No ano passado, a Secretaria Municipal da Saúde registrou um total de 1.998 notificações de violência contra mulheres. Os dados levantados mostram um “inimigo íntimo”, já que 64% das ocorrências relatadas aconteceram dentro de casa. Além disso, 44,7% das mulheres eram casadas ou viviam em união consensual estável e, em 32.2% dos casos, o marido ou companheiro foram os agressores mais frequentes. As agressões físicas somam um total de 47,6%, seguida da psicológica com 32,2% e da sexual, 6,8%.
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De acordo com Fernanda de Ferrante, professora de psicologia do UniBrasil Centro Universitário, a violência pode ser culpa de um relacionamento abusivo, que muitas mulheres sequer se dão conta de estar passando. “Eles são caracterizados por um jogo de controle, violência e ciúmes”. Segundo ela, o abuso pode começar com qualquer atitude que priva a mulher da sua liberdade como precisar dar satisfação demais e até terminar em morte ou estupro.
A especialista aponta que a história não é favorável com as mulheres, e que muitas se baseiam em erros culturais para justificar o relacionamento que vivem. “É um reflexo de quando dizemos que as meninas não podem falar palavrão nem brincar na rua, que isso é coisa de menino”, tudo isso pode influenciar na maneira de agir em um relacionamento a dois. A mulher precisa entender que não é sua obrigação servir o parceiro. “É muito comum ouvir de uma mulher abusada que ela foi traída porque é coisa de homem, ou porque foi grosseiro porque está muito estressado”, diz.
O parceiro com perfil de abusador costuma mascarar o comportamento inadequado, dizendo que é um cuidado excessivo. No começo a mulher até acha isso bonito. “Mas é um ciclo que vai aumentando. Antes ela não podia sair sozinha porque era perigoso, depois os quadros de ciúme aumentam, ela não pode mais encontrar os amigos e as antigas amigas são comparadas a ‘vagabundas’. Não existe mais vida além do relacionamento e do trabalho (quando existe)”, comenta. O discurso seduz. Ele justifica suas atitudes dizendo que busca a felicidade da parceira. Ela acredita, confunde tudo com excesso de amor e cuidado. “É diferente da violência que acontece na rua porque ela é baseada em amor. Você não consegue acreditar que alguém que te ama possa te prejudicar”, diz.
Quando as agressões evoluem podem criar traumas para toda a vida. Às vezes, a violência psicológica pode ferir mais que a física, pois a mulher perde a sua força, sua autonomia. Assim o abusador consegue mantê-la na relação. “Ele vai ‘coisificar’ a parceira a tratando como um objeto de posse que não tem vontade própria e nem sequer pode questionar qualquer situação”, fala. A violência doméstica costuma ser cíclica. Uma pessoa abusiva pode dizer que ama você e que irá mudar, portanto você não tem que deixá-la. No entanto, quanto mais vezes você a recebe de volta, mais controle ela ganhará sobre você. Tenha certeza de prestar atenção em suas ações e não apenas em suas palavras.
Denuncie
A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência, ou pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), serviço da Secretaria de Políticas para as Mulheres. A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o país. Para proteger e ajudar as mulheres a entenderem quais são seus direitos, em 2014, a Secretaria lançou um aplicativo para celular (Clique 180) que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha. A prefeitura também oferece a Casa da Mulher Brasileira, que acolhe as mulheres em situação de violência. A terapia é um processo fundamental. A mulher precisa saber que tem direitos e voltar a ter vontade própria.
Cinco sinais de que seu parceiro é abusivo
- Ciúmes
É ciumento com sua família, amigos e colegas de trabalho. Tenta isolar você de qualquer um desses grupos. Acusa você, sem razão, de traição ou de flertar com outros homens. Pergunta onde você estava e com quem estava de uma maneira acusadora.
- Chantagem
Uma pessoa abusiva exige que ser o centro das atenções. É comum ouvir: “mas você vai ver sua mãe e me deixar aqui sozinho”, por exemplo.
- Superioridade
Ele está sempre certo. Se for preciso, vai xingar para sair por cima da conversa. Seu objetivo é fazer com que você se sinta fraca, de modo que você não queira deixa-lo pois “precisa” dele.
- Promessas
O abusador vai pedir desculpa e prometer mudar. Oferecer uma vida nova e melhor sempre estará nos seus planos.
- Punição
Uma pessoa abusiva emocionalmente pode privar você de sexo, de intimidade emocional, ou joga um jogo silencioso como punição quando não consegue as coisas do seu jeito.