Comportamento

O irmão caçula está chegando. Veja sinais de ciúme e como contorná-lo

RBS, por Leandro Rodrigues
09/03/2019 09:00
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Estudos mostram que, a partir dos quatro anos, a criança tende a lidar de maneira mais positiva com a chegada do irmão. Foto: Bigstock

Faça um exercício mental sincero antes de avançar na leitura desta reportagem. Feche os olhos e se imagine no centro das atenções de quem mais importa no mundo para você.
Sinta toda essa satisfação e se deixe dominar pela segurança de não haver nada no mundo capaz de separá-los. Bom, né? Agora, visualize a chegada de outro convidado nessa relação, alguém que vai dizer “ei, eu vou tirar essa atenção”.
Se um indivíduo maduro capaz de ler esse texto já pode sentir desconforto com a situação, o que dizer de uma criança de poucos anos de idade? Sim, a palavra certa é ciúme, e se trata de uma das reações mais naturais de filhos únicos que ganham um irmãozinho ou irmãzinha. Para evitar que esse sentimento avance e prejudique os pequenos, é preciso atenção.
Que nenhum pai ou mãe leve as mãos à cabeça perguntando onde foi que errou. Com o nascimento do caçula, sentir um pouco de ciúme é inevitável de acordo com psicólogos. “Trata-se de algo comum desde que o mundo é mundo. Afinal, quem de nós não quer ser único? É muito provável que, em algum momento, o irmão mais velho demonstre esse ciúme. Haverá outra festinha de aniversário que não a dele e, por exemplo, uma outra dinda que trará presente para o afilhado que não é ele”, exemplifica a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Fadergs Ana Cláudia Menini Bezerra.
Segundo Ana Cláudia, pesquisas sobre o tema apontam que crianças menores podem reagir pior à chegada do irmãozinho por um medo real de separação da mãe.

“Aos três anos, a criança geralmente já está frequentando a escolinha. Então, ela vivencia uma separação dos pais, e a chegada do caçula pode se somar a esta fase delicada”, explica a psicóloga.

Os mesmos estudos mostram que, a partir dos quatro anos, a criança tende a lidar de maneira mais positiva com a chegada do irmão.

Participação

É por isso que a psicóloga defende que os pais tratem a situação com normalidade, o que não significa agir como se nada estivesse acontecendo.
Alguns sinais de que o ciúme chegou podem ser notados quando o filho mais velho retoma comportamentos que havia abandonado: usar bico, querer voltar a dormir na cama dos pais ou voltar a fazer xixi na roupa.
Nessa hora, atitudes simples podem ser colocadas na rotina e espantar o sentimento. Tudo vai se encaminhar melhor se, já na gestação, o assunto for tratado pelos pais.
Embora entre os adultos a infecção não seja muito preocupante, entre bebês -- cujo sistema imunológico ainda não está completamente formado -- a doença pode ser fatal. Foto: Bigstock
Embora entre os adultos a infecção não seja muito preocupante, entre bebês -- cujo sistema imunológico ainda não está completamente formado -- a doença pode ser fatal. Foto: Bigstock

“O ideal é inserir a criança na gestação do irmãozinho ou irmãzinha, ajudando na escolha do enxoval, participando de uma ecografia. Relembrar todo o processo de sua chegada, mostrar que ela teve esse mesmo carinho e cuidado que está tendo o caçula”, afirma a psicóloga e diretora financeira da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul Ivete Kemper.

Mas Ivete alerta: é preciso respeitar o tempo da criança mais velha, jamais forçá-la a fazer o que não quer. Com preparação antes do parto e atenção em casa, os pais têm tudo para lidar com a situação e fazer o ciúme do mais velho virar apenas fruto de boas risadas entre os irmãos no futuro.
Se o assunto não for bem conduzido, há riscos. Ivete lembra de um caso que chegou a seu consultório anos atrás: a irmãzinha mais velha estava machucando o bebê.

“Ao investigar melhor aquele caso, percebi que os pais lidavam de uma forma errada com o ciúme. Valiam-se muito de advertências verbais, de deixar de castigo, e menos de tentar entender o que estava acontecendo. Acabavam apenas reforçando a revolta da mais velha”, diz ela.

