A vida é dura e corrida e nem sempre os pais podem estar tão perto dos filhos como gostariam. E tudo bem? Tudo. Ou quase. Há maneiras de compensar a ausência sem tentar “comprar” a compreensão da criança. Não vale, por exemplo, faltar na apresentação da escola e levar o jogo que a criança pediu ou o boneco que ela viu no shopping posteriormente. “Presença se compensa com presença”, ressalta o psicólogo Akim Rohula Neto.
“Os pais precisam aprender a trabalhar a culpa e não transferir a responsabilidade da ausência e do “perdão” para a criança. Toda perda é necessária para o desenvolvimento, assim como saber lidar com a falta”, salienta Akim. Ele conta que ao longo da carreira acompanhou diversos pais “culpados” por enfrentar jornadas de trabalho extensas e tentando compensar essa falta com presentes, mesmo sem notar.
A transformação econômica e social das últimas décadas também fez com que pai e mãe estejam a maior parte do tempo fora, a trabalho. Encarar essa realidade sem culpa e transformando o tempo em que se fica com os filhos em “tempo de qualidade” é fundamental no processo de crescimento da criança.
“Os pais acabam compensando a ausência, dando presentes, mesadas, viagens e até tendo uma atitude mais permissiva diante de comportamentos inadequados, como o vício em internet ou em jogos. Acabam fazendo ‘vista grossa’ “, diz o psicólogo. Para ele, essa é uma forma dos próprios pais compensarem a culpa. Akim explica, porém, que essa não é uma atitude madura e sim ligada a uma comportamento infantil de reconhecimento. “Mas é como compensar a sede comendo carne. São duas coisas de natureza distintas”, analisa.
O que fazer?
Para abrandar essa questão e passar a ter atitudes mais positivas em relação à ausência os pais precisam entender que não tem como estar presente o tempo inteiro. E isso é natural. “Não tem como não errar. Os pais não vão ser perfeitos o tempo inteiro. E não dá para transferir a culpa para criança”, reforça.
Mesmo que a intenção não seja essa, quando os pais compram presentes para os filhos para compensar o tempo que passam fora ou o fato de terem faltado em alguma ocasião especial, estão passando uma mensagem de que o produto é mais importante do que a presença. “E isso não é adequado. A criança pode até ter um comportamento de vingança posteriormente, pois ela não vai se sentir recompensada. Não é a mesma moeda”, diz ressaltando que essa “troca” ensina a criança a barganhar desde cedo.
Para o profissional, os pais devem compensar a presença no mesmo nível. Se faltaram em um compromisso escolar, devem dizer que eles estarão juntos em uma outra ocasião. E claro, cumprir o combinado é essencial. E isso vale para pais e filhos.