Bela Gil relata em livro as dores e delícias de ser mãe além do lado romântico
Amanda Milléo
10/04/2018 12:00
Bela Gil lança novo livro, desta vez sobre a maternidade. Bela tem dois filhos, Flor, com 9 anos e Nino, com dois (Foto: Ana Fischer / Divulgação)
Dor ao amamentar, fissura no bico do seio, episiotomia (corte na região do períneo para aumentar o canal do parto), e não ter domínio sobre o nascimento do filho são algumas das dificuldades que muitas mulheres brasileiras relatam, inclusive a chef e apresentadora Bela Gil.
Ser celebridade não a excluiu das dores, principalmente as físicas, da maternidade – embora a fama possa ter amenizado alguns aspectos, que ela mesma reconhece: é o que ela conta em seu livro mais recente, Bela Maternidade: Meu jeito simples e natural de ser mãe, pela Editora Sextante.A obra será lançada em Curitiba nesta terça-feira (10), a partir das 19 horas, na Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigui.
“Eu tive muita sorte de ter filhos maravilhosos e de ter pessoas, familiares e amigos, que realmente me ajudaram. Esse apoio ajuda a diminuir a pressão e o estresse da mãe”, explica a chef de cozinha e apresentadora dos programas Bela Cozinha e Vida Mais Bela, no canal fechado GNT, em entrevista por telefone ao Viver Bem.
No livro, Bela (que é autora de outros três livros, focados em alimentação) relata todas as etapas de ambas as gestações (Flor, hoje com nove anos e Nino, com dois), sem deixar de lado os aspectos não tão “românticos” da gravidez. Mãe de primeira viagem com 20 anos, Bela sofreu com os julgamentos externos quando anunciou que esperava a Flor, embora a gestação tenha sido, como ela cita, “sem querer querendo”.
“… verdade seja dita: eu não havia imaginado que engravidaria naquele momento. E as pessoas ao meu redor também não. Fui alvo de julgamento, de olhares de estranheza e até de comentários indelicados. Chegaram a me perguntar se eu realmente pretendia ter minha filha, já que eu era, supostamente, ‘jovem demais’. (…) Hoje acho que essa preocupação não era minha, e sim uma projeção do que a sociedade atual acredita ser a hora certa para ter filhos” – relato da Bela no início do livro.
Para Bela, no entanto, o momento mais difícil de superar – seja com a Flor, quanto com o Nino – foi a amamentação. “De dor física, com certeza [foi o momento mais difícil]. Eu sempre quis amamentar, e eu nunca pensei em não amamentar. Com a Flor foi uma surpresa grande ter essa dor toda. E é uma dor muito forte. Durou uma semana. Quando tive o Nino eu achava que, como já tinha amamentado, não teria de novo. Mas o peito não lembra que você já amamentou e a dor volta de novo”, diz Bela.
Como não poderia deixar de ser, o livro traz ainda diversas receitas de papinhas para crianças, com a separação mês a mês, além de indicações saudáveis e substitutos (claro, né?) que podem amenizar dores durante a gestação. Há ainda entrevistas com diversos especialistas sobre as principais dúvidas das gestantes, como alimentos proibidos durante a gestação e tipos diferentes de parto.
Confira abaixo a entrevista completa da Bela Gil ao Viver Bem sobre a maternidade:
No livro você comenta que tinha uma visão romântica da maternidade. Você ainda pensa dessa forma ou as duas gestações mudaram essa visão?
Eu acho que não tenho uma visão tão romântica da maternidade. Eu entendo as mulheres que não tenham ou que talvez a realidade da maternidade não tenha atendido às expectativas. Isso porque eu acredito que cada criança é uma e cada momento é um momento. Mas eu tive muita sorte de ter tido filhos maravilhosos, pessoas, familiares, amigos que realmente me ajudaram. O meu marido, que me ajuda na maternidade, a cuidar das crianças, e isso diminui muito a carga de pressão e estresse da mãe. E é importante não só para a mãe desafogar, mas a própria criança entender que a realidade vai além da mãe e do pai, da casa. É muito importante a criança tenha outras referências, e isso se dá com essa rede de apoio.
“Eu tive essa grande sorte, de ter tido dois filhos com essa rede de apoio. E são filhos maravilhosos, embora eu seja suspeita para falar. A maternidade caiu perfeita para mim”.
Para você, a amamentação, com todas as dores e feridas no bico do seio, seria o momento mais difícil da maternidade?
De dor física, com certeza. Eu sempre quis amamentar, e eu nunca pensei em não amamentar. Com a Flor foi uma surpresa grande ter essa dor toda. E é uma dor muito forte, que durou uma semana. Quando eu tive o Nino, eu achava que como já tinha amamentado, não teria de novo. Mas o peito não lembra que você já amamentou, e dói tudo de novo.
O que me fez continuar foi que eu sabia que aquilo iria passar. Sabia que seria uma semana de sofrimento para poder desfrutar de mais de dois anos de amamentação. E amamentar é algo que eu realmente gosto – não só porque eu sei que estou alimentando o meu filho com o melhor alimento, mas também porque assim alimento de uma forma mais afetiva, emocional. Foi muito difícil das duas vezes, mas os benefícios valem mais a pena.
