Comportamento
A professora aposentada Olandir Zubek, 71 anos, sempre teve uma vida ativa. Lecionou por 32 anos, cuidou de sete filhos – um deles esquizofrênico – e não se deixou vencer pela perda de dois deles e do marido. Com a morte do companheiro, mudou-se de Ponta Grossa para Curitiba, onde passou a dividir seu dia a dia em diversas atividades. Faz teatro, poesia, coral, pintura e caminhadas. “Gosto de fazer muitas coisas. O idoso não pode ficar ocioso, porque a tendência da mente é atrofiar.”
Dona Olandir tem razão. Estudos vêm demonstrando que a atividade intelectual é o principal caminho para manter a memória em dia. Recentemente, uma pesquisa da Universidade da Califórnia indicou que quem estimula o cérebro ao longo da vida com atividades como leitura, escrita e jogos tem menores níveis da proteína beta amiloide. Ela se concentra no cérebro, formando placas nos pacientes com mal de Alzheimer. Essas placas afetam a transmissão entre os neurônios.
Outros estudos sugerem que essas atividades cognitivas poderiam até evitar a doença, mas são teses ainda controversas. “As atividades físicas e intelectuais constantes são fatores protetivos, que podem postergar o início da doença. Mas ainda não existe prevenção”, explica o neurogeriatra Mauro Roberto Piovezan, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O que as pesquisas conseguiram comprovar é que um maior nível de escolaridade e a estimulação constante deixam o cérebro mais apto a guardar informações e a lidar melhor com a perda de neurônios. O Viver Bem conversou com especialistas de diversas áreas, que deram dicas de como preservar sua memória.
1 – Estimule o cérebro
Atividades cognitivas são a maneira mais incontestável de exercitar o cérebro. “A melhor forma de preservar a memória é praticando o máximo possível. E a melhor atividade para isso é a leitura”, garante o neurocientista Iván Izquierdo, diretor do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Também valem desafios como mudar seu caminho habitual, usar a mão esquerda (no caso dos destros) para escrever ou escovar os dentes. Esses desafios mantêm a mente ativa.
2 – Durma como um bebê
Qualidade de sono e boa memória estão intimamente ligadas. “Os processos de fixação da memória ocorrem durante o sono profundo. Quem não dorme bem fica com a memória superficial”, afirma Naim Akel Filho, coordenador do curso de Psicologia e do Grupo de Estudos em Neurociência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Quem tira uma soneca depois do almoço consegue organizar ainda melhor as recordações, diz ele. Problemas no sono refletem também na atenção. “Se a pessoa não presta atenção, não absorve as informações, que não chegam ao sistema de memória”, lembra o neurologista e geneticista David Schlesinger, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein.
3 – Fuja das drogas
As ilícitas e mesmo algumas lícitas têm efeito danoso sobre o cérebro. Isso inclui álcool e fumo. “Qualquer substância que tenha efeito no cérebro pode mexer com os mecanismos da memória”, diz o neurogeriatra Mauro Roberto Piovezan. “O cigarro causa alterações vasculares e a nicotina se fixa no cérebro e causa alterações no seu funcionamento”, complementa. No caso do álcool, um porém. “Em doses pequenas – uma taça de vinho por dia, por exemplo – ele melhora o desempenho cardiovascular. E uma grande causa de demência nos idosos é a demência vascular”, informa Schlesinger.
4 – Fique de bem com a vida
Transtornos de humor, como ansiedade e depressão, trazem um grande comprometimento da memória. “A depressão causa a diminuição dos níveis dos neurotransmissores excitatórios, como a serotonina e a dopamina, diminuindo a atividade cerebral geral”, diz Akel Filho. Quem vive constantemente sob estresse também precisa se cuidar. O estresse libera o cortisol, hormônio que, com o tempo, se transforma em matador de neurônios. “Não se conforme com uma vida estressante”, recomenda.
5 – Mantenha o coração em dia
Para um perfeito funcionamento, o cérebro precisa de oxigenação. E é o sistema circulatório que realiza essa função. “O coração bombeia o sangue, os pulmões o oxigenam e esse sangue oxigenado vai ao cérebro pelas artérias carótidas. Quando essas artérias começam a entupir, o cérebro sofre”, explica Akel Filho. “Pacientes com Alzheimer têm um comprometimento grande da parte cardiocirculatória”, lembra Piovezan.
6 – Pratique atividades físicas
Conforme Piovezan, elas retardam o aparecimento do mal de Alzheimer. “Provavelmente pela melhoria que traz ao processo circulatório.” Os exercícios físicos também melhoram o bem-estar geral, tanto pela liberação de endorfinas e aumento dos níveis de serotonina e dopamina, quanto pela interação social que proporcionam.
7 – Controle seu peso
A obesidade é danosa de diversas maneiras. Leva a problemas cardiovasculares e causam alterações no sono. Uma dieta saudável, rica em vitaminas e antioxidantes, preserva a saúde do corpo em geral e também do cérebro. Quem está acima do peso desenvolve resistência ao hormônio que regula a quantidade de comida ingerida, o peso e a necessidade de comer, a leptina. E ela aumenta a comunicação entre as células no hipocampo, principal local do cérebro envolvido nos processos de memória. O excesso de peso também pode desencadear problemas de aceitação, levando à depressão.
8 – Controle o diabete
A doença aumenta o risco de desenvolvimento do mal de Alzheimer. Alguns estudos também indicam que episódios graves de hipoglicemia (quando os níveis de açúcar no sangue ficam muito baixos) podem levar a perdas de memória, lógica e concentração.
9 – Mantenha-se ativo
A tese é controversa. Mas vale atenção. Chega um momento em que as células começam a morrer, chamado apoptose. Pele e fígado são exemplos de órgãos em que há regeneração. No cérebro, as lesões são irreversíveis. Esse processo se inicia por volta dos 40 anos e se acelera aos cerca de 65. Como o organismo sabe qual é a hora? “A resposta mais óbvia é que algumas mudanças bioquímicas no organismo fazem essa apoptose. E a diminuição das atividades físicas e mentais são uma excelente informação para o cérebro de que o corpo está ‘parando’. Pessoas que fazem isso entram em um processo de envelhecimento mais acelerado”, diz Akel Filho.
10 – Relaxe
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