Turismo

Paciência, vara e anzol

Gabriel Azevedo
23/02/2012 02:02
Para os amantes da pesca, a atividade é quase uma doutrina. E fica bem longe das brincadeiras de um pesque-pague. A modalidade esportiva, também conhecida como amadora – em que o peixe é apenas retirado da água para ser pesado e fotografado – leva pescadores por todo o país em busca das mais de 2,5 mil diferentes espécies de peixes. E eles não vão sozinhos.
O turismo de pesca tem atraído um número cada vez maior de pessoas, inclusive aquelas que nunca pensaram em pescar. Quem visita destinos como Pantanal (MT), Bonito (MS), Amazônia, Vitória (ES), Canavieiras (BA) e o Rio de Janeiro, regiões famosas pela abundância de peixes, acaba tendo o primeiro contato com a atividade como forma de lazer e exploração das atrações locais.
O potencial brasileiro para o segmento é respeitável: o país tem uma rica bacia hidrográfica, com rios, lagos, lagoas, além de 8 mil quilômetros de litoral, com seus manguezais, costões e 100 milhas náuticas para a pesca oceânica. Essa abundância de recursos é cada vez mais explorada por empresas especializadas em pescarias pelo Brasil afora e até outros países.
Há oito anos, o pescador e guia turístico Pedro Novak Filho, da agência Pesca e Pescaria, promove viagens especializadas em pescaria em água doce. No ano passado foram 11 saídas. “E não são apenas pescadores. Suas esposas e pessoas sem nenhuma experiência também aproveitam para aprender e conhecer novos lugares”, diz. Tocantins, São Paulo, Amazonas e Mato Grosso são alguns dos destinos mais comuns para a atividade.
Equipamento
Viajar para pescar não implica, necessariamente em uma bagagem extra, cheia de equipamento curioso, como iscas, varas e molinetes, a popular “tralha”. Quem compra um pacote de pescaria longe de casa, via de regra, não precisa se preocupar em levar nada. “É claro que tem quem não dispense o próprio equipamento, mas há pacotes em que tudo já está incluído ou pode ser alugado no destino”, explica Novaes, que sempre organiza viagens em grupos.
Jurandir Boscarin, da agência Central de Pesca, de Curitiba, leva grupos para pescar há oito anos. “São turmas mistas, de casais com ou sem experiência alguma”, conta. As excursões ao Mato Grosso, por exemplo, são feitas em um barco-hotel. “Assim os viajantes aproveitam para pescar, descansar, conhecer a região”.
Os pacotes variam de cinco a oito dias e contemplam os trechos aéreos e rodoviários, além de transfers e hospedagens. Outras facilidades também estão incluídas, como o aluguel do barco e os apetrechos. “Só é preciso levar dinheiro e vontade de pescar”, brinca Boscardin, que promove 20 viagens por ano, todas de pescaria em rios.
Grande parte dos amadores vai atrás de uma boa briga com o tucunaré, um dos peixes de água doce mais disputados no Brasil. “Ele é bom de briga e os pescadores gostam de fisgá-lo”, explica Pedro Novak. Entre outros peixes de rio estão o dourado e o pacu.
Não há pré-requisitos físicos para ser um pescador amador, mas a prática requer uma licença oficial. De acordo com o Ibama, ela é obrigatória para a utilização de molinete ou pesca embarcada e pode ser solicitada por diferentes agentes ambientais. Custa R$ 20 para a prática desembarcada e R$ 60 para pescar em alto-mar ou fazer subaquática. O documento deve ser apresentado com o comprovante de pagamento da taxa e do documento de identidade do pescador. Para licenciar-se, basta acessar o site do Ministério da Pesca (sinpesq.mpa.gov.br/pndpa/web/). Aposentados, mulheres acima de 60 e homens com mais de 65 anos são isentos do pagamento da taxa. A licença pode ter validade de até um ano.
Os gigantes marinhos do Nordeste
Se na água doce, a diversão do pescador é brigar com o tucunaré, nos mares, principalmente no Nordeste brasileiro, a disputa é pelos maiores e mais pesados peixes, como o marlin azul. Muito comum no litoral da Bahia, Es­­pírito Santo e Rio de Janeiro, este gigante dos mares – cobiçadíssimo entre os praticantes da modalidade oceânica – pode atingir 4,5 metros de cumprimento e 800 quilos. O recorde mundial é de um brasileiro de Vitória que, em 1992, capturou um exemplar de 636 quilos.
Praticada em todo o litoral brasileiro, a pesca oceânica é feita em embarcações, normalmente a alguns quilômetros da costa. De acordo com Paulo Roberto Veloso Silva, gerente da Órbita Expe­­dições, empresa que promove a pesca ao marlin azul em Cana­­vieiras (BA), a modalidade tem atraído cada vez mais participantes. “Eu recebo turistas e pescadores de todos os cantos do Brasil e do mundo”, conta.
Mesmo usando varas apropriadas à prática – mais resistentes –, carretilha elétrica, linhas de 600, 700 metros e grandes iscas, o turista não precisa se preocupar em levar nada, apenas ter vontade de pescar. Muitas empresas em todo o Nordeste oferecem o passeio, que inclui a embarcação, apetrechos e guias. “Quem se aventura no mar, em geral, tem alguma experiência com pescaria. Mas, mesmo para os iniciantes, não tem mistério. Temos guias e instrutores para ajudar”, diz Veloso.
A grande vantagem da pesca oceânica é aventurar-se pela imensidão azul do mar. “Fora a pesca, o prazer de conhecer praias diferentes, verdadeiros paraísos, também motiva o pescador”, revela.
No Nordeste, a pesca oceânica pode ser feita o ano inteiro. Mas entre setembro e março são os meses de maior número de peixes, como o atum, a cavala e o agulhão-vela.
Serviço
O aluguel do barco, com equipamentos e piloto, para quatro pessoas, em Canavieiras (BA) sai por R$ 3,5 mil por dia. O preço pode variar de acordo com o número de pessoas e a data. Na Órbita Expedições. Mais informações no telefone (73) 3234-3250 ou pelo site www.orbitaexpedicoes.com.br