Comportamento

Do silêncio à festa, como diferentes culturas vivenciam o luto

Da redação
02/11/2016 09:00
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Tradicionalmente, mexicanos se vestem com fantasias de caveira no 'Día dos Muertos' (Foto: reprodução página de turismo México)

Homenagear a memória de quem esteve entre nós e já partiu é uma prática presente em diferentes culturas, cada uma com características distintas. Aos cristãos, a morte não é o fim e nem precisa ser encarada como algo ruim, embora o Dia de Finados, celebrado no dia 2 de novembro, seja dedicado ao silêncio e oração. Acima de qualquer religião, os mexicanos transformam o Dia dos Mortos em festa, pois a crença é de que os mortos viriam visitar os parentes vivos entre os dias 1 e 2 de novembro.
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Confira como diferentes culturas lembram e celebram a vida de quem já partiu:

México

Entre os dias 1 e 2 de novembro, os mortos teriam a permissão divina para voltar e visitar parentes e amigos vivos, segundo a crença dos mexicanos. Para receber esses parentes, os vivos enfeitam as casas com flores, velas e incensos, preparam as comidas preferidas de quem partiu e usam máscaras de caveira, vestem roupas pintadas de esqueleto ou mesmo usam fantasias de morte.
As festas do Día de Muertos começam a partir do dia 31 de outubro, coincidindo com o Dia das Bruxas ou Halloween.
Preparar os alimentos preferidos dos parentes e amigos que já se foram faz parte da tradição (Foto: reprodução da página de turismo México)
Preparar os alimentos preferidos dos parentes e amigos que já se foram faz parte da tradição (Foto: reprodução da página de turismo México)

Judeus

Você sabia que é costume da tradição judaica fazer um rasgo na roupa de quem está de luto? O ritual é chamado de keriá e seria um sinal tradicional de luto desde os tempos bíblicos, conforme informações da Associação Religiosa Israelita Chevra Kadisha, no Rio de Janeiro. Esse ritual seria uma forma de descarregar a dor e a angústia com a perda do familiar ou amigo.
Outro costume é que as pessoas que acompanham o caixão façam rápidas paradas antes de chegar ao túmulo. Essas paradas, simbolicamente, demonstrariam a relutância dos parentes em se separarem do falecido. O enterro também é feito sem enfeites, flores ou ornamentos no caixão, respeitando o falecido pela simplicidade. Os judeus não cultuam os mortos, mas diante da morte reafirmam a vida, e traduzem a memória em ação.
Durante sete dias, depois do enterro, os enlutados judaicos ficam em casa, e não fazem qualquer atividade profissional ou de lazer. Nesse período, chamado de shivá, os parentes e amigos visitam e três vezes por dia, pela manhã, tarde e à noite, realizam-se serviços religiosos.
(Foto: Wikipedia)
(Foto: Wikipedia)

China

As tradições de luto e enterro na China se diferenciam de acordo com a idade do falecido, a causa da morte, o status de relacionamento e o status social de quem morreu. Os rituais também mudam conforme a região do país, e muitos chineses seguem as tradições de religiões ou crenças específicas, como o budismo e cristianismo.
De forma geral, a cerimônia do funeral dura sete dias, e os enlutados usam roupas conforme o relacionamento que tinham com quem faleceu. Os filhos e filhas usam roupas em preto e/ou branco, e caminham na frente da procissão para o cemitério. Netos e netas usam azul. O uso da cor branca simbolicamente lembra a morte, enquanto o vermelho está mais relacionado a momentos felizes, como casamentos. O número três é bastante significativo na cultura chinesa, e é costume que as pessoas façam três vezes um mesmo gesto.
O anúncio do falecimento é feito em forma de convites, enviados aos parentes e amigos. Os convites são geralmente brancos, mas se a pessoa tiver mais de 80 anos, podem vir em rosa. Viver mais de 80 anos é considerado uma característica digna de celebração, e os enlutados celebram mais a longevidade da pessoa do que o falecimento.
(Foto: Pinterest)
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Islã

Entre os muçulmanos, o momento do luto não deve ter alteração da voz de lamentação, mas que seja vivenciado com equilíbrio e discrição. Ao receber os pêsames dos amigos e familiares, o enlutado comporta-se pacientemente e espera que Deus o console. Por respeito ao defunto, é importante que os preparativos para o funeral e para a amortalha sejam feitos rapidamente.
Um dos deveres religiosos descritos pela religião islâmica é a oração do funeral, de obrigação coletiva. Se for executava por um muçulmano, as outras pessoas estão isentas. Geralmente, a pessoa em vida escolhe quem irá orar sobre seu corpo durante o funeral. Depois dessa pessoa, a sequência segue por preferência ou pela própria ordem, começando pelo dirigente ou delegado, pai da pessoa falecida, avô ou bisavô, filho do falecido, neto ou bisneto e então os mais parentes mais íntimos.
Assim como em outras religiões, os jazigos islâmicos não recebem muitos ornamentos. Todos os muçulmanos são enterrados da mesma forma, com simplicidade e sem diferenciações. É possível colocar flores sobre as sepulturas. Nos dias seguintes ao funeral, os familiares fazem leituras do Alcorão em casas e mesquitas, em reuniões discretas, além de realizarem doações a comunidades carentes.
(Foto: VisualHunt)
(Foto: VisualHunt)

Cristianismo 

Para os cristãos, o enlutamento é relembrado durante o Dia de Finados e a data é dedicada à orações e homenagens a quem já partiu. As homenagens vem em diversas formas, como a decoração dos túmulos com flores, queima de velas e orações. Essas são as demonstrações de carinho e respeito mais comuns, que acontecem durante todo o dia 2 de novembro, conforme informações do Crematório Vaticano.
Embora não seja tão lembrada, no dia 1 de novembro celebra-se o Dia de Todos os Santos, que é considerada uma data importante aos católicos. É neste dia que se celebra a honra de todos os santos e todos os mártires, sejam eles conhecidos ou não.
Além da lembrança do falecido, o Dia de Finados é considerado pelos cristãos como um momento importante para aprender com as perdas e as situações da vida, proporcionando crescimento e encontrar respostas para valorizar a vida que temos.
(Foto: Marco Andre Lima / Agencia de Noticias Gazeta do Povo)
(Foto: Marco Andre Lima / Agencia de Noticias Gazeta do Povo)