Turismo

Pedra que muda de cor de acordo com o tempo é atração turística no Espírito Santo

Guilherme Grandi
17/04/2018 17:00
Thumbnail

Nos dias mais ensolarados, a Pedra Azul ganha tons que vão do amarelo ao azul. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.

O rochedo de granito que muda de cor chama a atenção de quem passa pela BR-262 entre Vitória e Belo Horizonte, no estado do Espírito Santo: a Pedra Azul, com seus quase mil metros de altura, é parte de uma região, no município de Domingos Martins, que começou a olhar o ecoturismo há menos de dez anos, e ainda busca atingir todo o seu potencial
Localizada em um parque nacional homônimo de mais de 12 mil metros quadrados de mata nativa preservada, a área pode ser visitada por no máximo 150 pessoas por dia — os principais turistas são os capixabas e mineiros, mas a área já está sendo descoberta por pessoas que querem conhecer mais o estado, além de sua famosa Rota Imperial,  caminho criado há mais de 200 anos ligando o porto de Vitória à cidade mineira de Ouro Preto.

O que fazer

A região do parque estadual, que fica localizada a apenas 90 quilômetros da capital capixaba,  requer no mínimo dois dias para ser conhecida. Além da Pedra Azul, as propriedades próximas oferecem passeios a cavalo, trilhas, agroturismo e atividades mais radicais como rapel, arvorismo e tirolesa. Também há opções de hospedagem para quem quer apenas relaxar curtindo a paisagem ou se sentir em um resort de inverno.
A alta temporada das montanhas capixabas vai de maio a setembro, com um clima que derruba as temperaturas a 0° nas noites mais geladas. E esqueça a moqueca capixaba: as comidas típicas da região tem mais cara da Itália e da Alemanha do que das areias de Vitória.
O parque é muito usado para ensaios de noivado e casamento, como fez o casal Sabrina Borges e Alexander Fernandes. "Sempre foi um sonho, é um símbolo do estado", conta ela. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
O parque é muito usado para ensaios de noivado e casamento, como fez o casal Sabrina Borges e Alexander Fernandes. "Sempre foi um sonho, é um símbolo do estado", conta ela. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.

Pedra Azul

Além da extensão da pedra de granito (tem mais de 1,8 mil metros de altura), outro aspecto chama atenção dos visitantes:  o rochedo acinzentado ganha tons amarelados e azuis até 36 vezes durante o dia, dependendo da incidência do sol. “É um local para ser percorrido com tempo bom, já que os dias chuvosos costumam fechar o parque e atrapalhar a visão da Pedra Azul”, conta Andreia Rosa, secretária-executiva do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau.
duas trilhas que podem ser percorridas sozinhas ou com guias contratados em quatro horários (de terça a domingo às 9h, 10h, 13h30 e 14h). A mais longa, com 1,4 quilômetros de extensão, leva o visitante até um conjunto de piscinas naturais abastecidas pela água, que escorre do alto do rochedo nos dias de chuva. A temperatura é gelada, mas a vista compensa.
Os mais corajosos podem escalar a pedra até o topo, em um passeio oferecido apenas a quem já tem experiência em montanhismo. A subida é oferecida por duas empresas da região que cobram em torno de R$ 150 por pessoa.
Fique atento: não há restaurantes ou lanchonetes dentro do parque, apenas na entrada.
Os passeios a cavalo do rancho Fjordland chegam bem próximos à Pedra Azul. Foto: divulgação.
Os passeios a cavalo do rancho Fjordland chegam bem próximos à Pedra Azul. Foto: divulgação.

Rota do Lagarto

A curiosidade do parque não se resume apenas à mudança de cor da Pedra Azul. Grudado a ela há um rochedo que lembra muito um lagarto escalando até o topo. Não à toa, a estrada que circunda a reserva é chamada de Rota do Lagarto.
São pouco mais de sete quilômetros de pista asfaltada entre a BR-262 e a ES-164, onde estão localizados hotéis, pousadas, restaurantes, lojas de artesanato e passeios em propriedades particulares. No rancho Fjordland, os cavalos da raça Fjord são usados em quatro opções de roteiros com até 1h45 de duração, passando por trechos de Mata Atlântica, plantações de eucalipto, piscinas naturais e cafezais na encosta da montanha.
“Estes passeios são procurados principalmente por pais com filhos, já que os equinos de origem norueguesa são menores e mais dóceis”, explica o equinoculturista Jorge Ichaso. A entrada no parque custa R$ 5, e os passeios começam em R$ 25 dependendo do roteiro escolhido.
Na Rota do Lagarto também estão os parques Selva Sassiri e Ecoparque Pedra Azul, com passeios de quadriciclo por trilhas quase coladas ao rochedo e atividades como rapel, paintball, arvorismo, tirolesa e camping. Os roteiros custam a partir de R$ 15.
O Arroz de Pato do Alecrim, no Quadrado São Paulinho. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
O Arroz de Pato do Alecrim, no Quadrado São Paulinho. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
Já os restaurantes se alternam entre pratos do dia a dia e culinária autoral inspirada nas cozinhas da Itália e da Alemanha. No Peterle’s, logo na entrada da Rota do Lagarto, o buffet custa R$ 39 por pessoa. E no Alecrim, no final da estrada, a chef Cecília Cunha prepara uma culinária mais brasileira com toques mediterrâneos e da Europa ocidental. Os principais pratos são o arroz de pato com agrião (R$ 78) e o joelho de porco defumado com geleia de abacaxi (R$ 34).
Também no final da Rota do Lagarto está o Quadrado de São Paulo do Aracê, ou ‘São Paulinho’ como é mais conhecido na região. É um conjunto de estabelecimentos comerciais mais desenvolvidos de toda a estrada, com destaque para o Taruíra Food Truck, que vende sanduíches inspirados nas comidas de rua da Alemanha; o Tuia Gastronomia e Arte, que é um misto de café, bistrô e galeria de arte; a Marietta Delicatessen, e o projeto social Da Tutte Mani, que concentra artesanatos feitos por famílias de 11 municípios da região.
Graccielle e 'Dete' Lorenção fazem parte do roteiro de agroturismo da região. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
Graccielle e 'Dete' Lorenção fazem parte do roteiro de agroturismo da região. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.

