Nem adianta abrir as páginas ou acessar a versão on-line dos principais guias de turismo do planeta. A região da Saara aparece relegada a segundo plano — quando aparece — na lista de atrações imperdíveis do Rio de Janeiro. Mas o mercado a céu aberto, que se autointitula o maior da América Latina, não se deixa abater pela concorrência do Corcovado, do Pão de Açúcar e das praias da cidade, meio que na surdina, tem atraído cada vez mais visitantes de outros estados, países e continentes. Não há estatísticas oficiais, mas basta um passeio pelas 11 ruas que compõem a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara) para comprovar que o local, famoso por ter árabes e judeus convivendo na maior paz (e com cada vez mais chineses), atrai clientes de passaportes variados.
Israelenses, romenos, franceses e peruanos, além de uma penca de turistas brasileiros, percorrem as ruas da Alfândega, Senhor dos Passos e Buenos Aires, as principais da região, em busca de boas ofertas. Durante a Rio+20, no mês passado, membros de uma outra tribo também batiam pé por lá: dois índios, de calça jeans, camiseta, rostos e braços pintados, se misturavam à multidão, de sacolinhas nas mãos.
Mais simpática, uma turma de quatro amigas, moradoras de Israel, se esbaldava numa loja de chinelos que não soltam as tiras. Numa viagem de volta ao mundo antes de começar a faculdade, as quatro, que já haviam passado por Argentina e Chile, aportaram no Rio, depois de escala em Salvador e Foz do Iguaçu, em busca das tais sandálias. Foram para a Saara antes de visitar qualquer atração mais tradicional. “Em Israel, cada uma custa o equivalente a R$ 100. Aqui comprei cinco por este preço”, contou Tal Hagari, que levava exemplares para toda a família, assim como Shai Karasenty, Michal Shalem e Ofir Hagari. “Não vimos no guia, conhecemos aqui pelo boca a boca dos amigos. Amanhã, vamos tentar ir ao Corcovado”, disse Ofir.
O casal de romenos Edward Vlad e Adriana Rusu não quis saber de nada para os pés. Eles tinham um plano quando resolveram cruzar o mundo para conhecer o Rio: visitar o Cristo Redentor. Depois de verem uma das sete maravilhas do mundo bem de pertinho e de terem se decepcionado com o tempo nublado, saíram do Cosme Velho em direção à Saara com um objetivo reluzente em mente: comprar joias. “O ouro é muito mais barato, vale a pena. As peças podem nem ser tão bonitas, mas o preço compensa”, avaliou Vlad.
Presidente da Saara, Ênio Bittencourt diz que não há levantamento sobre quantas das 80 mil pessoas que circulam diariamente na região são estrangeiras. Mas confirma que o interesse pelo local é grande. “Muitos querem comprar ouro, mas dificilmente alguém sai sem uma malha, uma camiseta da seleção brasileira”.
Ou de itens, digamos, mais exóticos. “Muitas turistas ficam loucas com as fantasias de passistas e compram para levar para casa. Plumas e máscaras de carnaval também saem muito”, diz Sérgio Bernardo, gerente das Casas Turuna, estimando que, entre o fim do ano e meados de março, quando o movimento é maior, venda 10% de seus produtos para estrangeiros.
Mas nem só de compras a preço baixo vive a Saara. De Cuiabá, três amigos percorriam a Rua da Alfândega, olhando mais para o alto do que para o interior das lojas. Admiravam a arquitetura dos sobrados, a maioria do século 19. “A mistura de arquitetura histórica com comércio aquece a economia, mas faz perder a identidade cultural, a ideia de patrimônio preservado. Aqui, em vez de tantas lojinhas, deveria ter mais centros culturais”, reclamou Edenílson Dutra. Romero Caló era menos crítico. Deslumbrado com a miscelânea da Saara, foi taxativo: “Vir ao Rio e não conhecer a Saara é como ir para a Bahia e não comer acarajé!”.
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