Aos 87 anos, cabeleireira em atividade mais velha do Brasil trabalha em Curitiba
Marina Mori
01/06/2017 08:30
Sumico Sacuno Nakamura, a "Dona Maria", começou a cortar cabelos aos 25 anos. Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Dos 87 outonos que Sumico Sacuno Nakamura presenciou, 62 foram vividos dentro do salão de beleza, entre cortes de cabelo, sessões de depilação e peças de crochê nas horas vagas. E nem pensar em aposentadoria – enquanto puder, ela vai continuar trabalhando. Nesta semana, a senhora miúda de olhos sorridentes recebeu uma novidade surpreendente em seu salão, no bairro Ahú, em Curitiba: de acordo com o Rank Brasil, ela é a cabeleireira em atividade mais idosa do Brasil. O segredo da vitalidade, segundo ela, é dedicar-se à bondade. “Estou sempre feliz, vivo com oração.”
Embora não haja nenhum traço que negue sua descendência japonesa, dona Sumico é conhecida, na verdade, por dona Maria. “É nome de batismo”. Dona Maria nasceu no dia 15 de abril de 1930 em Marília, interior de São Paulo, e passou por várias cidades do estado até chegar a Curitiba, onde mora desde então.
Sem nunca ter feito cursos, sua experiência profissional resumia-se ao trabalho na roça. “Eu puxava enxada aos 12 anos”, conta. Começou a trabalhar em um salão de beleza aos 25 anos. Hoje, perto de completar 90 anos de vida, ela comanda um salão pequeno, no primeiro andar da casa de sua sócia e braço-direito, Elizabeth Tabata, de 64 anos. Trabalha de terça-feira a sábado, assim que o salão abre até a última cliente, e faz de tudo, do serviço de manicure à depilação.
“Além da qualidade do serviço, a energia do salão é muito especial graças à dona Maria. Ela tem mãos mágicas, que transmitem generosidade e aconchego”, conta Carmen Japiassu, 58. Cliente semanal do salão há quase 30 anos, a economista garante que não houve uma única vez em que dona Maria estivesse triste ou séria. “Ela está sempre sorrindo”.
Bondade
Nos dias de folga, a cabeleireira mais idosa do Brasil dedica-se à família – tem três filhos, três netos e seis bisnetos, fora os 70 sobrinhos – e à religião. “Ela não perde uma missa de domingo”, conta a sócia. E, quando não está atendendo a clientes ou fazendo suas orações, dona Maria concentra-se totalmente em um hobby antigo: ajudar ao próximo.
Ela produz peças de crochê e tricô para os netos, bisnetos e crianças carentes. “Nunca fiquei doente por causa da alegria das crianças”, conta, rindo. Segundo dona Maria, dor não lhe é uma palavra comum. “As pessoas tomam remédios demais. Conheço gente que toma 10, 20 comprimidos por dia. Eu não tomo nada – às vezes, uma vitamina C, quando o médico pede.” Depois de ter feito uma cirurgia de catarata, nem de óculos ela precisa.