Melhores amigos

Foi assim, desde a gestação, que a securitária Marcela Souza Pereira e o professor Michael Gomes, ambos com 36 anos, apresentaram o irmãozinho a caminho ao filho mais velho, Vicente, de quatro anos: era o melhor amigo dele que estava chegando.
Os pais acreditavam que esse era uma das estratégias para criar vínculo saudável entre os irmãos. Mas não imaginavam o efeito que haveria no dia de levar o filho para conhecer o recém-nascido.

“Achava que ele ia sentir muito a falta da mãe dele, fazia dois dias que o Vicente não a via. Aí, veio a surpresa. Quando entrei no quarto e a mãe foi abraçá-lo, o Vicente passou por baixo das pernas dela e correu para o irmão dizendo: “Meu mano! Meu mano!”. Não queria saber de mamãe, de papai, só queria saber do mano. Eu me arrepio com isso”, lembra Michael.

Falar do irmãozinho como o melhor amigo foi parte dos cuidados. Nesse mesmo dia, antes de levá-lo ao hospital, o pai entregou um presente que disse ser dado por Inácio.
Nas primeiras semanas, com Marcela focada na amamentação, Michael centrou atenções em Vicente para minimizar qualquer sentimento de abandono. E para envolver familiares e amigos, o casal estabeleceu uma regra para as visitas que vinham conhecer o novo morador.

“Quem entrava aqui em casa, primeiramente, tinha de dar um beijo no Vicente. Depois, sim, ir ver o Inácio”, conta o pai.

Não deixe o mano ser sinônimo de “estorvo”

A mãe afirma que todo o plano nasceu a partir de conversas com outras mães, amigos, vizinhos e familiares. Uma das decisões do casal, por exemplo, foi evitar pedir a Vicente qualquer coisa para o irmão, como pegar um paninho.
“Decidimos não pedir para o Vicente pegar isso, pegar aquilo. Se ele quiser, pode pedir para ajudar. Isso, para o Vicente não associar o irmão a um estorvo, a algo que faça ele parar de brincar. É muito legal, porque ele pede mesmo para ajudar”, conta Marcela.
Para não dizer que a nova configuração familiar não teve nenhum efeito, ela lembra uma semana em Vicente teve mudanças no comportamento:

“Houve uns dias em que ele fez xixi na roupa do nada, no meio da sala, algo que não acontecia. E, na escolinha, a professora relatou ele mais bravo. A gente conversou com ele, ficamos atentos, e não durou mais do que isso, uns dias.”

Foto: Bigstock
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Sinais de que o ciúmes chegou
– Retomar comportamentos que já havia abandonado.
– Fazer xixi na cama ou na roupa.
– Desejo de querer dormir com os pais.
– Chamar inúmeras vezes os pais à noite.
– Querer voltar a usar o bico.
– Agressividade em casa ou na escolinha, mudança brusca de humor sem motivo.

Como lidar com a situação em casa

Durante a gestação
– Fazer o mais velho participar da gestação, tratar a gravidez do caçula como algo bom, como um grande amigo que vai chegar.
– Convidar a criança para escolher as cores do quarto do caçula, por exemplo, é uma estratégia que ajuda a criar vínculo entre os irmãos.
– Aproveitar cada momento de preparação para a chegada do novo filho para contar ao mais velho como foi na primeira gravidez. Exemplo: Na hora de montar o enxoval, contar para a criança como foi quando ela era o bebê que estava chegando.
Com o caçula já em casa
– O casal deve cuidar para dividir as atenções, pode ser a hora do pai ficar mais atento ao mais velho. Mas, atenção: não é quantidade de tempo com o mais velho que importa, mas a qualidade. É hora de deixar o smartphone de lado.
– Não faça comparações entre as crianças, elas são muito diferentes, e isso pode abalar a auto estima da mais velha.
– Evite chamar a atenção da mais velha para fazer silêncio, brincar em outro local ou outro tipo de reprimenda. O ideal é mudar o mínimo possível a rotina da casa.
– Incentive a admiração mútua, elogiando os pontos fortes de cada um.
– Faça programas só com a criança mais velha, como levá-la ao cinema, por exemplo.
– Quando o mais novo estiver maior, crie situações para que eles trabalhem em equipe, como em jogos e brincadeiras.
– Trate com normalidade eventuais brigas. Elas são normais e fazem parte do desenvolvimento. Ou seja, irão acontecer mais cedo ou mais tarde.
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