipos de cerveja.
Grafite
Antes ou depois, curta uma atração que nós, brasileiros, podemos dizer que é de casa. Os grafiteiros OsGemeos pintaram em Granville Island um mural composto por seis silos de 21 metros de altura cada. Vai dizer que não dá uma sensação de familiaridade ver os personagens gigantes da dupla? A vida, afinal, é muito curta para não se sentir em casa.
Grafiteiros pintaram em Granville  um mural em silos de 21 metros de altura cada.
Grafiteiros pintaram em Granville um mural em silos de 21 metros de altura cada.