Além da Rota

A região das montanhas capixabas está toda se desenvolvendo de pouco em pouco. Andreia Rosa, do Convention & Visitors Bureau, explica que os netos e bisnetos dos primeiros imigrantes italianos estão vendo que podem gerar renda através do turismo. “Muitos deles saíram daqui para estudar e estão voltando para tocar os negócios deixados pelos pais”, conta. E o desenvolvimento vai além da Pedra Azul.
Logo ao lado está a cidade de Venda Nova do Imigrante, com seus pouco mais de 20 mil habitantes. É ali que se desenvolveu um circuito turístico um pouco diferente da vizinha Domingos Martins: o agroturismo. Não há um roteiro estabelecido, já que as propriedades estão espalhadas por toda área rural do município.

Campo e comida

Mas há aquelas que estão mais bem estruturadas para receber os turistas. A Fazenda Lorenção, por exemplo, é de uma família de imigrantes italianos que chegou em Venda Nova há 120 anos, e até hoje produz um embutido chamado ‘socol’. Bernadete Lorenção e a filha Graccielle tocam a produção e a loja de embutidos.
‘Dete’, como é mais conhecida, conta que faz o socol seguindo a receita original que os pais trouxeram da Itália, “com o lombo de porco fermentado, alho, sal e pimenta do reino”. “Mas, há outros da região que colocam canela, cravo e especiarias”, completa. Cada peça de socol custa R$ 79/kg, além do presunto cru ‘culatelo’ (R$ 149/kg) e do limoncelo (R$ 39 a garrafa com 500ml).
A fazenda da família Carnielli produz alguns dos principais cafés especiais do Espírito Santo. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A fazenda da família Carnielli produz alguns dos principais cafés especiais do Espírito Santo. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
Já a fazenda da família Carnielli é especializada em queijos e cafés desde que os primeiros italianos do Vêneto chegaram em 1888. Um dos netos que toca a produção, Pedro Carnielli, explica que tem três receitas exclusivas de queijo vendidas na lojinha: “o Morbier, com farelo de carvão e pincelado com urucum; o Resteya, com um gosto mais amanteigado; e o Minas padrão sem lactose, em que se utiliza a enzima lactose”. Custam a partir de R$ 59,65/kg.
Outro destaque da região é o café — os grãos produzidos na região são usados para produzir alguns dos principais microlotes mais premiados do país, como o Eksotiese (R$ 19,70), que tem tons de rosas brancas e de laranja lima.
Em Venda Nova do Imigrante também passa parte da Rota Imperial, hoje é percorrido por motoristas aventureiros em motociclistas e jipes de tração 4×4.
Parte da Rota Imperial passa pela região das Montanhas Capixabas. Foto: Prefeitura de Irupi/divulgação.
Parte da Rota Imperial passa pela região das Montanhas Capixabas. Foto: Prefeitura de Irupi/divulgação.

Descanso merecido

Com tantas atividades de aventura disponíveis, a hora de dormir precisa ser bem programada. Há hospedagens para quase todos os bolsos na região da Pedra Azul, como as pousadas Vale da Mata e a Caminho das Flores (em média R$ 260 a diária), a Fazenda China Park (R$ 384) e o hotel Bristol Vista Azul (R$ 563).
Há ainda as de alto padrão, como o Aroso Paço (R$ 685) e a Pousada Rabo do Lagarto (R$ 900). Esta última faz parte do roteiro internacional Exclusive Collection Hotels, e se segmentou como um hotel apenas para adultos (não aceita crianças e nem animais de estimação).
São apenas 17 cabanas com temas que lembram a Toscana, a África, a Provence, entre outros destinos. A Pousada Rabo do Lagarto fica em uma encosta com vista para a Pedra Azul, ao lado do Quadrado de São Paulinho, e foi aberta há nove anos pelo casal Lília Mello e Enéas Vianna. Ela conta que a ideia é “proporcionar experiências” aos hóspedes.
As suítes mais caras, que podem chegar a R$ 1,8 mil a diária, possuem ofurô e hidromassagem, além de alguns serviços de spa.
A Pousada Rabo do Lagarto lembra uma vila na encostra da montanha, com vista para a Pedra Azul. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A Pousada Rabo do Lagarto lembra uma vila na encostra da montanha, com vista para a Pedra Azul. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
Serviço:
Parque Estadual da Pedra Azul
BR-262, a cerca de 90 quilômetros de Vitória.
Como chegar: do Aeroporto de Vitória, é preciso alugar um carro e seguir até Domingos Martins. Outra possibilidade são os táxis contratados pelo próprio hotel (R$ 250 por trecho) ou no aeroporto (R$ 300 por trecho). Ou ainda de ônibus intermunicipal partindo da Rodoviária de Vitória, com passagens em torno de R$ 40 por pessoa.
Lotação: O parque só poder ser visitado por no máximo 150 pessoas por dia. É preciso chegar cedo nos finais de semana, já que a lotação é atingida rapidamente.
Endereços, roteiros e opções de hospedagem podem ser consultados no site oficial da associação da Pedra Azul.
*O jornalista viajou a convite da Pousada Rabo do Lagarto.
LEIA TAMBÉM