“Assim que Flor saiu de mim, foi direto para o meu peito. (…) Essa sensação deliciosa só passou lá pelo quinto dia de vida dela, quando meu peito inchou, meu leite começou a vazar, e comecei a sentir muita dor ao amamentar. O bico do meu peito ficou ferido e cada mamada passou a ser um suplício.”
Para tentar amenizar as dores e feridas no bico do seio, você relata que usou casca de mamão e, anos depois, descobriu que elas poderiam causar alergias e infecções. Você descobriu outros meios naturais de combater essas feridas?
Os banhos de sol também ajudaram. O sol, na verdade, é o melhor remédio. Se a pessoa tem a ferida, ele ajuda a cicatrizar mais rápido.
“(…) compressas de água quente para desempedrar e de gelo e folhas de repolho para ajudar no inchaço. Usei uma bomba elétrica para triar o excesso de leite e reduzir o inchaço. Sentia um grande alívio! O leite extraído ia direto para o congelador.”
Como foi o período de desmame com a Flor? Muitas mães relatam um sentimento de perda. Foi um momento triste também para você?
Não foi triste, porque no meu caso foi uma decisão mútua, muito suave. O Nino está na fase do desmame agora, mas com a Flor foi bem suave. Ela estava em uma idade que já comia de tudo e estava super bem, dormia sozinha, então não tinha essa necessidade do peito.
Quando é gradual e uma escolha dos dois lados, não tem essa frustração. O problema é quando a mãe quer falar e o filho não quer, ou quando o filho já quer largar e a mãe não está pronta, aí é aquele divórcio, né? Mas quando ambos decidem juntos, é muito gostoso. Hoje eu lembro da amamentação com nostalgia, assim como lembro da Flor quando ela era bebê, mas não tem esse sentimento de perda.
Você relata no livro a sua experiência com a episiotomia (corte na região do períneo para ampliar o canal do parto). Embora seja algo infelizmente rotineiro, as mulheres parecem não falar sobre isso. Você teve essa percepção?
Eu acho que não falam nada. Até quando tive o Nino, falava-se muito pouco. Talvez quando as mães procuram um parto mais humanizado, aí elas entendem mais as práticas e os motivos dessas práticas, como a episiotomia. Mas se o médico é convencional, e faz isso de rotina, e você não sabe, como foi o meu caso, você também acha que é normal. Eu só fui entender que não era normal, e que poderia ter evitado, depois da gravidez do Nino, quando busquei informações.
“Ela me pediu para fazer força, pois já estava na hora de a Flor nascer. Respirei fundo e contraí os músculos, já deitada na cama, na posição de litotomia. A dra. Chen deu um grito de surpresa: “Opa, pode parar, Bela! A Flor já está saindo!”. Ela se trocou, colocou o avental e as luvas. Todos ficaram a postos esperando a chegada da Flor. Foi nesse momento que ela disse que iria cortar meu períneo, “para ajudar a saída da Flor”, segundo ela. Essa foi a tal da episiotomia que arruinou a minha vida sexual por mais de um ano.”
No parto do Nino você conta que, por ser mais natural, em casa, você pode estar mais presente. Como você traduz essa presença? Você sentia mais cada momento?
Eu entendia o que estava acontecendo. No parto da Flor, que também foi o meu primeiro parto e mãe de primeira viagem é sempre diferente. No Nino foi como se eu já conhecesse a estrada e pudesse contemplar melhor aquele momento. Eu me sentia assim, consegui estar presente e sentir tudo. Na Flor foi mais automático, eu estava sendo levada. No Nino eu estava no comando.
Em algum momento você sentiu que não poderia continuar durante o parto do Nino? Teve medo?
Não, não tive medo. Foi incrível! Eu nem imaginava que poderia ser tão simples quanto foi. Medo nunca passou pela minha cabeça. Eu me deixei levar pela natureza mesmo, pelo instinto de mãe.
Você preza por uma maternidade sem rótulos também, e isso se traduz na alimentação. No livro, você conta como o corpo de gestante pediu por carne, que normalmente você não comeria. Na gestação você sentia essas necessidades mais claramente?
Na gravidez tudo vem de uma forma mais forte. Os desejos são mais fortes, porque tem um ser humano crescendo dentro de você. Foi uma questão de necessidade mesmo, mas acontece o mesmo sem estar grávida. Se eu sinto que estou ficando doente, procuro fazer um chá, deitar, dar ao corpo o que ele pede. Quando estava grávida, de fato, eu ficava mais atenta e observava mais, como toda gestante. Mas, todo ser humano, grávido ou não, tem essa capacidade de entender o que o corpo pede naquele momento.
“(…) não posso deixar de falar da fome avassaladora que a mãe começa a sentir logo após o parto – pelo menos foi assim comigo. Não me lembro de ter sentido tanta fome e tanta sede na vida como nas primeiras semanas após o nascimento da Flor e do Nino. Ainda internada, pedi que JP me levasse almoço, jantar e vários lanchinhos de casa e do meu restaurante preferido (porque a comida do hospital, além de não ser suficiente, não era nada saborosa). Teve suco verde (que fez a Flor ficar com gases, então passei a evitar depois), hambúrguer vegetariano, arroz, tofu e couve refogada, biscoitos de arroz, abóbora cozida com tahine… E isso porque só fiquei uma noite lá!”