Descubra como será o cabelo da mulher brasileira no futuro
Júlia Ledur e Amanda Milléo
07/10/2016 20:30
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Curto, cacheado e, acima de tudo, saudável. As principais tendências para o cabelo da mulher brasileira na próxima década seguirão essas linhas, que estão da raiz às pontas do fio relacionadas ao aumento do discurso feminista e do empoderamento da brasileira nos últimos anos. Isso não significa que a década de 2020 chegará sem cores, mas serão mudanças espelhadas nos estilos e na autenticidade de cada uma, seja qual for a idade.
Cabelos curtos agregam poder à mulher, transmitindo sensação de força, de acordo com Glauco Queiroz, cabeleireiro do Torriton Beauty & Hair. “O cabelo mais curto, sem passar da altura do ombro, tira aquela coisa do cabelão adolescente e sexy, e dá poder. Eu aposto muito nisso, na volta do cabelo pesado, estático, de cortes mais retos, sem muitas camadas. Sinto esse movimento crescendo entre as clientes mais jovens, principalmente”, diz Glauco.
Da bola de cristal, nada de cortes específicos, como foi o long bob em 2015/16, e nem muito revolucionário. Desde a década de 1950, os estilos dos cabelos se repetiram com inovações pontuais, como explica Ísis Piovesan, cabeleireira e proprietária do Fio-fio Beauty Club. “O bob dos anos 1920 fez muito sucesso este ano, porém mais alongado na frente, um avanço do bob. Já foi inventado quase tudo, é difícil ver um corte específico de um ano só”, diz.
Também não se pode esperar nem uma cor certa, nem um cabelo com muito contraste. “Caminhamos para um tipo de mecha pontual, mas que não será completa ou excessiva”, diz Glauco, que ainda prevê: as cores artificiais, como rosa chock e verde, terão o prazo de validade expirado nos próximos três anos. As pontas mais claras continuarão como tendência na visão de Ísis, desde que os tons sejam mesclados ao original. “Tudo caminha para esse ponto mais natural, sem muito contraste. Isso vai influenciar bastante daqui para frente”, diz.
Saúde acima de tudo
Será o fim, ou pelo menos a redução drástica, das escovas químicas para alisar, do aumento dos fios de forma artificial e de todos os tratamentos invasivos, resultado de novas escolhas e hábitos de vida. Dietas alimentares com menos produtos industrializados e exercícios físicos mais presentes na rotina vão impactar a saúde dos fios. “A beleza da mulher dos anos 2020 estará muito ligada à saúde. Vamos melhorar ainda mais nossa alimentação, e o que comemos reflete no cabelo. Hoje há produtos que nos protegem dos infravermelhos e da oleosidade, mas no futuro isso virá cada vez mais da nossa alimentação”, prevê Wanderley Nunes, cabeleireiro do WCrystal.
“Se a mulher exagera, fica infeliz. A beleza não pode usar o tempo que a mulher não tem”, Wanderley Nunes, cabeleireiro do W Crystal
Além dos nichos
O ‘cabelo do futuro’ já se encontra em alguns nichos da sociedade. Quando as tendências passam para outras classes sociais e para as massas, acabam adquirindo características mais sutis para se adaptarem aos gostos desse universo mais amplo.
Questione o “empoderamento”
Antes de correr para deixar o cabelo na “tendência do futuro”, pense no que essa mudança significa. Se você não tiver, naturalmente, um cabelo crespo, mesmo que ele apareça mais nas propagandas das revistas e da internet, talvez não seja o caso de torná-lo cacheado.
“Cabelos crespos e cacheados são cada vez mais aceitos socialmente, mas quem tem cabelo liso pode até comprar essa ideia e acabar se tornando um produto ‘embalado’, vendido pelos salões de beleza e cabeleireiros, com objetivos comerciais”, explica Adriana Baggio, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na área de Comunicação com interesse em semiótica, cibercultura, moda e consumo.
Da mesma forma, a ideia da naturalidade pode não trazer o empoderamento que a mulher busca. “Para a moça com o cabelo curto e pintado de rosa estar na moda, ela precisaria deixar o cabelo comprido e da cor original? O discurso do voltar ao natural também é muito embalado, muito compartimentado, e é difícil dizer que uma mulher que não pinta o cabelo é mais empoderada ou autêntica do que aquela que pinta. Não é tão simples assim”, afirma a pesquisadora.
“Assumir-se” seria uma noção muito mais próxima desse movimento de empoderamento feminino, de acordo com Adriana. “Esse seria o verdadeiro empoderamento. Se você tem cabelos cacheados, assuma, ou se for liso, assuma, pintado, assuma. Ser do jeito que você quiser ser, sem que ninguém te incomode por isso e sem que você sofra por isso também”, afirma.
Aparência natural
Naturalidade com atitude. Essa é a aposta da cabeleireira do Fio-Fio Beauty Club, Ísis Piovesan, que apostou em cores vivas, mas em um cabelo aparentemente natural. Na modelo, Ísis usa tons azulados e roxos para o look do futuro. “É justamente para mostrar que a mulher pode ter uma personalidade mais forte, só que com o cabelo natural. O objetivo é empoderar quem realmente tem que ter poder, que é ela mesma”, diz Ísis, que idealizou um cabelo afro, para representar a grande quantidade de mulheres negras do Brasil. “As pessoas ainda têm muito preconceito com o cabelo afro, com o cacho, o que não deveria acontecer, porque o cabelo é lindo e é muito fácil lidar com ele”, completa.
