Ao chegar à estação de Smichov, em Praga, onde uma multidão de famílias aguarda, a máquina começa a ranger no meio do vapor e se transforma no centro das atenções.
Fabricado na década de 50 e com cinco eixos de motor, esse trem de carga tcheco é um dos mais emblemáticos por causa de sua aerodinâmica e potência. Haviam 510 unidades do mesmo exemplar na década de 1950, mas esse é o último sobrevivente da era da eletrificação das linhas ferroviárias, concluída nos anos 60.
Entre os feitos desta locomotiva está o fato de ter transportado em 1951, sozinha, 1.400 toneladas de carvão em um trajeto com inclinação nas imediações de Praga, quando os parâmetros do lugar estabeleciam um peso máximo de mil toneladas.
Em 1958, uma época obcecada em demonstrar ao mundo as virtudes do regime socialista, uma “556.0” com sua inconfundível estrela vermelha na frente transportou por terreno plano 5.100 toneladas de carvão na zona de Ostrava.
O certo é que com uma velocidade máxima de 80 km/h e potência de 1.620 kW (2.200 cavalos) este trem se tornou um transporte insubstituível na Tchecoslováquia e grande motivo de orgulho do regime.
Embora viajar em trem a vapor tenha um ar romântico, a fuligem que sai pela chaminé dificulta a vida do passageiro que tenta se aventurar a olhar pela janela.
Atualmente, em seu caminho de Praga até o castelo dos reis em Krivoklat, o comboio vai acompanhando o curso do rio Berounka, e é saudado durante sua passagem por canoístas, ciclistas, veranistas e pessoas dos povoados que atravessa.
Antes de entrar no vale que leva ao castelo de Krivoklat, o trem faz uma parada técnica em Beroun para lubrificar as hastes e parte do complexo conjunto de engrenagens, enquanto os passageiros aproveitam para almoçar.
É uma ocasião também de subir à cabine e ver a caldeira, o depósito de carvão de 20 metros cúbicos, a caixa d’água de 35 metros cúbicos, e se surpreender com o pouco espaço, constatando que ali só cabem o maquinista, o caldeireiro, o piloto e outro assistente.
Como não há plataforma rotatória em Beroun, a locomotiva – colocada agora no outro extremo do trem – deve sair em posição inversa, o que não representa nenhum problema para o maquinista, embora dificulte um pouco a visibilidade e torne indispensável o trabalho do piloto, que conhece o terreno com perfeição.
Ao chegar à Krivoklat, as pessoas não esquecem de fazer as últimas fotos do trem antes de subirem ao castelo e ouvirem histórias curiosas.
Uma delas são os 19 anos de casamento secreto entre Fernando do Tirol – filho do espanhol Fernando de Habsburgo, rei de Boêmia (1526-1564) – e a burguesa Filipina Welser.
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