Comportamento

Por que comemorar o Dia das Mães se tornou um dilema para as escolas?

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
09/05/2018 11:00
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As comemorações e eventos relacionados ao Dia das Mães devem sair do calendário escolar? Foto: Bigstock

Não há como negar: as famílias mudaram, a rotina familiar também. E essas mudanças vem refletindo diretamente nas instituições de ensino. É o que acontece, por exemplo,  com comemorações antes tradicionais, como Dia das Mães e Dia dos Pais, e que algumas escolas já substituíram pelo Dia da Família ou outras maneiras de lembrar a data.
Muitas escolas, porém, ainda se mantêm firmes à tradição e não dispensam os encontros e apresentações para emocionar as mamães. O Viver Bem conversou com representantes de instituições de ensino e mães que dispensam ou não abrem mão da data para levantar a questão de como essa mudança está sendo recebida pelas famílias. Acompanhe:
Seguindo a tradição
No Colégio Expoente, o Dia das Mães é celebrado de forma bem tradicional: durante a semana as crianças preparam os presentes e capricham nos ensaios para que na festa (que este ano será realizada no sábado, dia 12) a surpresa seja digna de sorrisos e lágrimas. “Até já pensamos em mudar a forma de comemorar, mas decidimos manter o formato. Sabemos que as famílias mudaram, mas optamos em manter esta homenagem porque as mães adoram.
Elas se emocionam, agradecem a escola e realmente ficam esperando. É uma das datas mais importantes do calendário”, conta Simone Kleina Machado, coordenadora da Educação Infantil e Fundamental 1 do Colégio Expoente – Unidade Água Verde.
A fisioterapeuta Siomara Holzmann, mãe da Giulia, de 6 anos, confirma esta expectativa. “O Dia das Mães é muito especial para mim, não me imagino não comemorando esta data com minha filha desta forma. Eu sempre quis ser mãe, ser chamada de mãe e comemorar assim. E vejo o quanto ela curte este momento que é só nosso. Já estou morrendo de curiosidade para saber o que será feito neste ano”, conta ela, que diz que entenderia se a escola optasse por outro formato, mas que sentiria falta.
Silmara e a filha: O dia das Mães é um momento. Foto: Arquivo pessoal
Silmara e a filha: O dia das Mães é um momento. Foto: Arquivo pessoal
Simone explica que o trabalho com as crianças começa com bastante antecedência. “Escolhemos a música da apresentação e elas ensaiam para apresentar para as mães. Fazemos também os presentes que serão entregues para elas, trabalhando o lado artístico. E durante toda a semana que precede, vamos propondo atividades para que elas façam em casa com as mães, como fazer uma massagem, contar uma história. Tudo isso vais fortalecendo a imagem desta figura tão importante e resgatando sutilezas, o que na verdade é até mais importante que a própria festa”, valoriza Simone.
A educadora não vê problemas em manter este tipo de comemoração, mesmo nos casos em que as mães não possam estar presentes. “Buscamos homenagear a figura materna, mesmo que não seja a mãe propriamente dita, as crianças podem agradar alguém que cumpra este papel e seja importante na vida delas”, sugere. E nos casos em que, por qualquer razão, as mães não possam estar presentes, ela conta que nem por isso as crianças são excluídas dos ensaios e preparativos. “Mesmo que não estejam na festa, elas podem levar os presentes e cantar a música que ensaiamos em casa.”
Acolhendo a diversidade
No Centro Educacional Infantil Semeador do Saber a comemoração do Dia das Mães nunca foi da forma mais convencional. “Não fazíamos apresentações, até porque entendemos que as crianças não precisam passar por este processo, já que não são elas que escolhem o que vai ser feito e de que forma será. Por isso optamos em preservar as crianças”, conta a diretora, Fabiana Carvalho Dalla Costa.
A abolição da festa do Dia das Mães, no entanto, é mais recente. “Antes costumávamos fazer, mas fomos acompanhando as mudanças e deixamos de fazer festas de Dia das Mães e Dia dos Pais. A família não é mais a mesma, hoje há famílias em que as mães criam os filhos sozinhas, ou os pais o fazem, famílias em que as avós assumem o papel de mãe, ou que há duas mães, dois pais. Foi respeitando esta mudança que decidimos não fazer”, justifica.
A decisão foi absorvida de forma tranquila pelos pais. “Quando cheguei na escola e vi a forma como ela decidiu lidar com isso, comecei a pensar no assunto, porque até então não havia pensado nisso. Foi um processo legal, de me apropriar desta preocupação com as crianças que não têm mãe e com os formatos diferentes de família”, conta Esther Siza Tribuzy, mãe de Aurora, de 4 anos, e que está grávida do Joaquim.
“A escola é um conjunto de atributos e o fato de ela se importar com famílias diferentes é um destes”, afirma ela, que diz que não sente falta da comemoração tradicional.
Esther e a família:
Esther e a família:
A data, porém, não passa em branco na escola. “As crianças preparam um presente para dar para as mães ou para quem ama, no caso de quem não tem a mãe por perto. Mas toda proposta vem delas, cada turma escolhe o que vai fazer. São coisas simples, e elas fazem do jeito que dão conta e que acham legal”, conta a diretora Fabiana.
Sobre a valorização dos laços familiares, ela afirma que de forma alguma eles ficam prejudicados, e diz que existe um dia específico na escola para celebrar a família.
“Trazemos todos para dentro da escola, pais, avós, tios, primos, madrinhas, padrinhos. Desta forma a criança se sente acolhida. E mais importante que trabalhar um dia específico, valorizar a família é fazê-la pensar no papel ela tem na educação desta criança, se é realmente presente ou se está meramente cumprindo um protocolo. Aqui na escola felizmente vemos bem este papel, os pais realmente estão presentes”, orgulha-se.
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