Comportamento

Bela Gil: “Minha filha lava cabelo com vinagre, mas não se sente esquisita”

Amanda Milléo
13/03/2017 09:00
Thumbnail

(Foto: reprodução Instagram da Bela Gil)

Todos os sábados planeje-se para comprar e limpar frutas e verduras e veja a revolução que isso trará aos hábitos alimentares de toda a família. A sugestão é da Bela Gil, apresentadora e chef de cozinha natural, que esteve em Curitiba nesta quinta-feira (9) para um evento em comemoração ao Dia da Mulher da revista Viver com o Shopping Mueller. O Viver Bem conversou com a especialista sobre essas e outras dicas e, acredite, é possível ser natural mesmo comendo em bufês toda semana. Confira!
Qual seria o tempo médio que uma pessoa precisaria separar, no dia, para pensar em uma alimentação mais saudável e natural?
Eu acho que esse tempo não precisa ser diário. Se você planejar semanalmente, funciona. Por exemplo, tire um dia para ir à feira, lavar os vegetais e guardá-los na geladeira. Assim você terá alimentos em mão para quando chegar em casa, durante a semana, depois de um dia cheio, fazer um refogado rapidinho, uma sopa que demore só meia hora, 20 minutos. Eu sei que é chato chegar em casa e ainda ter de descascar cebola, picar o alho e isso demanda um tempo. Então, se você tirar um sábado à tarde, duas, três horas desse dia, para deixar tudo picado e pronto, é justo e funciona.
Eu chego em casa depois de uma viagem longa e pego um painço, um arroz, cozinho junto com os vegetais, faço um molho rápido de tahine e pronto. Uma refeição super completa em 15 minutos porque as coisas estavam prontas na geladeira.

“Se tivéssemos que fazer tudo aquilo que gostamos de comer, não comeríamos tanto e nem com tanta frequência. Porque dá trabalho. A comida, uma comida de verdade, dá muito trabalho para se fazer. Mas as pessoas têm que entender que a praticidade da indústria alimentícia é uma faca de dois gumes. A gente consegue comer coisas complicadíssimas ao alcance da nossa mão em uma prateleira de supermercado” – Bela Gil.

Para quem não consegue comer em casa ou levar o almoço ao trabalho e precisa ir aos buffets, qual é a melhor “estratégia” para manter uma refeição saudável?
Os buffets são uma ótima solução porque sempre tem uma opção de arroz, feijão, legumes variados. Você se salva em um buffet. A primeira dica que eu dou é para preencher pelo menos metade do prato com vegetais. Você vê as pessoas colocando arroz, feijão, carne, farofa e é um prato todo monocromático. Se pelo menos metade do prato for de vegetais, colorido, no resto você pode usar para o que quiser.
O lanche da tarde é um dos momentos problemáticos para quem tenta uma alimentação mais saudável, mas se esquece de pegar uma fruta em casa ou levar algo mais natural. Como é possível mudar isso?
É um momento problemático, mas acontece muito pela falta de planejamento. As pessoas estão distantes da própria responsabilidade com a saúde e o bem-estar, estão desconectadas dessa sabedoria de que se você comer bem, você vai se sentir bem. Qual é a dificuldade de acordar de manhã, pegar uma fruta e colocar na bolsa? Uma banana, maçã, um pacotinho de sementes e nozes e frutas secas? Ou mesmo uma barra de chocolate amargo? Faça um sanduíche com patê que lentilha, que é simples e práticos e pode ser feito rapidamente de manhã, não leva nem 10 minutos. Se você tem esse planejamento, você consegue deixar o horário da fome à tarde bem menos problemático.
Hoje vemos a onda da alimentação saudável alcançando um número maior de pessoas pelos compartilhamentos das suas histórias e receitas nas redes sociais. Como você vê essa mistura das redes sociais com a ideia da alimentação mais natural?
Isso, de uma maneira ou de outra, torna a alimentação saudável algo mais natural, mais rotineiro, mais do dia a dia e menos um fantasma, um bicho de sete cabeças como muita gente acha que é. Ajuda a democratizar a alimentação saudável e que não é algo que necessariamente você precise comprar produtos importados ou sementes não tão conhecidas. Você pode comer bem, ter uma alimentação saudável, com produtos que você conhece e eliminando os produtos desnecessários da nossa dieta. Eu acho isso muito legal e vejo um crescimento no número de pessoas preocupadas com alimentação, que compartilham e dividem experiências, contando como essa preocupação transformou o mundo delas. É sensacional porque só estimula mais pessoas a fazerem o mesmo.
(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)
Críticas fazem parte do seu dia a dia. Como você aprendeu a conviver com elas?
Muitas das coisas que eu falo viram polêmicas, mas eu me dou bem com isso porque é algo muito natural meu. É algo que eu faço no meu dia a dia, algo que para mim não é surpresa. Hoje eu presto um pouco mais de atenção na maneira como eu passo essas informações porque é tão simples e natural para mim, que a minha naturalidade assusta as pessoas. Se eu passasse como algo novo, com surpresa – o que já foi para mim um dia – talvez elas pensassem ‘ah tá bom, pode ser, vou ver.’ Mas como é bem natural acho que assusta, do tipo: “Como alguém pode ser assim ou fazer isso?” As pessoas se sentem acuadas e pensam: “Então eu tenho que ser assim? Só assim que funciona? Só ela que está certa?”. Não, eu estou apenas compartilhando algo que eu acho interessante e não necessariamente estou apontando o dedo para alguém, julgando e falando que ele está errado. Acho que essa naturalidade assusta.
Essas críticas impactam a sua família? Como sua filha lida com elas?
A minha filha (Flor) é muito hilária. Esses dias alguém maldosamente escreveu que eu a obrigava a escovar os dentes com argila. Foi porque eu mostrei um vídeo dela escovando com argila e ela dizia: “Eca, o que é isso, argila?”. Eu achei engraçada a reação dela e postei, mas alguém maldosamente escreveu que eu a obrigava a fazer isso, e ela disse: “Eu vou entrar na internet e vou falar para esse cara que a minha mãe nunca me obrigou a fazer nada”. Para ela é muito curioso e é natural, ela me vê escovando os dentes com argila e pede para experimentar. Mas ela gosta, para ela é divertido. Ela escova os dentes com cúrcuma e lava o cabelo com vinagre, e ela sabe que é diferente. E ela se sente bem, não se sente a esquisita. Ela diz: “Eu sou diferente e isso é legal”.
Leia mais