Aposentada viaja sozinha e dá dicas para que outras mulheres façam o mesmo
Flávia Schiochet
09/08/2018 07:00
Silvana Gonçalves no aeroporto em Marrocos. Foto: Arquivo pessoal
Ela tinha 19 anos quando comprou um pacote para conhecer três capitais do Nordeste, em 1984. A Silvana Gonçalves daquela época não sabia que essa seria a primeira das inúmeras viagens que faria sozinha. À época morando em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a Silvana de 53 anos de hoje lembra, aos risos, das aventuras pelas quais passou viajando por 30 países, boa parte deles sem companhia.
Nas páginas do passaporte, carimbos dos Estados Unidos, Canadá, México. Pela Europa, rodou pelo Reino Unido, Espanha, França, Bélgica, Itália, Alemanha, Áustria, Suíça, Holanda, Suécia, Finlândia e Noruega. Também conheceu a Rússia, República Tcheca, Estônia e Letônia. Turquia, Marrocos e o sul da Ásia em uma mesma viagem: Tailândia, Malásia, Singapura e Indonésia.
“É muito importante você gostar da própria companhia e se divertir consigo mesma, rir das situações que aparecem”, incentiva. Para quem sempre trabalhou com público — Silvana é gerente de banco aposentada — viajar sozinha é também uma maneira de ampliar o leque de amigos e experiências únicas.
Por exemplo: ela não tem vergonha alguma de perguntar a outras pessoas que viajam sozinha se ela pode se juntar à mesa ou ao grupo. “Minha natureza é ser desenrolada. Viajar acompanhada… às vezes não dá muito certo”, explica, mencionando questões como horários, paciência para pegar fila e escolhas de roteiro, restaurantes e hotéis, por exemplo.
Para quem começou a viajar aos 18 anos, uma de suas primeiras experiências marcantes foi logo no ano seguinte, quando conheceu Recife, Natal e Salvador. Nos últimos dias da viagem, durante um passeio de barco pela ilha de Itaparica, uma bronzeada Silvana descansava no convés. Sem notar, havia sentado em cima da bermuda de um rapaz. Um pedido de licença dele virou uma conversa e os dois mantiveram contato. Viraram namorados. “Casei com ele e ficamos 11 anos juntos”. Assim como surgiu um pretendente, “estar aberta às possibilidades”, também lhe rendeu muitos amigos, de todas as nacionalidades. Não raro, hospeda-os em sua casa em São Paulo, onde mora há 25 anos.
Sua meta é conhecer pelo menos 50 países. E, para isso, segue duas regras: não repetir países e pagar todas as parcelas da viagem anterior antes de planejar a próxima. Em outubro vai ao Egito e começou a pagar em julho as parcelas das passagens e da estada. Depois das primeiras viagens por agência, ela começou a organizar por conta própria o roteiro e a comprar passagens e reservar hotel por conta própria.
Mais que países, a turista inveterada perdeu as contas de por quantas cidades brasileiras já passou. “Conheço bastantes capitais, para tudo quanto é lado do Brasil eu já fui. Mas eu sou bem urbana, para mim dois dias no mato é o suficiente”, brinca. A escolha por centros urbanos é reflexo de uma vida em cidade pequena. “Como eu morava no interior, tinha aquele sonho de ver como as outras pessoas vivem, quais as dificuldades que os outros têm. É isso que me move para estar viajando”, conta. E por que esperar coincidir as agendas com alguma companhia para fazer as malas?
O primeiro passo
Sua primeira viagem sozinha para fora do Brasil foi após o divórcio, quando comprou passagens para Cancún, no México. “Eu pensei ‘Quer saber? Não vou deixar de fazer o que eu gosto por causa de outras pessoas'”. E foi curtir o balneário mexicano por conta própria.
Nos últimos tempos, com a função de síndica do prédio e visitas quinzenais à sua mãe em Ribeirão Preto, Silvana consegue encaixar viagens de finais de semana pelo Brasil, às vezes de ônibus, carro ou excursão. Ela aproveita até as escalas internacionais para fazer turismo. “Ano passado fui à Rússia e a escala era em Nova York. Eram dez horas de espera até o voo. Não tive dúvidas: peguei o metrô e dei uma volta na Sétima e Quinta Avenida, tirei umas selfies, almocei e voltei para o aeroporto. Sempre dou umas escapadas”, conta, bem-humorada.
O próximo destino é o Egito, com escala em Dubai por dois dias para que a turista possa aproveitar mais um pouquinho antes de voltar para casa. “Acho que estou no quarto passaporte. Mas ainda tem bastantes páginas”, brinca a viajante.
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Conselhos para viajar sozinha
Silvana Gonçalves organizou uma lista para mulheres que querem começar a viajar sozinhas
1. Ao escolher o local, pesquise os costumes locais, a religião predominante e detalhes sobre a cultura. Desvencilhe-se de preconceitos e respeite a cultura do país a ser visitado. 2. Saiba qual o seu mínimo de conforto. Para mim, é hotel, chuveiro privativo e wi-fi. 3. Escolho sempre hoteis centrais e que tenham fácil acesso a transporte público. 4. Gosto de fazer pelo menos um city tour nos primeiros dias para ver quais lugares quero conhecer e quais são seguros para circular sozinha com calma. 5. Além de agendar todas as estadias, tente agendar também translados entre aeroporto e estadia para fazê-lo em segurança. 6. Dependendo o destino, leve remédios e itens de higiene pessoal porque pode não ser fácil encontrar uma farmácia. 7. Aprecie o novo. Não se irrite, você está de férias. 8. Bata muitas fotos (sempre tem um turista para ajudar). 9. Leve sempre uma cópia de segurança de vouchers, passaporte, passagens, endereço e telefone do consulado brasileiro na mala. 10. Preserve-se. Respeite seus limites onde quer que você vá.