Comportamento

Brasileira é uma das quatro mulheres que praticam o esporte mais radical do mundo

Carolina Werneck
03/11/2017 12:47
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Rita salta da KL Tower, na Malásia. Foi vendo o vídeo de um salto nesse mesmo ponto,que ela se interessou pelo base jump. Foto: Arquivo pessoal | Carolina Werneck Bortolanza

Há seis anos, Rita Birindelli saltou do alto de uma ponte entre os municípios de Uberlândia e Araguari, em Minas Gerais. O voo deu início a uma aventura pelo mundo: Rita faz parte do seleto grupo  de quatro mulheres brasileiras que praticam o base jump, um dos esportes mais radicais do mundo. Curitibana de coração, ela tem uma sólida história de amor com os ares.
Tudo começou em 2010, quando um amigo a convidou para saltar de paraquedas pela primeira vez. “Eu me apaixonei no primeiro salto. Se fechar os olhos, ainda hoje consigo sentir“, conta. O amor foi tão grande que ela entrou em um curso de paraquedismo. Mas, no quarto salto do curso, uma torção no pé a obrigou a ficar “de molho” por três meses.
Rita salta da KL Tower, na Malásia. Foi vendo o vídeo de um salto nesse mesmo ponto que ela se interessou pelo base jump. Foto: Arquivo pessoal
Rita salta da KL Tower, na Malásia. Foi vendo o vídeo de um salto nesse mesmo ponto que ela se interessou pelo base jump. Foto: Arquivo pessoal
Como teve que ficar em casa, aproveitou para ver muitos vídeos de paraquedismo. Foi assim que ela descobriu o base jump, esporte em que as pessoas saltam de pontos fixos como pontes, prédios e penhascos. Vem daí, aliás, o nome da modalidade. “Base” é a sigla de “building” (prédio), “antenna” (antena), span (ponte, arco) e “earth” (terra, ou seja, penhascos).
“Um dia, achei um vídeo de pessoas saltando de uma torre na Malásia e pensei comigo: quero fazer isso.” A determinação de Rita acabou convencendo um dos amigos mais experientes, que se tornou seu professor e mentor.
Muito além do Barigui
Desde então já foram quase 400 saltos. A menina que adotou Curitiba como lar aos quatro anos de idade deixou de frequentar os parques e redutos do rock da capital do Paraná para explorar outras fronteiras. Ela já saltou no Brasil, Itália, Suíça, Grécia, Malásia, Espanha, Coréia do Sul, Estados Unidos e Indonésia.
A falta de patrocínio complica, mas não é o bastante para fazê-la desistir de sua paixão. “Para fazer base jump só sendo muito apaixonada por isso. O cenário para esse esporte é difícil, precisa de muito investimento e não tem retorno financeiro ou apoio”, detalha. Para se manter saltando, ela economizou dinheiro por algum tempo e, hoje, trabalha fazendo bicos em restaurantes e bares.
A paulistana de alma curitibana já saltou em nove países diferentes. Na imagem, salto em Lauterbrunnen, Suíça. Foto: Arquivo Pessoal
A paulistana de alma curitibana já saltou em nove países diferentes. Na imagem, salto em Lauterbrunnen, Suíça. Foto: Arquivo Pessoal
Rita falou com o Viver Bem diretamente da Espanha, onde está tirando sua certificação para dar aulas de paraquedismo e ser instrutora de salto duplo. Assim, pretende ter mais facilidade para investir no que gosta, no futuro. “Ter apoio e patrocínios de marcas ligadas à imagem, esportes, aventura e inspiração seria bem-vindo também”, completa.
Subestimadas
Mesmo com tanta experiência, ela reclama que ainda existe muito preconceito com as mulheres que estão inseridas no mundo dos esportes radicais. “Eu já ouvi várias vezes que mulher no paraquedismo ou base jump é igual a uma tartaruga em cima de um muro: alguém colocou lá”, brinca.
Da esquerda para a direita, Paloma Oliveira, Rita Birindelli e Julia Botelho, três das quatro mulheres brasileiras que praticam o base jump. Foto: Arquivo Pessoal
Da esquerda para a direita, Paloma Oliveira, Rita Birindelli e Julia Botelho, três das quatro mulheres brasileiras que praticam o base jump. Foto: Arquivo Pessoal
Para a atleta, sair do modelo feminino e do que é ser mulher é uma forma de quebrar um padrão. “E, para isso, é preciso enfrentar a sociedade. Por meio desse esporte, das imagens e divulgação espero inspirar cada vez mais mulheres e meninas a sonharem e serem o que quiserem, sem limites e sem padrões impostos por outros.” Por isso, além de publicar suas experiências no Instagram, ela está montando um projeto em que vai ministrar palestras voltadas à construção dos sonhos femininos. A ideia é que ele seja posto em prática já em 2018.
Domando o medo
“Para mim, o medo sempre está ali. Então, é questão de saber que você tem as técnicas e habilidades necessárias para fazer o salto. E, depois que você o deixa para trás, é uma sensação de vida. É como se o tempo passasse em câmera lenta. Para mim é uma ode à vida, uma contemplação. É quando você se sente vivo e entende que a morte também faz parte dessa vida e que cada segundo importa e faz a diferença.”
Quem quiser praticar o base jump precisa, além de coragem, de muito preparo. É preciso ter feito pelo menos 150 saltos de paraquedas antes de começar a saltar de pontos fixos. “Hoje existem cursos no Brasil e no exterior. A pessoa vai aprender sobre as panes, navegação e particularidades de cada objeto a ser usado, sobre o equipamento. Além disso, também aprende a dobrar o paraquedas”, explica Rita. Ela diz que, atualmente, o curso custa em média R$ 3 mil.
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