Baile da terceira idade? Festa sábado à tarde no “Vasquinho” pega fogo
Talita Boros Voitch
23/07/2017 09:52
Pista cheia: os frequentadores do baile do Vasquinho só param quando a banda faz o intervalo. (Foto: Talita Boros Voitch)
Fandango, vanerão, xote, samba e bolero são alguns dos ritmos que embalam homens e mulheres nas tardes de sábado na Sociedade Vasco da Gama, no bairro do Bom Retiro, em Curitiba. O salão está cheio. Entre mesas com toalhas coloridas, bandeirinhas juninas e o vai e vem dos garçons, os frequentadores do baile não perdem o ritmo. A maioria ali tem mais de 60 anos, alguns chegam na casa dos 80. Eles estão ali principalmente para dançar, mas também para fazer amigos e, por que não, conhecer um novo amor.
Esqueça aquela história de baile da terceira idade, com danças de roda, mulher dançando com mulher (pela falta de pares do sexo masculino) e clima quase escolar. O baile no “Vasquinho” pega fogo, no melhor sentido da palavra. Pista cheia, gente arrumada, baldinho de cerveja nas mesas e banda tocando em looping. “O povo daqui gosta é de dançar. Eles encontram os amigos, conversam bastante, mas a pista não para. Não gosto dessa coisa de rótulos. Baile da terceira idade parece algo que não se encaixa aqui”, diz Maerlio Barbosa, o “Ceará”, de 64 anos, organizador do evento.
E Ceará sabe do que está falando. Há 33 anos na estrada com a Banda de Forró Calamengau, ele decidiu assumir os bailes nas tardes de sábado no Vasquinho há 1 ano e meio. “O bom é que o povo vem para se divertir. Nunca teve uma confusão. É um público exigente, mas que quer se divertir”, diz. Em média, o baile do sábado recebe 200 a 250 pessoas.
Rosemari Martinez, de 66 anos, se encaixa nessa descrição. Moradora do Bairro Alto, é frequentadora assídua dos bailes de Curitiba e chama atenção na pista pela desenvoltura. Além do Vasquinho, não perde o arrasta pé do Hauer, do Água Verde e da Sociedade Dom Pedro. “Dançar me faz bem, levanta o astral. É um exercício para o corpo e a mente”, diz.
A curitibana não se intimida com a falta de companhia. Se não tiver nenhuma amiga disponível para acompanha-la, vai sozinha mesmo. “Coragem não me falta. O pior é ficar em casa sem fazer nada”, afirma. Seu último namorado, cujo relacionamento durou 10 anos, ela conheceu no baile. “Infelizmente ele faleceu, mas eu não posso deixar de viver, né”, diz.
Dupla de dança
Miriam Fiori, de 73 anos, e Irineu Bilo, de 69 anos, se conheceram no baile. Ela mora na região das Mercês e ele em Santa Felicidade. Não são namorados, mas sim parceiros de dança. O ciúme entre o par acontece quando um encontra uma nova dupla e sai rodopiando pelo salão. “Eu libero ele para dançar com outras sim. Não tem essa de ciúme”, diz Miriam, enquanto Irineu cai na risada.
A assiduidade no baile do Vasquinho de Miriam e Irineu é tanta que eles formaram um grupo de amigos. A mesa no canto do salão, próxima ao palco onde a dupla Erick e Hael agitam a pista, é reservada todos os sábados para Irineu e sua turma. “Quando não tem baile eu vou pescar, mas sinto falta. É bom para vir dançar e pelos amigos que a gente faz”, diz.
No bar, há opções de drinks para todos os gostos a preços justos. Cerveja, caipirinha, uísque, cachaça, conhaque e também refrigerantes, suco e chás. Para comer, há seis tipos de petiscos: pastel, calabresa, batata frita, frango à passarinho, carne de sol e mandioca frita. Apesar de a comida não ser o foco dos frequentadores do baile, o franguinho frito é o que mais sai. Para entrar no baile, homens e mulheres pagam R$ 10. Apenas dinheiro é aceito como forma de pagamento.
Neste sábado foi a primeira vez que Maria Leonilda Sanfelice, de 65 anos, foi ao baile do Vasquinho. Moradora do Barreirinha, ela conta que um amigo a convidou para conhecer a festa, mas não podia vir nesta semana. “Daí eu vim sozinha mesmo. Não gosto é de ficar em casa”, diz. Segundo ela, um dos problemas desses bailes é que normalmente o número de mulheres é bem maior do que o de homens. “Eles são mais preguiçosos, gostam de dormir sábado à tarde. As mulheres se animam mais”, diz. Poucos minutos depois da nossa conversa, Maria Leonilda rodopiava no salão ao som de um vanerão.
Serviço Baile Calamengau Data: todos os sábados Horário: casa abre às 13h – banda começa às 14h e vai até às 19h Endereço: R. Dr. Roberto Barrozo, 1190 – Bom Retiro Ingressos a R$ 10 para homens e mulheres. Só aceita dinheiro