Quer saber como planejar uma viagem de volta ao mundo?
BRUNA COVACCI, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
31/12/2015 22:00
A ideia de dar a volta ao mundo fascina muita gente. Quem nunca sonhou em deixar o conforto do lar, levantar voo rumo a antigas ruínas da América do Sul, seguir em direção às praias do Sul do Pacífico e, antes de retornar, explorar as selvagens paisagens da África? Rafael Sette Camara, 28 anos, autor do blog de turismo 360 Meridianos, transformou este sonho em realidade. Entre 2011 e 2012, viajou por 15 países e 4 continentes. Morou seis meses na Índia, nadou no rio Ganges, pisou no Himalaia, esquiou na Nova Zelândia e até dormiu no deserto, na fronteira da Índia com o Paquistão.
Segundo ele, o primeiro passo é definir um roteiro, procurar uma boa agência de viagens para ajudar na reserva de hotéis e comprar um bilhete aéreo de volta ao mundo, conhecido no mercado de turismo como RTW (iniciais de Round The World ou volta do mundo). Camara explica que o bilhete dá o direito de embarcar e desembarcar novamente em diversos países usando diferentes companhias aéreas. Ele é bastante flexível e tem algumas regras básicas: sair e retornar para o mesmo país, eventualmente permanecer certo número de dias em um destino e ir de um continente a outro em um único sentido (leste ou oeste).
Quem está no meio da sua viagem de volta ao mundo é a publicitária curitibana e editora do blog Mochilão Trips Carolina Moreno, 34 anos. Como desvantagem da RTW, ela aponta o planejamento. “Você precisa fazer um roteiro quando compra a passagem. E o bilhete cobra taxas pelas mudanças de planos, se você quiser ficar mais tempo numa cidade vai ter que arcar com tudo”, comenta. Outra opção para viajar o mundo é fazer tudo por conta e ir comprando as passagens quando decidir para onde vai na sequência. “Se fizer tudo por via aérea não compensa, fica mais caro do que comprar uma RTW, mas se viajar bastante por terra, o valor final pode ficar até menor do que a opção anterior, com a vantagem de que você tem liberdade para ir definindo o roteiro pelo caminho sem ficar preso a nada”, explica Carolina, que até agora visitou 23 países, 110 cidades e percorreu 77 mil km durante sua volta ao mundo. O período máximo de viagem com o RTW é de 365 dias.
Alianças
Três alianças de companhias aéreas oferecem serviços de tarifas RTW para quem quer viajar pelos sete continentes: a Star Alliance (27 companhias, entre elas Lufthansa, Singapore Airlines, TAP, Egyptair, Air China, Air India, United e South African Airways), a SkyTeam (20 empresas, como Air France, KLM, Aeroflot, Korean Air, Delta, Kenya Airway e Vietnam Airlines) e a One World (16 companhias, como TAM, LAN, Japan Airlines, Royal Jordanian, Malaysia Airlines, American Airlines, SriLankan Airlines e British Airways ).
Uma passagem de volta ao mundo custa em torno de US$ 4,5 mil, com taxas. Além disso, é necessário calcular o gasto diário da viagem, com hospedagem, comida, passeios, etc. “Gastei R$ 25 mil na minha viagem, mas na época o dólar estava bem mais barato”, calcula Camara. Carolina alerta que os custos dos destinos ainda variam muito. “Na minha viagem, por exemplo, gastei uma média de US$ 15 por dia em países do Sudeste Asiático, super barato, enquanto na Europa essa média foi muito maior, girando em torno de US$ 45 – isso porque viajei pelo Leste Europeu, e não pelos países mais caros do Oeste”, relata.
Ousadia
Antes de viajar é preciso preparação, por mais que se faça uma viagem econômica usando couchsurfing (hospedando-se na casa de pessoas que fazem parte do programa), pegando carona e cozinhando, vai precisar de dinheiro para muitas coisas. “Também é preciso ter coragem de arriscar – dificilmente você vai conseguir que a empresa onde você trabalha te libere para viajar em um ano sabático, o que significa que você vai ter que largar o emprego – é importante guardar um dinheiro para se sustentar quando voltar, até achar um novo trabalho”, explica Carolina. Os pacotes de viagens permitem fazer estas viagens em até duas semanas. “Mas isso não valeria a pena. O ideal é ter alguns meses, pelo menos uns três”, salienta Camara.
Jornalista navegou pelos quatro continentes há 44 anos
A jornalista Rosy de Sá Cardoso, 88 anos, é a prova de que o desejo de dar a volta ao mundo não é de hoje. Em 1970, ela embarcou no navio chinês de carga e de passageiro Oriental Carnival com este objetivo. “Foi a minha irmã quem descobriu sobre a embarcação em um anúncio de jornal. Como naquela época a comunicação era muito difícil nós fomos até Santos para descobrir como funcionava. Três meses depois embarcamos para a viagem”.
“Assim como a maioria das pessoas, na época eu só podia viajar 30 dias por ano, no período de férias. Na ocasião, eu trabalhava como funcionária pública e tirei uma licença prêmio de seis meses. A viagem deveria durar três meses, mas terminou depois de cinco meses e três dias ao mar. Aí está uma das grandes diferenças dos cruzeiros oferecidos atualmente com o mesmo objetivo.”
“Como era um navio de carga precisávamos descarregar mercadorias nos portos em que parávamos. Mas eles não trabalham na chuva. Então, às vezes, precisávamos estender nossa estada em alguns lugares. Em Vancouver (Canadá), por exemplo, passamos 14 dias por causa de uma greve”, explica.
Ao contrário de hoje, a tripulação precisava encontrar atividades para passar o tempo, segundo Rosy. “Cheguei a dar aulas de português para um garçom chinês e fazia bastante tricô. Outras vezes participei de uma festa à fantasia e até cantei”, comenta. Na época a viagem custou US$ 2 mil.