Comportamento
No escurinho da sala de cinema, um filme é capaz de nos transportar para lugares longínquos, fantásticos – e algumas vezes incrivelmente familiares. Isso acontece pela identificação que se cria entre o espectador e a história que está sendo contada. Muitos filmes que concorrem neste domingo ao Oscar, inclusive devem levar a esta conexão “Quando se estabelece essa identificação, nos vemos no lugar daquele personagem que está sendo projetado na tela. Sentimos que aquela história é, ou poderia ser, a nossa. E isso termina provocando uma tomada de consciência”, explica o crítico de cinema Marden Machado.
Qualquer forma de arte é capaz de inspirar reflexões e, a partir daí, transformações. “Mas, no cinema, a união de som e imagem é muito poderosa. Sem contar que os bons filmes trazem sempre, de maneira bem clara, a visão de mundo do diretor. Inconscientemente, é como se ele fosse um amigo querido narrando uma experiência vivida ou que pode vir a ser vivida por nós”, opina Marden.
A personagem de Mia Farrow em A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, uma garçonete que se refugia da dura realidade na sala de cinema, é surpreendida ao ver seu herói sair da tela e lhe oferecer uma nova vida. Algo semelhante ocorreu com o educador Giancarlo Yamamura Bardelli que, na adolescência, se inspirava nos heróis dos filmes e viu no mestre Mr. Keating, de Sociedade dos Poetas Mortos, a imagem do professor que desejaria se tornar. “Adulto, passei a gostar mais de filmes pela sua estética, sua capacidade de representar a diversidade das relações humanas e a complexidade de sua psicologia”, conta.
A frustração do casal vivido por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em Foi Apenas um Sonho serviu de alerta para o casal Karine e Caetano Borio. Ao contrário dos personagens, eles não permitiram que as atribulações da vida os impedissem de realizar o sonho de viver alguns anos na Europa. Ilvor José Sauer, por sua vez, retira dos filmes a inspiração para cada novo passo que dá em sua vida. “Há uma aura de magia no cinema difícil de explicar, que nos faz fugir um pouco da vida real por um flash de luz. O cinema está comigo e me faz ser outro e outro”, resume.
O repórter e crítico de cinema do Caderno G, Paulo Camargo, seleciona cinco filmes que ajudam a refletir sobre questões como relação filial, amizade, tolerância e valores morais.
Tolerância
Intocáveis (França, 2011), direção de Olivier Nakache e Eric Toledano. Quando Philippe (François Cluzet), um aristocrata um tanto arrogante, fica tetraplégico após um acidente de paragliding, a chegada de um cuidador (Omar Sy) de origem africana muda sua vida. Além de aprender a lidar com alguém tão diferente, ele descobre que esse contato com a alteridade pode fazê-lo mais feliz e menos isolado do mundo.
Amizade entre mulheres
Thelma & Louise (Estados unidos, 1991), de Ridley Scott. Vencedor do Oscar de melhor roteiro original, o hoje já clássico road movie de Ridley Scott traz Geena Davis e Susan Sarandon em estado de graça, nos papéis de duas mulheres que se rebelam contra as formas de opressão de que são vítimas e, juntas, embarcam em uma aventura sem volta. Descobrem a liberdade e a força da cumplicidade que as uniu.
Pai e Filho
Nebraska (Estados Unidos, 2013), de Alexander Payne. No meio do caminho entre o drama e a comédia, o filme descreve, com humor agridoce, a jornada de reconciliação entre o velho mecânico Woody Grant (Bruce Dern), um sujeito amargo e corroído pelo alcoolismo, e seu filho, o vendedor de eletroeletrônicos David (Will Forte), que enxerga no pai um modelo negativo. Concorre a seis Oscars neste ano, incluindo melhor filme, direção e ator (Dern).
Brasil de hoje
O Som ao Redor (Brasil, 2013). Direção de Kléber Mendonça Filho. Representante do Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro, o que acabou não acontecendo, O Som ao Redor discute temas bastante contemporâneos. Entre eles, a perpetuação no poder das oligarquias regionais e o esvaziamento do público em detrimento da defesa a qualquer custo do privado, sobretudo entre setores mais abastados da sociedade brasileira.
Valores
Em um Mundo Melhor (Dinamarca, 2010), direção de Susanne Bier. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, este drama dinamarquês retrata o dilema de Anton (Mikael Persbrandt), um bem-intencionado médico que trabalha em um campo de refugiados na África, mas parece não se dar conta do que está acontecendo em casa, com sua própria família. Está se separando contra a vontade da mulher e seu filho mais velho, Elias (Markus Ryggard), enfrenta bullying na escola, em uma situação que levará a família a repensar seus valores e fortalecer seus laços.
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