Comportamento

Uma foto 3X4 a cada cinco minutos; conheça o lambe-lambe mais famoso de Curitiba

Marina Mori
24/08/2017 14:38
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Rogério Bueno "herdou" o trabalho da família. Fotos: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo

Se perguntassem ao comerciante Rogério Bueno, 37, quantas fotos 3×4 ele já tirou ao longo dos últimos 10 anos de trabalho na banca de retratos da Praça Carlos Gomes, ele precisaria de muitos minutos para dizer com precisão. “Tenho todos os registros organizados por data. Se você tirar uma foto hoje e vier daqui a alguns anos, ela estará aqui”, conta. Hoje, talvez ele seja dono do único quiosque do gênero nas praças de Curitiba.
Em um dia de trabalho – das 8h30 às 18h –, Bueno atende em média 50 pessoas. E, de 3×4 em 3×4 (o conjunto com oito fotos sai por R$ 12), a renda se torna expressiva no fim do mês.  O movimento não para no espaço apertado de um metro e meio por dois, com divisória para uma cabine minúscula iluminada por apenas uma lâmpada fluorescente: a cada cinco minutos, sempre chega alguém em busca de uma foto.
Rogério Bueno, 37, responsável pelo quiosque de fotos 3x4 da Praça Carlos Gomes. Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Rogério Bueno, 37, responsável pelo quiosque de fotos 3x4 da Praça Carlos Gomes. Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Rogério conta que se tornou fotógrafo por acaso – ou graças ao seu casamento com a filha do dono da banquinha, há 13 anos. Quando seu sogro se aposentou, passou os conhecimentos e o comércio para o genro, antes motorista de ônibus. Hoje, ele é responsável por manter o ponto, cadastrado na prefeitura como “lambe-lambe” há 40 anos.
Os meses de janeiro, fevereiro e março são os de maior movimento. “Chega a dobrar”, garante. No início do ano, o fotógrafo registrou 120 pessoas diferentes com sua Nikon D90 em um só dia de trabalho. “Pretendo me aposentar aqui”, afirma.
Dificuldades
Apesar, de a Carlos Gomes ser a segunda no ranking das praças mais perigosas de Curitiba, segundo a Secretaria Municipal de Defesa Social, o ambulante afirma que nunca foi assaltado ou teve o estúdio arrombado.
O problema são as pichações, que ele já desistiu de apagar. “Não adianta. Se eu pintar hoje, amanhã já vai ter de novo.”. Resignado, o fotógrafo mantém um símbolo pichado em azul, logo abaixo da placa lateral da banca.
Além disso, Rogério segue uma rotina de limpeza obrigatória todas as manhãs. Antes de atender ao público, o fotógrafo limpa os dejetos deixados por moradores de rua ao redor da loja. “Uso a água do poço da praça ou pego emprestado das faxineiras da Caixa Econômica, aqui em frente.”
Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Satisfação
Mas os contras não superam os prós. “A melhor coisa é ver os clientes saírem satisfeitos.” E os fotografados confirmam que Rogério é bom no que faz. “Ele me deixou linda! Uso a foto no crachá e todo mundo diz que fiquei muito bem”, diz a camareira Daniele Cristina Gomes, 41.
Daniele Cristina Gomes não hesitou em voltar ao quiosque quando precisou de uma nova foto 3x4. Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Daniele Cristina Gomes não hesitou em voltar ao quiosque quando precisou de uma nova foto 3x4. Foto: Alexandre Mazzo / Gazeta do Povo
Hoje, ela veio repetir o clique para atualizar uns documentos no trabalho. Mas a do crachá ninguém ousa substituir. “Por enquanto, é a minha favorita”, diz logo antes de entrar na cabine. É bem provável que em menos de cinco minutos ela tenha outra para adicionar à coleção.
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