Comportamento

Adolescente impulsivo é questão hormonal ou de educação? “Mamãe é Punk” responde

Amanda Milléo
05/04/2018 12:00
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Ana Cardoso, autora do Mamãe é Punk, ao lado da filha adolescente, Anita, que serviu de inspiração para o livro Foto: Divulgação

Pais têm medo da adolescência dos filhos. A mudança no comportamento, a bagunça do quarto, a incapacidade de decidir e os riscos das novas experiências tiram os adultos da confortável situação de pais de uma criança para se tornarem os pais de um adolescente.
Com Ana Cardoso não foi diferente. A curitibana relata no livro Mamãe é Punk: Crônicas da Adolescência (Editora Belas Letras, R$ 34,90) os primeiros vislumbres da adolescência da filha Anita, com 13 anos, e sugere aos pais como lidar com os desafios da época – desde a conversa sobre sexo e drogas às confusões entre os grupos populares e os “loosers” (perdedores, em português) na escola.
“Dá um medinho, é claro [como a adolescência muda o jeito de ser mãe]. Você fecha os olhos e imagina teu filho em situações perigosas. E sabe que, aconteça o que acontecer, tem um dedo teu ali. Foi você quem educou, quem está formando aquela pessoa”, alerta Ana.
Confira a entrevista completa com a jornalista, socióloga e autora de quatro livros, entre eles o best seller A Mamãe é Rock, mãe da Anita, 13, Aurora, 5, e mulher do escritor  e colunista do Viver Bem Marcos Piangers.
(Foto: Divulgação)
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A partir da sua experiência, quais são as características únicas dos adolescentes? Ou eles são em alguns momentos meio crianças ainda, e em outros mais adultos? 
A adolescência vai chegando. O mau humor, a indecisão, a preguiça, a fome, a bagunça no quarto, tudo é progressivo. O cérebro deles é quase do tamanho do nosso, mas ainda não funciona como o de um adulto. Isso faz com que os adolescentes sejam mais impulsivos, ponderem menos e sintam muita instabilidade emocional. Estas questões são fisiológicas, não dependem da educação e de bons modos, por exemplo.
Quando você entendeu que a “culpa” do comportamento adolescente não era única e exclusiva dos hormônios? É difícil para os pais não associarem imediatamente esse comportamento aos hormônios, certo?
Eu descobri pesquisando em livros e conversando com psicólogos. Os hormônios sexuais moldam os corpos, mas o que acontece na cabeça dos adolescentes é muito complexo para reduzirmos a isso. O cérebro é muito flexível, segue crescendo e fazendo conexões muito rápidas nessa fase, isso deixa os adolescentes agitados e propensos a agir sem raciocinar. Nós, adultos, precisamos estar perto, ouvi-los, ajudá-los a entenderem o próprio estresse sem nos contaminarmos.
A história dos grupos nas escolas, com a separação daqueles populares e os não tão populares, é bem conhecida. Como você orientaria os pais cujos filhos sofrem com essa exclusão?
Minha filha sempre faltou aula e isso muitas vezes a colocou numa situação ruim na escola. Quem quer fazer trabalho com uma menina que nunca vai? Foi este o motivo, inclusive, de termos nos mudado para Curitiba. Aqui tenho família e elas não precisam mais viver na estrada com a gente. Esse lance das “garotas populares” sempre é assunto. Muitas vezes escuto elas falando de colegas populares. Acho que não ser popular protege nossos filhos de muita pressão. Quem é popular, não quer perder o posto e, às vezes, o preço a pagar é caro. Acho que é mais preocupante ser mãe ou pai de uma criança popular do que de uma `normal´.
Foto: Divulgação
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O quarto bagunçado é um clássico adolescente. Mas, não seria algo que se ajeita com o tempo? 
Minha casa é bagunçada, não é esse o ponto. Um quarto bagunçado não é preocupante, ele é desagradável para o próprio adolescente estudar, encontrar suas coisas, ficar numa boa. A bagunça faz parte, o que é “nocivo” é a mãe ficar arrumando tudo sem que o filho se responsabilize pelo seu espaço.
No livro você ressalta a conversa sobre drogas e que, na adolescência, os pais se transformam em copilotos dos filhos. Essa mudança de fase da vida da sua filha Anita causou um impacto na sua forma de ver a maternidade? Ou mesmo no seu jeito de ser mãe?
Dá um medinho, é claro. Você fecha os olhos e imagina teu filho em situações perigosas. E sabe que, aconteça o que acontecer, tem um dedo teu ali. Foi você quem educou, quem está formando aquela pessoa. Acho que o livro é uma resposta para os meus próprios medos: qual a melhor forma de abordar assuntos tão graves e sérios? Toda mãe se faz essa pergunta. É muito necessário e é nossa responsabilidade.
Você sente medo de que o livro exponha demais você, sua filha e família?
Há anos escrevemos sobre nossa família, não acho que este livro exponha mais do que os outros. Encaro essa publicitação de questões familiares como um caminho interessante para abordarmos muitas outras questões tão necessárias como respeito, vínculo e esperança de um mundo mais justo e seguro para a sociedade.

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