Turismo

Sarmiento é amostra concentrada de Mendoza

Irinêo Baptista Netto, enviado especial
09/08/2012 03:02
A Avenida Sarmiento é cortada ao meio pela Praça Independência, deixando três quadras ao Leste e três ao Oeste, bem no centro de Mendoza, a cidade argentina dos vinhos. Qualquer bebedor de tintos e brancos deve reconhecer (ou achar que reconhece) nomes como Santa Julia, Catena Zapata, Trapiche, Norton e Nieto Senetiner. Todos, vinhos produzidos em território mendocino.
Uma vez lá, não se pode ignorar as vinícolas, certo? Sim, a não ser que o período de permanência na cidade seja de poucas horas. Sem tempo para visitar os produtores de vinho, a Avenida Sarmiento faz valer a viagem.
A metade leste da Sarmiento é exclusiva para pedestres, a peatonal, ou calçadão, limitada pela Avenida San Martin numa extremidade e pela praça na outra. É onde se concentram lojas e cafés. A metade oeste é aberta para o trânsito de veículos, entre a praça até a Avenida Belgrano. É onde ficam alguns dos melhores restaurantes da cidade.
A exploração pode começar pela Avenida San Martin. É fácil perceber que se está no centro da cidade. O comércio domina, com uma quantidade impressionante de pessoas circulando. A multidão dita o ritmo da caminhada durante boa parte do trajeto, divindo espaço com mesas na calçada. Escapar pela rua não funciona porque o trânsito é nervoso.
Perto da praça, uma banda maltrapilha de sete músicos toca Stardust e o homem do clarinete faz uma imitação digna de Louis Armstrong. O público é pequeno, mas entusiasmado. Há um banjoísta, um saxofonista, um trompetista e até um baterista.
Lojas de roupas celebram a chegada do inverno como vilarejos de séculos passados comemoravam a colheita. “É inverno. Aproveite!”, diz uma das vitrines, em inglês. Para quem vem de lugar onde não neva, é curioso ver à venda esquis e outros adereços para a prática de esportes da estação. Outra loja exibia uma variedade colorida de bússolas e canivetes.
O tempo passa rápido (fome) e é hora do almoço. Do outro lado da Praça Independência, os restaurantes se enfileiram (em apenas uma quadra, são nove, com nomes literários como Facundo e Tristán). Depois de consultar alguns cardápios expostos nas calçadas e de evitar rodízios, desviando de garçons que ficam à porta dos estabelecimentos caçando clientes, chega-se ao Azafrán, uma casa de 80 anos muito bonita. A música ambiente é Takes Two to Tango. Louis Armstrong, de novo.
O lugar surgiu dez anos atrás como um armazém que vendia compotas, conservas, azeites e vinhos. Hoje, continua com as estantes em que expõe os produtos à venda, mas funciona também como restaurante de nouvelle cuisine – pequenas porções de comida com uma apresentação criativa – em um horário largo de atendimento: abre para o almoço e atende até a meia-noite. O que pode exasperar quem prefere sentar à mesa e comer até perder os sentidos – neste caso, melhor é optar pelos rodízios de carne, que abundam em Mendoza.
O menu fixo, com uma entrada, prato principal, sobremesa e uma taça de vinho (o do dia se chamava Yuquen, um malbec da casa Ruca Malen, muito bom) custou 96 pesos, ou cerca de R$ 40. O capricho nos pratos simples e o ambiente fazem jus à fama do lugar.
O comércio fecha por volta das 13 horas para reabrir às 17 horas e atender até as 21 horas. Em uma loja, artigos que se pretendem divertidos, como a camiseta com os dizeres: “All you need is wine”, uma brincadeira com a canção All you need is love, de John Lennon e Paul McCartney.
Outra, na vitrine, diz: “Busque conselho com o vinho, mas depois decida com água”. Alguém pode se incomodar com a propaganda em torno da bebida, quase onipresente na cidade, mas o vinho é o combustível que faz Mendoza funcionar.

Amostra de Mendoza