Comportamento

Dia da Mulher: o que elas pensam e querem para o futuro

Raquel Derevecki
07/03/2019 18:24
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A vendedora aposentada Rosária Canton Grise, de 65 anos, viu as mulheres conquistarem muitos direitos, mas afirma que a luta ainda não terminou. Foto: Cassiano Rosário | Gazeta do Povo

“Queremos a igualdade de gênero, o fim da violência contra nós e também da discriminação que sofremos até hoje”. Esse é o pedido da empreendedora capixaba Karinny Queiroz, de 42 anos. Além das flores, jantares e outros mimos que receberá nesta sexta-feira (8) em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, ela sabe que é preciso muito mais. “Há alguns anos, por exemplo, me senti discriminada durante um processo seletivo, quando me perguntaram se eu pretendia ter filhos. Como isso ainda pode ser mais importante do que a capacidade para desempenho da função?”, questionou.
Segundo a vendedora aposentada Rosária Canton Grise, de 65 anos, a situação já melhorou muito em relação à década de 80 – quando ela ingressou no mercado de trabalho no lugar de um homem -, mas ainda não é a ideal. “Na época, fui escolhida para gerenciar os negócios em Curitiba e demitiram o gerente anterior. Todos achavam que eu não merecia e me tratavam mal por ser mulher e ter tirado a vaga de um chefe de família”, relata a aposentada, que nunca desanimou.
Segundo ela, outras mulheres foram contratadas no decorrer dos anos, mas ainda existe desigualdade de salários dentro das empresas e, principalmente, falta de segurança dentro e fora de casa. “Já fui assaltada várias vezes porque a mulher acaba sendo uma vítima mais frágil”, relata Rosária, que fica indignada ao ver atos de violência doméstica se tornarem cada vez mais comuns.
Foto: Cassiano Rosário
Foto: Cassiano Rosário
E é para discutir maneiras de vencer essa violência e garantir todos os diretos do público feminino que 8 de março foi escolhido como Dia Internacional da Mulher. Nessa data, em 1857, mais de 100 operárias morreram queimadas em uma fábrica têxtil de Nova York, nos Estados Unidos, ao reivindicarem a redução da jornada de trabalho – que era de 14 horas – e também o direito à licença-maternidade.
Após a morte das operárias, o mundo prestou mais atenção à desigualdade entre os gêneros e, em 1910, o Dia da mulher foi estabelecido durante um congresso na Dinamarca para realizar, anualmente, diversas conferências, debates e reuniões que abordassem o papel da mulher na sociedade.
Hoje, 109 anos após o estabelecimento da data, ainda há mulheres que sofrem com a violência masculina, baixos salários e outras desvantagens na carreira profissional. Por isso, o Viver Bem conversou com algumas guerreiras da atualidade para saber o que essa data representa na vida delas. Confira:
Maria Goretti Graunke, de 55 anos, está desempregada e aproveita o Dia da Mulher para lembrar que ela é guerreira e não pode desistir. Foto: Cassiano Rosário
Maria Goretti Graunke, de 55 anos, está desempregada e aproveita o Dia da Mulher para lembrar que ela é guerreira e não pode desistir. Foto: Cassiano Rosário

“O Dia da Mulher me lembra como a mulher é sofredora, e eu sou uma delas. Tenho 55 anos e estou há três anos tentando conseguir um emprego, mas não desisto. Saio todos os dias às 6h e distribuo currículos porque sou uma mulher guerreira do mesmo jeito que tantas outras que já lutaram antes de nós”, relatou Maria Goretti Graunke, que procura uma vaga de auxiliar de limpeza.

(Maria Goretti Graunke tem 55 anos e está desempregada)

A advogada Edna Cardoso fez Direito na época em que as mulheres não tinham nenhum espaço no mercado de trabalho.<br> Foto: Arquivo Pessoal
A advogada Edna Cardoso fez Direito na época em que as mulheres não tinham nenhum espaço no mercado de trabalho.
Foto: Arquivo Pessoal

“Sou muito satisfeita por ter nascido mulher. Quando entrei na universidade, poucas garotas estudavam e tinham apenas três mulheres na minha classe. Depois, para entrar no mercado de trabalho, senti dificuldade porque somente as mulheres que tinham ajuda de algum familiar conseguiam espaço, mas eu venci sozinha e isso só me traz orgulho. Sou feliz por ter vivido na época do cavalheirismo, por ter vencido na carreira e agora por ver as mulheres conquistarem seu espaço, quase em igualdade para com os homens. O Dia da Mulher nos lembra disso: a liberdade conquistada”.

