Turismo

Próxima e distante Polônia

Marcos Tavares
20/09/2012 03:02
As três joias do Báltico polonês – Gdansk, Sopot e Gdynia – são tão diferentes quanto próximas. Juntas, formam a Grande Gdansk. Localizadas no delta do Rio Motlawa, na foz do Rio Vístula, têm o principal porto marítimo da Polônia. Os primeiros registros de habitação naquela área datam do século 7. Hoje, somam cerca de 750 mil habitantes, 500 mil só em Gdansk. Uma terra cobiçada, principalmente pelo potencial mercantilista, que já passou pelas mãos dos poloneses, da Ordem Teutônica e dos alemães. Foi invadida inúmeras vezes e praticamente destruída na Segunda Guerra. Na história recente, ganhou espaço no noticiário internacional nos anos 80, com as manifestações de oposição ao partido comunista, feitas pelo Sindicato Autônomo Solidariedad. Um de seus fundadores, Lech Walessa foi o primeiro presidente eleito da Polônia, em 1990, após o fim do comunismo.
É esse conjunto urbano, recheado de monumentos e referências da história da Europa e de tantos descendentes poloneses que vivem no Brasil, que o caderno de Turismo apresenta nesta semana. Como explorar a Polônia, ao mesmo tempo tão íntima e tão distante dos brasileiros, em especial dos que moram no Sul do país.
As joias do Báltico
Gdansk
Sobrevivente de guerra
Cuidadosamente reconstruída depois da Segunda Guerra, Gdansk tem influências arquitetônicas germânicas, holandesas e flamencas. É também dona da maior reserva de âmbar do mundo. O povo é bonito e animado, mas a língua é uma barreira poderosa. Poucas pessoas falam inglês. O idioma é frequente na rede hoteleira e uma raridade entre taxistas e comerciantes. Por isso, é recomendável ter sempre o endereço do hotel em mãos.
Da ponte que leva à entrada do centro histórico, o visitante avista uma construção que se destaca na margem esquerda do rio. Um estranho prédio de tijolos e madeira tingida de preto. É um antigo guindaste, que virou o cartão-postal da cidade.
Dali, é possível chegar ao Caminho dos Reis. Ao passar pelos pórticos que levam à cidade antiga, alcança-se a um largo e limpo calçadão margeado de prédios antigos, coloridos e com ornamentos nas fachadas. Nem parece que foram reconstruídos. Ao fundo, a torre de tijolos com um grande relógio dourado e um cume esverdeado é vigiada por Netuno. A região é cheia de bares, restaurantes e lojas de artesanato, recheadas de joias feitas de âmbar.
Não muito longe dali fica a Igreja de Santa Maria, a maior feita de tijolos da Europa, com capacidade para 35 mil pessoas. A dica é ir caminhando e explorando as ruelas e lojas da região. O prédio, rodeado de edifícios históricos, ergue-se imponente. O interior, com paredes brancas, é herança do período em que foi um templo protestante.
É da torre da igreja que se tem a melhor vista da cidade. O caminho não é para os fracos, é preciso levar água. São 400 degraus até o topo. A metade, numa escada claustrofóbica, em espiral, onde se tem a nítida impressão de que, a qualquer momento, será possível encontrar a Rapunzel, aquela das tranças.
Vencida essa primeira etapa, há uma passarela de madeira de onde se vê a parte de cima das cúpulas da nave central. Ainda falta metade do caminho. Nessa última parte, o visitante pode ver os sinos da igreja. Do mirante, tem-se a impressão de observar uma cidade de brinquedo. Seus prédios são coloridos e alinhados, há muito verde e o rio ao fundo. A vista é linda e faz a escalada valer a pena.
As cicatrizes do período comunista são mais evidentes na periferia de Gdansk. São construções cinzas, sem brilho, que nada têm a ver com o centro histórico. Na área rural, o gosto dos polacos pelas cores vibrantes volta a aparecer. A paisagem é bucólica, com pequenas propriedades rurais em que as águas dos telhados são viradas para a estrada, com janelas vermelhas e criações de animais. O cenário, familiar para descendentes poloneses, é muito parecido com o interior de Santa Catarina.
Gdynia
A joia mais moderna
Gdynia foi construída sobre “sete colinas”, como Roma, segundo os locais. É onde fica o atual porto da Grande Gdansk. A necessidade de um equipamento mais moderno para atender as demandas do pós-comunismo fez dela um importante polo econômico. É hoje o principal porto do Báltico polonês. Ao contrário de muitas cidades portuárias, é limpa e organizada. Tem uma praia artificial ao lado do canal naval, com uma larga faixa de areia e boa estrutura de bares e restaurantes. No verão, suas areias são tomadas por jovens jogando vôlei e praticando outros esportes, ou apenas aproveitando o calor, que raramente chega aos 25ºC. Entrar na água é para poucos, já que o Báltico é gelado mesmo no verão. Além da larga faixa de areia, existe um boulevard para caminhadas e um museu da Marinha. Das três, é a que menos tem marcas da Segunda Guerra. Um lugar ainda tranquilo, que começa a registrar os primeiros efeitos do desenvolvimento.
Sopot
Lapidada pelos alemães
Considerada a praia dos alemães, Sopot é completamente diferente de sua vizinha Gdansk, a 12 quilômetros. Na arquitetura, traços marcantes dos ricos alemães que ali construíram suas casas de veraneio. Quase todos os imóveis possuem um bay window, espécie de sacada fechada, instalada nas fachadas.
Sopot nasceu nos arredores de um hospital. O balneário era endereço para tratamento de doenças de pele e reumatismo. Ainda hoje há muitos idosos caminhando pela ruas. Mas não se engane, o lugar não é um asilo. É uma cidade pulsante na temporada de verão. Tem muita gente jovem, bons bares, restaurantes e baladas. Na rua principal, a Montecassinos, há um café chamado Domek Krzywy, projetado por Szotyncy & Zaleski, que dá a sensação de que a casa está derretendo. No fim dessa rua, há o maior píer de madeira da Europa. Vale a caminhada.
Marcos Tavares é designer e editor executivo de Imagem. Viajou a convite da Canon do Brasil.

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