Bela Gil lança caixa de papelão para bebês no Brasil, mas será que ela é segura?
Raquel Derevecki
18/01/2019 10:43
Colocar os bebês para dormir em “caixas de papelão” já é moda em países desenvolvidos como Estados Unidos e Finlândia. Foto: Morada da Floresta
Trocar o tradicional berço do bebê por uma caixa de papelão desenvolvida para acomodar a criança em seus três primeiros meses de vida tem se tornado comum em alguns países pelo mundo. A ideia surgiu na Finlândia em 1938, mas se tornou popular apenas em 2013, quando o governo finlandês presenteou o príncipe William e a princesa Kate, da Inglaterra, com o produto para acomodar seu filho primogênito. Depois isso, a baby box – ou caixa de bebê, em português – também se tornou comum em países como Austrália, Canadá e Estados Unidos.
No Brasil, a novidade foi lançada há cerca de um mês pela apresentadora e chefe de cozinha natural Bela Gil, que usou uma caixa como essa nos primeiros meses de vida do seu filho mais novo, Nino. Segundo ela, o produto é inspirado no modelo da Finlândia, que é doado pelo governo às mães que realizam o pré-natal a fim de que elas tenham onde colocar o bebê e não usem uma cama compartilhada. Essa ação diminui o risco de morte súbita do recém-nascido.
Além disso, a Bela Baby Box – como é chamada a versão brasileira da caixa – simplificaria a maternidade, facilitaria o contato da mãe com o bebê durante a noite, além de tratar-se de um produto sustentável. “Adoraria que o governo brasileiro e ONGs se interessassem por esse tipo de iniciativa”, escreveu Bela Gil em sua página do Facebook.
No entanto, especialistas discutem a eficiência do novo produto e se preocupam com a segurança dos bebês colocados na caixa. “Inicialmente, o projeto de ter um berço simples e livre de objetos parece legal, mas não há comprovação científica de que o uso de uma caixa previna a morte súbita sem trazer outros problemas à criança”, afirma o pediatra Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Segundo ele, grandes instituições como a Academia Americana de Pediatria (AA) e a Universidade de Brighton, na Inglaterra, já se posicionaram da mesma maneira. “Elas não defendem o entusiasmo ao redor desse produto porque a caixa não passou por testes rigorosos para comprovar sua eficiência e segurança da mesma forma que um berço de qualidade precisa passar”, pontua o médico.
Entre as preocupações estão o material utilizado para confecção do produto e o fato de ficar no chão, ao lado da cama dos pais. “Como é de papelão, pode molhar facilmente, pegar fogo e ainda fica exposta à temperatura fria do piso e aos animais de estimação da casa. Há necessidade de estudos a respeito de tudo isso para garantir segurança”, alerta a pediatra Fernanda Catharino, de Niterói, no Rio de Janeiro. Por isso, as caixas só deveriam ser usadas como opção de berço pelos pais que não têm condições de adquirir um berço tradicional de qualidade.
“Isso até poderia se tornar uma política de saúde pública para evitar que pais com condição financeira mais baixa coloquem o bebê em uma cama compartilhada ou no sofá. Apenas nesses casos, seria melhor usar a caixa”, reforça Fernanda.
No entanto, os clientes da Bela Baby Box, por exemplo, não se enquadram nesse grupo. “O público que está adquirindo a caixa no Brasil por R$ 265 tem condições de adquirir um berço seguro com selos de qualidade, mas prefere seguir um modismo que é perigoso”, pontua o pediatra Gubert. Em uma busca rápida em sites da internet, é possível achar berços a partir de R$ 180.
A Bela Baby Box
Segundo a educadora perinatal Ana Paula Silva, diretora da empresa Morada da Floresta, que produz a caixa Bela Baby Box em parceria com a apresentadora, o produto é multifuncional e, além de oferecer a opção de uso como berço portátil, também pode ser transformada em caixa de brinquedos e em “piscina” de bolinhas à medida em que a criança cresce. “E o custo ocorre devido ao projeto gráfico, pois não é uma caixa de papelão comum. Ela tem estrutura diferente, não possui emendas e garante toda segurança ao bebê”, explica.
Essa garantia, de acordo com a diretora, é baseada em testes de resistência à carga e deformação realizados pela empresa Falcão Bauer. “São eles que fazem os testes para o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que não concede selos para mini berços. E os testes confirmaram que o produto suporta até 10 quilos sem se deformar ou romper ao ficar suspenso“, afirma.
Além disso, ela pontua que as tintas aplicadas no produto são livres de metais pesados e o colchão é atóxico, reciclável, lavável e vem acompanhado de uma capa especial que evita a umidade na pele do bebê, permite a permeabilidade de ar e protege contra umidade e fungos. “Lembrando que esse modelo de berço também é usado mundialmente e que, na Finlândia, onde surgiu como projeto social, contribuiu para reduzir a morte súbita ao se apresentar como forma segura para bebês.”
Sobre esse assunto, o médico pediatra Gubert afirma que a caixa para bebês não foi a única responsável pela queda da mortalidade infantil na Finlândia após seu desenvolvimento, em 1938. “Os dados naquele país durante o período pós-guerra estão associados ao início do uso de antibióticos, vacinas e de todo o cuidado que as mães passaram a receber do governo durante e após a gestação”.
Com isso, não seria apenas a caixa doada pelo governo que evitaria a morte dos bebês, mas todos os demais produtos oferecidos, assim como o atendimento prestado às gestantes. “Até porque somente 40% das mães de lá realmente utilizam a caixa para o bebê dormir, ou seja, as que tem condições de comprar um berço, fazem isso”, finaliza o pediatra.