Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença… As juras de casamento servem muito bem para explicar o conceito de amizade. Não dá para ser superficial, amigo de verdade conhece as manias do outro, o jeito de falar, os gostos e dilemas. O publicitário André Luiz Graciano, o Deko, de 31 anos, sabe muito bem o significado disso. Ele e seus três amigos – Allan, Guilherme e Otávio – se conhecem desde os tempos das brincadeiras de infância no Jardim Ambiental, na região do Alto da XV. A amizade entre os quatro dura mais ou menos duas décadas.
Deko e Guilherme são primos e costumavam brincar juntos. Allan acabou se juntando aos dois numa troca de figurinhas. Por último, Otávio, que tinha fama de marrento, acabou virando amigo dos três depois de uma “intimada” que levou do grupo. “Ele passava todo dia em frente ao nosso QG, e nós o provocávamos. Até que um dia resolvemos encarar o Otávio, que acabou virando nosso amigo depois”, lembra Deko.
Só que hoje a turma cresceu, todos casaram e a “gangue” agora tem oito membros, ou melhor, 13. Isto porque os quatro casais resolveram passar pela experiência da paternidade juntos. A turismóloga Edilaine Cosme Camargo, de 29 anos, esposa de Otávio, diz que a vinda dos filhos deixou o grupo ainda mais unido. “Cada gravidez era motivo de churrasco, cada escolha de nome, descoberta de sexo… aliás, tudo é motivo de churrasco”, brinca Edilaine.
As primeiras aulas de surfe, as madrugadas de videogame, a primeira balada… Os quatro fizeram muita coisa juntos. Para o representante comercial Otávio Augusto Bastos Camargo, de 31 anos, a amizade do grupo o ajudou a superar a morte da mãe, quando ele tinha 12 anos. “Eu conseguia me abrir muito mais com eles do que com minha família. Eles hoje são também parte da minha família”, resume.
Dia Mundial do Amigo
Era para ser uma experiência de apenas algumas semanas quando o analista de sistemas aposentado Jurandyr Mendes Monçores, de 78 anos, decidiu saber como era viver no Recanto do Tarumã, lar de idosos de Curitiba. Há seis anos morador do asilo, Seu Jura – apelido estampado em seu elegante chapéu panamá – decidiu viver definitivamente no recanto quando sentiu que precisava ajudar o próximo de alguma forma. “Já é conhecido aquele velho ditado: quem não vive para servir, não serve para viver”, define o aposentado.
Foi com essa crença que seu Jura deixou para trás a casa que tinha, com tevê a cabo, internet de banda larga e independência. Conforto nunca faltou ao analista de sistemas. Porém, ao se separar da esposa, há quase uma década, e com os filhos adultos e casados, sentiu que precisava abraçar uma causa. Seu jeito maroto da Baixada Fluminense conquistou vários moradores do recanto. Marcelo, Liminha, João Paulino, Mauro Feliciano, entre tantos outros, ganharam um amigo especial, que aconselha e sabe escutar com atenção a todos.
Talvez tenha sido a capacidade de ouvir que aproximou Seu Jura da criadora do projeto História Viva, Roseli Bassi, de 50 anos, levando-os a se tornarem grandes amigos. “Quem diz que os iguais não se atraem está completamente enganado”, garante o carioca. Roseli ouve histórias reais relatadas por moradores de asilos e as repassam a crianças em forma de contos de fadas. A vontade de ajudar ao próximo é comum aos dois, cuja amizade dura seis anos.
Roseli confessa que nunca imaginou que a relação entre eles seria tão perfeita. “Eu admiro a capacidade que ele teve de renunciar à vida lá fora para se dedicar aqui. Quando eu crescer, quero ser igual a ele”, brinca. O afeto dela por Seu Jura inspirou uma grande ideia: meses atrás, Roseli resolveu fazer uma campanha de arrecadação de dinheiro para comprar um triciclo ao amigo. Jurandyr tem dificuldades para caminhar, e o equipamento o ajudaria a frequentar as sessões de fisioterapia com mais facilidade.
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