“Ninjado”, “zoado”, “bugado” e até o “nada” não são expressões simples no mundo das crianças. São, para elas, sentimentos, emoções e sensações – tudo que as ajudam a explicar o que sentem aos adultos desacostumados com uma linguagem mais solta. Fernanda Salgueiro se deparou com essas palavras durante as oficinas que ministra em escolas, hospitais e bibliotecas públicas, de Curitiba e cidades de São Paulo, para crianças de cinco a 13 anos de idade e, curiosa com as definições que as crianças davam a cada expressão, transformou todas em um livro, o Dicionário Ilustrado dos Sentimentos (na fase final de edição).
Separados por ordem alfabética, como qualquer dicionário, os sentimentos recebem três explicações importantes. O primeiro é uma definição mais de “adulto”. Em seguida é a explicação para os “amigos” e depois a forma adequada de usar aquele sentimento em uma frase. “A ansiedade, por exemplo, na definição geral é apresentada com uma história: ‘você já viajou de carro com a sua família e perguntou mil vezes para os seus se estavam chegando? Esse sentimento é a ansiedade’. Na definição das crianças: ‘Fico ansioso antes de a professora falar a nota da prova'”, relata Fernanda.
Dos 12 sentimentos inicialmente oferecidos pela autora às crianças para serem discutidos, eles se multiplicaram em 42 sensações diferentes. Muitos deles, explica Fernanda, precisam de uma mente aberta por parte dos adultos.
“Um dia, no hospital Pequeno Príncipe, uma criança falou que o sentimento que ela sentia era de urgência. Lá é um ambiente em que essa palavra é mais usada e quando ela explicou o que significava para ela, fez todo o sentido. Ela tinha que passar aquele dia em jejum para um procedimento e a urgência era a fome”, explica a autora. “Em uma escola, uma criança disse que ‘nada’ era um sentimento e isso é perfeito! Porque o ‘nada’ é muito sentimento. Sempre temos aquele dia que nos perguntam como estamos, o que temos, e nós dizemos: nada!”, completa Fernanda.
Sentimentos não são difíceis de serem explicados às crianças, segundo a autora, mas os adultos precisam achar as formas certas de entenderem o que elas querem dizer. E, no geral, as crianças trazem sentimentos, sensações e emoções muito próximos da felicidade.
“A felicidade apareceu muito quando eu pedia para que elas escolhessem um sentimento. Quando apareciam sentimentos mais de tristeza, a criança tentava contar a própria história através de um relato. Um menininho dizia que a criança triste do desenho dele estava assim porque havia ficado de castigo, porque os pais tinham brigado com ele, porque, afinal, ele tinha tirado uma nota baixa no colégio”, relata a autora.
Ciúme, ao lado da felicidade, é outro sentimento muito comum, principalmente nas crianças mais novas. “Ciúme do irmão, ciúme da família, do melhor amigo que foi brincar no recreio com outro amigo. Isso está muito presente e elas sabem identificar. Às vezes, porém, misturam tudo na tristeza. Ansiedade é tristeza, ciúme é tristeza, frustração é tristeza também”, conta Fernanda.
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