Comportamento

Após paralisia e coma, jovem dá a volta por cima com golpes de jiu-jitsu

Raquel Derevecki
09/01/2019 07:30
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Praticante de jiu-jitsu, Pablo Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e encontrou na prática uma forma de homenagear o irmão, seu grande incentivador. Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

“Se ele sobreviver, poderá ficar cego e nunca mais andar”. Essas foram as palavras dos médicos que atenderam o jovem Pablo Souza de Morais que foi vítima de uma grave infecção no cérebro em janeiro de 2006. O rapaz – que hoje pratica jiu-jitsu e quer se tornar atleta profissional – sofreu várias paradas cardiorrespiratórias, ficou 42 dias em coma e acordou no Hospital de Clínicas (HC), em Curitiba, completamente paralisado.
“Lembro como se fosse hoje. Eu abri os olhos e não sabia onde estava. Tinha dificuldade para enxergar, mas percebi que estava coberto por um lençol e por diversos eletrodos na cama de um hospital. Tentei levantar, mas meu corpo não respondia. Tentei gritar para pedir ajuda, mas minha voz simplesmente não saía. Me desesperei e comecei a chorar”, recorda o morador de São José dos Pinhais, município da Região Metropolitana de Curitiba. A mãe Janete Souza, de 47 anos, ouviu o choro do filho e percebeu a gravidade da situação.

“Antes meu menino jogava bola, corria e brincava sem parar. Com apenas 10 anos de idade ele não andava mais, não falava, quase não enxergava e estava com um lado do corpo completamente paralisado, do rosto até o pé. Foi muito difícil”.

Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador.  Fotos: André Rodrigues
Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador. Fotos: André Rodrigues
A mãe conta que os primeiros sintomas da doença do garoto se confundiam com uma simples gripe e, por isso, a situação demorou para lhe parecer real. “Ele se queixou de dor de cabeça e, como sempre teve problemas de garganta, achei que fosse isso. Dei remédio e ele foi brincar”. Só que a dor piorou durante a noite e os vômitos começaram. “Decidi levá-lo no posto de saúde pela manhã. Estávamos indo a pé e, no meio do caminho, o Pablo não tinha mais forças para andar. As pernas amoleceram”, relata a mãe.
Uma viatura policial levou o garoto até a unidade de saúde e uma longa bateria de exames começou. “Ninguém sabia ao certo o que ele tinha, então o levaram ao HC para fazer ressonâncias e exames de coluna. Lá, disseram que era meningite viral [inflamação das membranas que cobrem o cérebro]”.
O menino recebeu alguns medicamentos, mas seu quadro piorou. “Ele foi perdendo outros movimentos e teve oito paradas cardíacas. Cada vez que os médicos chegavam para reanimá-lo, eu achava que ia perdê-lo e aquilo era desesperador”, confessa a mãe.
No dia 10 de janeiro de 2006, Pablo foi diagnosticado com encefalomielite – inflamação grave do cérebro que pode causar convulsões, coma e levar à morte. Diante do quadro preocupante, o menino foi induzido ao coma pela equipe médica e passou 42 dias nessa condição. “Quando ouvi o choro dele e percebi que meu filho estava acordado, a esperança reacendeu”, revela a mãe, que passou a acompanhar o menino em sessões diárias de fisioterapia.
Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador.  Fotos: André Rodrigues
Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador. Fotos: André Rodrigues

Novo sonho

Durante a reabilitação, os movimentos das pernas e braços voltaram, mas ainda era difícil caminhar, segurar objetos com a mão direita e enxergar. “Fiquei com aproximadamente 40% de visão no olho esquerdo e 75% no olho direito”,  conta o rapaz que, mesmo com as dificuldades, retomou os estudos e começou a nutrir um sonho: ser atleta profissional.
Mancando bastante, Pablo tentou se adaptar ao karatê e até se aventurou em um jogo de futebol. “Mas não dava”, lamentou o rapaz. Foi aí que o irmão mais velho Hélio Souza de Morais – que faleceu em 2018, aos 26 anos – o convidou para uma aula experimental diferente.

“Eu tinha 16 anos e comecei as aulas de jiu-jitsu praticamente arrastando minha perna. Eu era muito duro e tinha falta de equilíbrio”.

Os alongamentos realizados durante as aulas e os movimentos desenvolvidos nas lutas auxiliaram na reabilitação e, em seis meses, Pablo já percebia melhora. “Só que minha família passou por problemas financeiros e eu fiquei três anos sem treinar”, conta o rapaz, que depois conseguiu retornar ao esporte.
Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador.  Fotos: André Rodrigues
Pablo Souza. Praticante de Jiu-jitsu na acadêmia R1 Chute Boxe. Souza teve uma doença cerebral aos 10 anos e que causou algumas limitações (paralisação do corpo). Encontrou na pratica do Jiujitsu uma forma de superação e de homenagear o irmão, que foi o grande incentivador. Fotos: André Rodrigues

Superação

Hoje, Pablo está com 22 anos e garante que chegou a hora de realizar seu sonho. “Ainda tenho uma leve perda de força e habilidade na mão direita e não consigo levantar ou mexer muito rápido meu pé direito. Mas me destaco no esporte e ainda vou representar o Brasil em torneios internacionais”, garante.
Segundo o sensei e atleta profissional Everson Rocha – que é bicampeão brasileiro da modalidade –, o jovem tem o talento e força de vontade para isso. “Ele é um dos primeiros a chegar na aula e um dos últimos a sair da academia. Chega motivado, dá risada e se destaca nos treinos”, afirma o professor, que já acompanhou as primeiras conquistas do aluno. “O Pablo disputou o campeonato da Confederação Brasileira de Jiu-jitsu Esportivo em 2018 e foi campeão. A evolução dele foi muito grande e, com certeza, se destacará”.
No entanto, o jovem atleta ainda precisa de patrocínio para participar de torneios e espera pelo apoio de empresários. “Ele quer muito lutar um torneio de Abu Dhabi [capital dos Emirados Árabes Unidos], que é só de paratletas. Esperamos que ele consiga patrocínio para isso e mostre sua evolução com grandes resultados”, finaliza Rocha.
Interessados em patrocinar o jovem podem entrar em contato pelo telefone (41) 99523-1150 ou pelo e-mail janete_desouza@hotmail.com.
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