Questionado sobre qual era a intenção ao usar o jogo de palavras, o Ministério do Turismo informou por meio da assessoria de imprensa que não existiu, em nenhum momento, a intenção de fazer paródia sobre qualquer movimento.
“O conceito foi desenvolvido em parceria com os secretários de turismo dos três estados, além dos empresários que atuam na região. O slogan ‘O Sul é meu destino’, criado por eles, consta apenas como um selo na assinatura final do vídeo, ao lado do Ministério do Turismo e Governo Federal”, diz a nota.
O comunicado diz que a pasta atua na promoção dos destinos brasileiros e “repudia qualquer movimento ou ação que impacte negativamente na imagem do país”.
Duplo sentido
Para o jornalista e historiador Tau Golin, professor do curso de pós graduação em História da Universidade de Passo Fundo (RS), o duplo sentido do slogan é inegável — e problemático.
Golin, que é pesquisador do Rio Grande do Sul (incluindo seus movimentos separatistas), entende a referência como um recurso comum da publicidade — aproveitar um discurso já conhecido pelo público para criar novas mensagens.
No entanto, ainda que tenha a intenção de subverter a mensagem separatista, a referência ao lema “O Sul é meu país” acaba funcionando como uma espécie de reconhecimento do movimento, além de trazer junto os significados associados a ele.
“É o uso de uma noção da cultura geral para uma coisa específica, mas que traz seu conteúdo com a expressão. E desse jeito está reafirmando aquela noção primeira. Aí está todo o problema”, comenta.
Para o professor, esta mensagem dúbia é reforçada pelas palavras escolhidas pelo slogan, que acabam trazendo o sentido de destino final. “Obviamente, tem uma intenção de um ‘lugar melhor’”, diz.
“Para as outras campanhas, não teve essa conotação. Esta chega ao limite da valorização. E é o lugar de um discurso que está posto, o discurso separatista, de ser o melhor lugar do Brasil.”
Para o professor Fabio Luiz Witzki, coordenador dos cursos de Comunicação Social da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), não há como dissociar o slogan da campanha com o movimento separatista, que tem muita força midiática. O resultado é que ideias como a de que o restante do país “não presta” e “não trabalha” acabam coladas na mensagem.
Segundo o pesquisador, que é publicitário, mesmo que a citação tenha o objetivo de parodiar o lema separatista e fazer uso do humor, a referência causará reações negativas.
“Não dá para esperar que o problema se resolva só porque é humor, ou que há licença poética para fazer a relação”, diz. “É preciso levar em consideração que se trata do Ministério do Turismo do país, e que essa paródia diz respeito a algo que é, inclusive, inconstitucional.”
Ele também ressalta que o slogan, diferentemente das campanhas anteriores para o Nordeste e para a Amazônia, não faz referência a atributos positivos da região Sul. “A única coisa que está presente é este diálogo com ‘O Sul é Meu País’”, critica.
Campanhas para todo o país
A ação para a região Sul faz parte de uma série de campanhas publicitárias lançadas pelo governo federal — a primeira, lançada em dezembro de 2016, promoveu o Nordeste (“O verão chegou. E espera por você no Nordeste”); em maio, foi a vez da Amazônia, com a campanha “Descubra uma nova Amazônia”.
Imagem da campanha “O verão chegou. E espera por você no Nordeste”, lançada pelo Ministério do Turismo em dezembro de 2016. Imagem: Divulgação
Segundo o Ministério do Turismo, a campanha para a região Sul segue até o dia 23 de setembro com anúncios em revistas, jornais, internet e televisão paga, além de aeroportos, metrô, walkmídia e pedágio. O foco serão as cidades de Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na internet, haverá vídeos com youtubers e influenciadores digitais, tuítes de celebridades nascidas no Sul com a hashtag #sulémeudestino, publieditoriais e divulgação com blogueiros de viagem.
Também serão veiculados filmes publicitários de 30 segundos com os temas “Café Colonial”, “Cataratas” e “Festa”.
A pasta vai investir R$ 5 milhões na primeira etapa. Os recursos totais devem chegar a R$ 20 milhões divididos entre governos estaduais e a iniciativa privada.
A campanha será lançada em Itajaí nesta quinta-feira (24), com presença do ministro do Turismo, Marx Beltrão, e do presidente da Embratur, Vinicius Lummertz.
Segundo a pasta, a fase de diagnóstico da campanha detectou interesse dos brasileiros pela região Sul. “As serras, o frio, as praias, as diversas possibilidades de esportes de aventura, a culinária, as belezas naturais e a mistura de culturas desta região despertam o interesse do viajante”, explica a nota. “Diante desse cenário, o maior desafio foi mostrar toda a diversidade da região sob uma nova perspectiva.”