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Naturalidade enaltecida
“Com vida, com brilho, exaltando a mulher, de uma maneira chique, prática e fácil”, assim o cabeleireiro Wanderley Nunes, do WCrystal, define as madeixas da próxima década. Com as apostas nos looks clássicos, o profissional cita a importância de frear os excessos para garantir a saúde. “O que falta para a mulher de 2020 é a conscientização. Mas ela vai descobrir que o mais é ser menos”, completa.
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Curto e forte
Glauco Queiroz, do Torriton Beauty & Hair, imagina as madeixas do futuro pesadas, com cortes retos e estáticos, lembrando a moda do final dos anos 90. O profissional diz que não haverá um corte específico, mas sim um comprimento: o curto. “Ele deixa a mulher mais forte”, afirma. Segundo Queiroz, os fios retos e sem camadas também não esbanjarão na cor. “Eu acho que a gente está caminhando para um tipo de mecha pontual, que não é mais aquela coisa completa, excessiva”, opina, acrescentando que as cores artificiais, como rosa e verde, terão o prazo de validade expirado em cerca de três anos.
Serviço
Fotos: Letícia Akemi. Modelos: Gabriella de Paula. Nathalia Taschetti. Paloma Lopes, Forum Model Management, Rua Divina Providência, 37, Santa Quitéria, fone (41) 3077-7288. Maquiadores: Eduardo Batista. Marina Costa. Rapha Haach.
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Linha do tempo
Do hall das madeixas que fizeram história mundo afora, dá para citar num piscar de olhos o volume de Marylin Monroe, o penteado de Audrey Hepburn e o corte icônico de Coco Chanel. Confira a cronologia das tendências dos fios de 1910 até hoje.
Anos 10 – No início do século, os cabelos volumosos estavam em alta. Era comum amarrar as madeixas levemente onduladas em um rabo de cavalo frouxo e baixo, na altura do pescoço. Chapéus, tiaras e acessórios eram muito comuns.
Anos 20 – Na metade da década de 1910, os cabelos começam a encurtar chegando à Era Jazz dos anos 20 na altura do queixo, retos e bastante ondulados, ao estilo melindrosa. A moda reflete a ânsia por liberdade das mulheres e a inspiração em ícones da época, como a estilista Coco Chanel, cujo sobrenome batizou o corte de cabelo, também chamado de bob, e cujos ícones foram as atrizes Mary Pickford e Gloria Swanson e a cantora Josephine Baker.
Anos 30 – O comprimento manteve-se entre o queixo e o pescoço em 1930, porém com menos movimento, espelhando ares de elegância e de uma linha militar, que tomava forma com a ascensão de Hitler e a queda da Bolsa de Valores de Nova York.
Anos 40 – Em 1940, o comprimento das madeixas passa de curto para médio com o corte long bob, mas ainda valoriza as ondas. O penteado da vez é o topete lateral, lançado pela atriz norte-americana Rita Hayworth. Enrolar os fios em círculos e prendê-los no topo da cabeça também é uma prática da época. A tendência marca o início do estilo pin-up, representado pela cantora, atriz e dançarina americana Betty Grable, uma das primeiras modelos da vertente.
Anos 50 – O volume toma conta dos anos 50, com ícones como Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor. A moda era ter as madeixas na altura do pescoço, armadas, formando um grande topete. O penteado ainda é adotado hoje, principalmente em eventos de gala.
Anos 60 – Os cortes curtos continuam em alta nos anos 60, seguindo a originalidade de Twiggy e o movimento de busca por liberdade de expressão e rebeldia dos jovens. Outro ícone da década é Audrey Hepburn, que lança a tendência dos cabelos acima dos ombros e curvados nas pontas, além do penteado clássico levemente armado no topo da cabeça, que pode ser feito facilmente com bumpits (arcos que sustentam os cabelos). As franjas também surgem com frequência.
Anos 70 – Os anos de 1970 são marcados pelo volume e pelas ondas. Algumas mulheres que adotam o look são Farrah Fawcett, a atriz protagonista em As Panteras, Cher, e ícones brasileiros, como a atriz Leila Diniz e a estilista Zuzu Angel. O estilo reflete o movimento hippie e andrógino, muito fortes na época.
Anos 80 – O volume continua marcante nos anos 80, somado ao sex appeal da década. O estilo, com macacões e minissaias vestidas com leggings, combina com o corte pigmaleão, repicado no topo da cabeça e, muitas vezes, com permanente. Jennifer Beals, atriz do filme Flashdance, Madonna, Cyndi Lauper e Tina Turner são algumas mulheres que utilizam o penteado.
Anos 90 – Os anos 90, a década do jeans, também são marcados pelos cortes de cabelos retos, menos volumosos, abandonando a extravagância de 1980. As franjas alongadas e divididas ao meio também marcam a época. O estilo reflete o sucesso do grunge, subgênero do rock alternativo, com bandas como Nirvana e Pearl Jam.
Anos 2000 – Com a virada do século, o volume dos cabelos é eliminado de vez. A tendência a partir dos anos 2000 é de dividir as madeixas totalmente lisas ao meio, seguindo o exemplo das atrizes Sarah Jessica Parker, conhecida pelo seriado Sex and The City, e Anne Hathaway.
Anos 2010 – A década começa com a tendência das mechas californianas, que clareiam somente as pontas. A partir de então, chamam a atenção a tintura acinzentada, quase grisalha, e a volta dos cabelos curtíssimos, como Emma Watson, e o corte clássico long bob, com ou sem franjas. Entre os penteados, o coque com efeito “bagunçado” e as tranças ganham destaque.