Flavia Regina Aquino Sviech levou um “susto” quando viu seus desenhos expostos na recepção do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. Após 60 dias internada para uma cirurgia neurológica, a menina de 5 anos recebeu alta na tarde desta terça-feira (6) e foi surpreendida pela equipe do hospital, que selecionou 40 dos cerca de 100 desenhos feitos por ela durante o período de internação. Pintadas com aquarela, giz de cera, lápis e canetinhas, as folhas mostravam flores, joaninhas, pássaros e outras figuras coloridas retratadas pela menina.
Pai de Flavia, o músico Adriano Sviech, conta que a filha desenha desde muito pequena. Em casa a família coleciona cerca de dois mil desenhos feitos por ela. A mãe, Noelle Aquino, é artista plástica e estimula Flavia e seus três irmãos a desenharem e pintarem com diversos materiais. “É algo natural, a Flavia é muito vinculada à arte e a primeira coisa que nos pediu quando saiu da UTI foi para desenhar”, diz Sviech.
Flavia diz que o que mais gosta de retratar são “bichinhos”, porque tem muitos em sua casa. No hospital, a mãe teve a ideia de pendurar as folhas coloridas em um varal improvisado no quarto, como é feito em casa. “Desenhar ajudou ela a ficar bem. Ela até me disse que está feliz de ir pra casa, mas não ficaria triste de ficar mais uns dias no hospital”, conta.
Desenhar ajuda a lembrar sem sofrer
O psicólogo do Nossa Senhora das Graças, José Palcoski, afirma que o desenho permite a criança elaborar uma experiência, voltando para casa sem a carga emocional de ter passado pela internação. “É uma forma de expressar o que está vivenciando sem criar traumas. Será uma história que vai contar sem dor”, afirmou. O psicólogo destaca que não significa que a criança irá esquecer o que aconteceu, mas que não irá sofrer com a lembrança.
Durante a internação, a nutricionista Maria Inez Fuentes propôs uma brincadeira para Flavia: o que ela desenhasse no papel viria representado no prato do almoço e do jantar. “São muitos dias para uma criança ficar em um quarto. Por isso, nós tentamos criar alternativas positivas para ela não lembrar só das agulhas e medicamentos”, comenta.
A profissional usa essa brincadeira com outras crianças no hospital há cerca de três anos e conta que os resultados são muito positivos, fazendo os pequenos se alimentarem melhor e terem dias mais animados.
Momentos difíceis
O pai Adriano Sviech lembra que foi difícil o período de internação porque não esperavam que a filha passaria tanto tempo no hospital. Os problemas de Flavia começaram como uma gripe comum, que evoluiu para sinusite. Em um dia de febre, a menina teve convulsão e os pais a levaram para o hospital.
A coordenadora de pediatria, Lisia Weingaertner, conta que a equipe médica descobriu uma complicação da sinusite por meio de uma ressonância magnética. Flavia estava com líquidos na membrana que envolve o cérebro. A menina foi submetida a uma neurocirurgia, passou uma semana na UTI e outras seis fazendo tratamento dentro do hospital. O pai conta que tiveram que perfurar o crânio da criança porque tinha 150 gramas de pus.
Futuro
Depois das férias de julho, Flavia irá voltar para a escola e continuar com as consultas com os neurologistas do hospital. Ela volta para casa sem sequelas e com a experiência de ter feito sua primeira exposição.
Leia também