Comportamento

Água mineral ou “torneiral”?

Daniela Neves- danielan@gazetadopovo.com.br
27/09/2009 03:16
Você está sentado à mesa de um restaurante fino em Nova York e recebe como oferta da casa uma jarra de água “torneiral”. Estranho? Pois isso é realidade. A água da torneira, que nos últimos anos esteve cercada de dúvidas sobre sua qualidade, está alavancando uma nova onda de mudança de costumes. O governador do estado de Nova York, David Paterson, decretou em maio que o dinheiro público não seria mais gasto para comprar água engarrafada e os funcionários do governo deveriam começar a frequentar o bebedouro. Os estados de Virgínia e Illinois já tinham tomado essa atitude. Em Londres, a campanha do jornal Evening Standard, Water on Tap (água na torneira) conseguiu a adesão de 141 bares, restaurantes e cafeterias, entre eles alguns das redes McDo­­nald’s, que oferecem aos clientes jarras de água da torneira, de forma gratuita.
Os adeptos do movimento defendem que o consumo de água encanada, além de trazer economia, diminui a produção e descarte das garrafas de plástico. Esse lixo altamente poluente é um grande pepino a ser descascado por quem defende a natureza.
A produção de água mineral engarrafada é uma atividade em expansão. Somente no Brasil, quarto mercado consumidor, cresce certa de 10% ao ano. Aqui, bebe-se 8,3 bilhões de litros em um ano, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigerantes e Bebidas Não-Alcoólicas (Abir).
Qualidade
O Brasil tem rígidas regras para o tratamento da água coletada em rios e mananciais. O processo é regulamentado pelo Ministério da Saúde e prevê, entre outras coisas, análise da água nas fases de tratamento e de distribuição. Ao todo são 76 procedimentos feitos no processo de tratamento. Depois de tratada, a água recebe cloro, flúor e outros componentes químicos que garantem sua potabilidade. “Transformamos a água bruta em cristalina e removemos a contaminação microbiológica, como coliformes, em 95% . Os outros 5% são garantidos com o cloro residual”, diz Age­­nor Zarpelon, Coorder­nador de Produção da Sanepar para Curitiba e Região Metro­­po­­litana.
A Sanepar garante a qualidade da água até chegar ao hidrômetro. Desse ponto até a torneira, a responsabilidade é do proprietário ou do condomínio. E aí aparecem alguns problemas. O recomendado é a limpeza da caixa d’água a cada seis meses para eliminar possível contaminação.
Em países onde a água encanada vai direto para a torneira, a circulação dá mais garantia de qualidade, mas não é o caso do Brasil. “A água parada um ou dois dias dentro da caixa d’água, que não é limpa a cada seis meses, é o suficiente para que haja contaminação por bactérias e toxinas produzidas no próprio reservatório. Sendo consumida diretamente da torneira, pode causar problemas de saúde, o que vai depender da resistência de cada pessoa”, diz Fabiana Andreoli, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da PUC-PR.
Fabiana ainda chama atenção para outra característica importante dos mananciais brasileiros: as ocupações irregulares cada vez mais presentes nessas áreas de captação. Caso da região do Iraí, em Piraquara, um dos principais pontos de captação para Curitiba e região. Sem falar do uso indevido de pesticidas, fertilizantes e medicamentos não gerenciados corretamente em áreas de mananciais.“O tratamento dessa água ainda é economicamente viável. Mas o trabalho das concessionárias sofre influência do uso e ocupação do solo da região, que interferem bastante na qualidade da água. O tratamento consegue salvar a água dentro dos padrões de potabilidade. Mas se a situação se agravar, será necessária uma nova tecnologia, que encarece a água de torneira”, diz Fabiana.
Serviço
Para saber como limpar corretamente a caixa d’água, acesse www.sanepar.com.br e entre no Guia do Usuário.