(Edna Cardozo Dias, advogada e doutora em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)

A curitibana Natasha Becca, de 19 anos, vê o Dia da Mulher como um lembrete de quão incríveis as mulheres podem ser. Foto: Cassiano Rosário
A curitibana Natasha Becca, de 19 anos, vê o Dia da Mulher como um lembrete de quão incríveis as mulheres podem ser. Foto: Cassiano Rosário

“Todo ano, vejo o dia 8 de março como um dia especial para lembrar que nós, mulheres, somos incríveis, guerreiras e devemos nos amar. Já lutamos muito e merecemos tudo o que conseguimos, inclusive, os presentes que sempre recebemos neste dia. Eu, por exemplo, vou me presentear!”.

(A vendedora e atleta Natasha Becca tem 19 anos e mora em Curitiba – PR)

A professora Verônica Álvares, de 56 anos, vai passar o Dia da Mulher cuidando da saúde da mãe e da irmã: “isso é ser mulher”. Foto: Cassiano Rosário
A professora Verônica Álvares, de 56 anos, vai passar o Dia da Mulher cuidando da saúde da mãe e da irmã: “isso é ser mulher”. Foto: Cassiano Rosário

“Para mim, esse dia mostra a solidariedade, o cuidado, a resiliência e a superação da mulher. Eu estou cuidando da minha mãe, que sofre de Mal de Alzheimer, e estou com minha irmã internada na Unidade de Terapia Intensiva, mas não desisto. Faço de tudo para atendê-las porque isso também é ser mulher”.

(Veronica Álvares Cançado mora em Curitiba, tem 56 anos, é professora e psicóloga)

Foto: Cassiano Rosário<br>
Foto: Cassiano Rosário

“Dia 8 de março marca um dia de reflexão e profunda alegria. Reflexão porque ainda é preciso reafirmar que temos direito à igualdade no mercado de trabalho, a ocupar espaços de poder e termos respeitadas nossa escolhas profissionais, pessoais e familiares. Mas também é um dia de orgulho porque muito do que temos hoje no mundo é fruto do empenho cotidiano de nós, mulheres. Eu me orgulho de ser mulher no mundo contemporâneo gerando ideias, projetos, conhecimento, um mundo melhor e ainda, se eu quiser, novas vidas”.

(Gladis Kaersher é doutora em Educação e moradora de Porto Alegre – RS)

A estudante Maria Alicia (ao centro) é uma garota cheia de sonhos e orgulha as madrinhas Graça de Aquino (à esquerda) e Jayne de Aquino (à direita). Foto: Cassiano Rosário
A estudante Maria Alicia (ao centro) é uma garota cheia de sonhos e orgulha as madrinhas Graça de Aquino (à esquerda) e Jayne de Aquino (à direita). Foto: Cassiano Rosário

“Acho muito importante representar as mulheres porque elas estão à frente da sociedade, já se superaram e mostraram que podem fazer muito mais. E isso é o que eu quero fazer: escrever minha própria história”

(Maria Alicia de Carvalho tem 12 anos e mora em São Miguel – RN)

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

“O Dia da Mulher significa um marco do empoderamento feminino e eu vou passar meu dia de folga, com meus filhos e meu marido. Ser mulher nunca foi um empecilho para mim. Fui criada para ser independente e levei isso ao pé da letra. Casei com um homem maravilhoso e tenho dois filhos homens que, desde já, sabem que têm que respeitar as mulheres e valorizá-las como qualquer ser humano. Então, meu recado para mulheres é esse: você pode ser o que quiser e onde quiser. Seja você! Seja mulher poderosa!”

(Fernanda Catharino é pediatra e mora de Niterói – RJ)

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